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13 Reasons Why – Fita 1 a 7

Por: em 5 de abril de 2017

13 Reasons Why – Fita 1 a 7

Por: em

Alexandre: Uma das melhores séries do ano até aqui, 13 Reasons Why estreou no fim de semana e, desde então, não se falou em outra coisa. A história das fitas de Hannah ganhou uma dimensão que poucas séries novatas (mesmo as Originais Netflix) ganharam e é muito interessante tentar entender os motivos por trás disso. 13 Reasons Why não é só puro entretenimento. Por trás de tudo que vimos nessas 13 horas, existem lições importantes, discussões necessárias e, principalmente, muita reflexão. Não dá pra passar pela série sem tirar algo dela. Sem aprender alguma coisa ou até mesmo repensar outras tantas.

Thaís: Quem matou Hannah Baker? Após a exibição dos 13 episódios da série, a conclusão óbvia é que aquelas 12 pessoas, contempladas pelas fitas, são as culpadas pela morte da menina. E elas são. Mas é mais complexo que isso. Talvez a pergunta correta seja: o que matou Hannah Baker? Como desconsiderar o impacto da nossa sociedade — tóxica, preconceituosa, machista, racista, homofóbica, que se recusa a discutir questões de gênero, ou a falar sobre doenças psicológicas, e normatiza violência e indiferença —na construção daqueles jovens? Como desconsiderar que vivemos em um ciclo de agressões, podendo ser ao mesmo tempo vítimas e algozes? Nada disso exime alguém da culpa, mas 13 Reasons Why nos faz perceber que é necessário quebrar esse ciclo de violência, impedindo o surgimento de novas Hannahs, Justins, Jessicas, Alexs e afins.

Cada uma das fitas de Hannah está cheia de questões importantes a serem discutidas e chegou a hora de falar sobre elas.

Fita 1 – Justin #1

Como falei no texto de Primeiras Impressões, 13 Reasons Why se destacou logo de cara por mostrar que era uma série que não tinha medo de por o dedo na ferida. Quando Clay recebe a caixa com as fitas e já descobrimos nos primeiros minutos o formato que o programa irá seguir, fica claro o quanto aquelas fitas são mais que fragmentos de história: São a narração de como, pouco a pouco, os estudantes de Liberty High apagaram a luz (e por consequência, a vida) de uma garota que tinha no rosto um sorriso, na alma uma alegria genuína e toda uma vida pela frente. O roteiro do episódio piloto, inclusive, merece elogios por conseguir apresentar o “plano” de Hannah de gravar as fitas e se certificar que seus 13 “porquês” a ouvissem e ainda assim, retratar bem a primeira das fitas.

A primeira fita é dedicada a Justin Foley, astro do time de basquete e garoto popular da escola. Quando Hannah inicia a fita narrando o primeiro encontro na festa e a paixão juvenil que rapidamente floresce por Justin, já fica o prenúncio de que algo ruim irá acontecer e que aquilo será o primeiro passo que levará até o suicídio da garota. É muito interessante a profundidade que o texto do episódio consegue apresentar na retratação do relacionamento dos dois, reforçando a ingenuidade de uma Hannah recém chegada a cidade e o modo como um Justin mal intencionado não apenas tirou uma foto da garota, em um momento em que eles pareciam estar se divertindo, como também deixou que a mesma fosse espalhada e que os boatos que os dois transaram ganhassem corpo e vida, o que fez com que a garota, de cara, já sofresse um pesado slutshaming em seus primeiros dias num novo lugar. Por decidir que Hannah era alguém que não merecia sua defesa, Justin se tornou o primeiro dos porquês.

O contraste disso com a Hannah que grava as fitas também é apresentado no episódio. Enquanto aquela primeira Hannah carregava nos olhos o brilho da inocência e a esperança de ter uma adolescência comum, a Hannah que vemos gravando a fita ouvida por Clay é uma Hannah decidida, com cabelos mais curtos e sem luz... como se já estivesse morta, por dentro e por fora. Retratar muito bem essa diferença (graças também a uma excelente montagem de cenas dos dois tempos) foi uma das coisas que fez do piloto um dos melhores episódios.

Além de tudo isso, a fita de Justin também fez com que percebêssemos o quanto Clay estava afetado por tudo que aconteceu e, assim como a Hannah das fitas, parecia carregar nos ombros o peso de tudo o que aconteceu. O olhar melancólico, o medo de seguir em frente com as fitas e a cara de assustado ao constatar que Tony também estava envolvido na história foram alguns dos trunfos da série para fazer com que o seu protagonista masculino não fosse tão menos interessante do que Hannah – o que ela, com sucesso, conseguiu.

Por: Alexandre

Fita 2 – Jessica

Amizades são complicadas e muitas vezes podem machucar. É sobre isso a segunda fita deixada por Hannah Baker. Ou, pelo menos, é isso que as aparências dizem, mas há muito mais ali. Ainda assim, antes que me adiante, é necessário voltar (mais uma vez) no tempo e nos encontrar com uma Hannah que, embora machucada e humilhada, ainda tinha esperanças. Boa parte disso se devia aos novos amigos: Jessica Davis e Alex Standall. Apesar das diferenças, os três adolescentes – que compartilhavam o fato de serem novos na cidade – criaram um laço de afeto e podiam lidar com qualquer problema com duas canecas de chocolate quente e o que quer que Alex estivesse bebendo (#FML).

Em um mundo ideal, esse seria o começo de uma linda e duradoura amizade. No entanto, nós sabemos que essa história não tem um final e feliz e, como já era esperado, o mundo cor de rosa de Hannah acabou ruindo mais uma vez. Começou com Alex, que logo se afastou e fez novos “amigos” – mas falarei sobre isso mais tarde – e depois se estendeu para Jessica. E logo Hannah estava novamente sozinha.

Jess, por sua vez, afirma que foi a própria Hannah quem abandonou os encontros no Monet’s e é aí que surge uma questão extremamente importante. Por mais que Jessica possa estar mentindo, Hannah não é uma narradora confiável (nenhum de nós é). Isso, de modo algum, quer dizer que ela mente. Apenas que narra os fatos a partir de sua perspectiva, algo que a faz ignorar alguns detalhes e nos limita a forma como ela encara a vida e aquelas pessoas. Não digo isso com o intuito de diminuir seu relato, muito pelo contrário, as fitas mostram como ela se sentia e reagia àquelas situações, como coisas que podem parecer pequenas a destruíram aos poucos. As fitas contam a verdade de Hannah e ela é legítima e real. Ainda assim, essa não é necessariamente a verdade de Jessica (que também é legítima e real). Cada pessoa é um mundo e exercitar a empatia é justamente o que a série nos propõe.

De qualquer forma, as duas garotas se afastaram, mas não para por aí. Jessica logo começou a namorar Alex, fazendo com que Hannah se sentisse ainda mais solitária e excluída. O pior golpe, no entanto, foi ser culpada (mesmo sem ter feito nada) quando o romance chegou ao fim. Dando ouvido a rumores e acreditando na “reputação” – que Justin ajudou a criar – da ex-amiga, Jessica presumiu que Hannah – a suposta “vagabunda” – havia dormido com seu namorado e chegou a lhe dar um tapa, destruindo qualquer laço entre as duas, partindo o coração daquela que um dia foi sua melhor amiga e fazendo com que a menina se sentisse pequena, humilhada e agredida. Mais uma vez, Hannah foi deixada em uma posição em que precisava encarar o mundo, que parecia estar contra ela, sozinha.

Por: Thaís

Fita 3 – Alex

“Mas era só uma brincadeira. Certo, Alex? Acha que estou levando tudo muito a sério? Mas é o seguinte: você nunca foi uma garota.”

A terceira parte dessa história acontece em paralelo com a segunda. As histórias de Hannah, Alex e Jessica não podem ser dissociadas, e o que podia ter sido uma bela amizade acabou fazendo com que os três se tornassem pessoas quebradas. Todo esse desastre foi ocasionado por Alex e os ideais machistas enraizados no garoto. Como mencionado anteriormente, ele e Jessica começaram um relacionamento amoroso, mas, após a menina se recusar a transar com ele, o rapaz resolveu se vingar. Vamos começar por aí. Em uma sociedade que propaga um ideal tóxico de masculinidade, garotos são condicionados a pegar o que querem – sem se preocupar com as garotas que vão destruir no caminho – e a acreditar que têm direito de conseguir o que desejam e quando desejam. Aprendemos desde cedo que os sentimentos importantes e relevantes no mundo são os masculinos. Sendo assim, quando suas vontades não são atendidas, muitos homens se tornam violentos. É o que vemos acontecer com Alex.

Após ter seu desejo por sexo negado, ele resolve machucar Jessica. E mesmo que não a agrida fisicamente, a violenta emocionalmente, ao colocá-la em uma lista que aponta que a menina tem a pior bunda do colégio. Mas não para por aí. Não basta destruir a auto-estima de Jess ou humilhá-la, ele precisa a deixar furiosa. Então, coloca Hannah na lista, na posição contrária, algo que, além de ser um dos fatores que irá destruir sua amizade com Jessica, também a machuca e violenta. Diferentemente do que muitos, incluindo o próprio Clay, possam acreditar, não há qualquer elogio em estar naquela lista. Hannah foi objetificada, reduzida a uma característica física e, consequentemente, constantemente assediada – tanto por palavras quanto fisicamente.

Alex, ainda que não intencionalmente, começou isso. Ao dar à Hannah o “título” de melhor bunda, ele fez com que toda a humanidade, essência e personalidade da menina desaparecessem aos olhos dos outros. A transformou em objeto para os garotos do colégio e, como objeto, ela podia ser observada de forma lasciva, tocada e abusada. Tudo isso, somado a reputação de “fácil” que Justin criou para ela e ao contexto machista, no qual a menina estava inserida, tornou  a rotina de Hannah violenta, de um modo que nenhum homem jamais experimentou ou experimentará.

No entanto, ainda é necessário tecer notas sobre Alex. O garoto, à primeira vista, não se encaixa nos padrões de masculinidade tóxica vigentes, embora continue tendo os padrões machistas bem enraizados em si, mas na tentativa de se encaixar no grupo dos rapazes populares e socialmente aceitos – exemplos claros de “pura testosterona” – deixa que acreditem que dormiu com Jessica e Hannah. Afinal, fazer sexo com o maior número de garotas – veja bem, garotas e não garotos –, ocultar as emoções e perpetuar brutalidade é o que homens fazem, mais do que isso, é o que os faz homens. Essa é claramente uma ideia violenta, que cria homens que violentam mulheres. Alex, apesar de todo o jeito de cara legal, não escapou dessa regra e, de uma única vez, violentou Hannah e Jessica. Dessa forma, aquela que deveria ser uma brincadeira inocente (em sua maldade) acabou tendo consequências gigantescas. Algo que Alex jamais entenderia, porque, como homem, jamais conseguiria compreender o que é ser uma garota, o que é ser chamada de vagabunda, reduzida à aparência (para o bem ou para o mal), assediada e objetificada. Hannah sentiu tudo isso na pele. Para Alex restou uma culpa esmagadora e a vontade de desfazer o que havia feito. Infelizmente já não era possível.

Por: Thaís

Fita 4 – Tyler

Depois do slutshaming de Justin, dos julgamentos de Jessica e da lista de Alex, a quarta fita de Hannah veio com um tom um pouco mais pesado e creepy, apresentando Tyler, um garoto solitário e que andava pra cima e pra baixo com sua máquina fotográfica, tirando fotos de tudo e de todos – mesmo daqueles que não lhe concediam essa autorização, como foi o caso de Hannah. O motivo para Tyler estar nas fitas já fica claro quando percebemos o quanto Hannah fica constrangida ao perceber que está sendo fotografada e observada por alguém – na língua de hoje, sendo stalkeada, da forma mais invasiva e cruel que alguém pode ser.

É muito interessante observar como, nessa fita, o quadro depressivo de Hannah evolui muito. Ainda não é nada perto do que deve aparecer mais adiante, mas as falas – tanto nos acontecimentos expostos como na gravação das fitas – já não são mais fortes, a solidão e a angústia já parecem um sentimento constante e as feições mais tristes já são maioria. Ser perseguida por Tyler jogou mais sal na ferida que Justin, Jessica e Alex abriram sem perceber e a reação de Courtney, até então sua nova amiga, só piorou tudo ainda mais.

Foi por medo da reação dos outros (e também por uma boa dose de falta de coragem de se autoentender) que Courtney abandonou Hannah quando a foto das duas se beijando foi vazada por um Tyler ressentido por ser rejeitado por Hannah – algo que qualquer pessoa faria depois de descobrir que está sendo espionada e tem fotos suas tiradas. Mais uma vez, a garota se viu sozinha, abandonada, tendo nos momentos com Clay no trabalho um dos poucos momentos de felicidade no seu dia-a-dia.

O episódio também mostra a progressão e o efeito que as fitas tem feito em Clay. Sua reação ao espantar os garotos da frente da casa dos Baker, o contraste de intercalar o momento do passado em que usa a foto das garotas para seu prazer com a cena do presente em que, abalado pelo que ouviu, deleta a pasta com fotos eróticas e a conversa com Liv são um ótimo exemplo de como a experiência tem feito com que o garoto se questione muita coisa em sua própria vida e ainda não tenha encontrado o equilíbrio ideal para enfrentar aquela situação, o que certamente contribuiu para a decisão de divulgar uma foto íntima de Tyler para toda a escola. E é aqui, através dessa atitude, que podemos ver outra qualidade da série: Destituindo Clay do papel de bússola de moral que até então vinha sendo ensaiado, 13 Reasons Why mostra que nada é preto no branco, que todos estão suscetíveis a erros e que qualquer um, mesmo sem perceber, pode ser um porquê na vida de alguém.

Por: Alexandre

Fita 5 – Courtney

Depois de ser apresentada na fita de Tyler, Courtney logo em seguida “ganhou” sua vez, em um dos episódios que foi, bem fácil, um dos meus favoritos da série. A sequência de abertura, antes de Clay começar a se dar conta de que é um pesadelo e acordar, é uma das mais bonitas, com os dois tendo um breve momento de paz – ainda que em sonho – e sendo apenas os adolescentes que deveriam ter sido, se a situação fosse outra (leia-se: Se Hannah tivesse sido tratada de uma maneira diferente ou tivesse conseguido uma ajuda, um suporte… não tivesse tido sua vida esvaída, pouco a pouco).

O caso de Courtney configura-se muito mais como covardia do que como pura maldade. Talvez o fato mais pesado depois do slutshaming que Justin começou e deixou acontecer, Courtney preferiu atacar uma garota que já estava se sentindo um lixo ao invés de assumir sua sexualidade ou tentar enfrentar os olhares e julgamentos dos outros. O que é mais dolorido nisso tudo foi ver que durante todos os momentos narrados na fita, Hannah tentou ser forte pelas duas. Mesmo sentindo-se cada vez mais julgada e atacada, Hannah quis ser forte pelas duas. Quis enfrentar tudo aquilo, porque acreditava que Courtney valia a pena, por acreditar que ela precisava de ajuda e de uma amiga, por não querer deixá-la sozinha. Em troca, a garota inventou mentiras, espalhou que Hannah e Justin haviam transado e que a foto era ideia dela, revivendo o pesadelo – até então adormecido – da garota.

O momento do presente em que Clay a leva até o cemitério e a força a confrontar o peso de suas atitudes é um dos mais pesados. É doloroso demais ver no choro da garota o quanto ela quis ser forte e não conseguiu. O quanto ela não queria que seus pais (gays) sofressem com o julgamento que aconteceria se sua homossexualidade viesse a tona. Courtney foi um porquê, um sério porquê, mas o fez com medo de acabar sendo uma Hannah. Uma coisa está longe de justificar a outra, mas ao menos ajuda a jogar uma luz e uma profundidade maior na história e mostram o quão bem cuidado o texto e a construção da série são.

Vale ressaltar também aqui o quanto a cruzada pessoal de Clay ganha novas dimensões e é bem interessante que ele tenha Tony para tentar freá-lo e protegê-lo, já que um perturbado Justin mostra-se cada vez mais disposto a tentar fazer com que ele pare. É interessante notar o quanto isso também tem afetado Alex, que parece cada vez mais angustiado com a pressão de tudo que está acontecendo. No fim das contas, no que concerne a Clay, é bacana mostrar que combater bullying com mais agressividade e julgamento como o garoto vem fazendo até aqui está longe de ser a solução. O choro silencioso e de partir o coração no banheiro na cena final mostram que, talvez, ele tenha entendido isso.

Por: Alexandre

Fita 6 – Marcus

Um dos personagens mais misteriosos até então, Marcus ganhou sua própria fita para provar que, no fim das contas, diferente de alguns que podem ganhar o benefício de ser vistos com olhos de dúvida, ele foi o responsável por colocar o prego final na vontade de Hannah de se relacionar com outras pessoas. Reforçando a objetificação pesada que a garota já estava sentindo, ele terminou não apenas de destruir a reputação dela na escola, mas também por lhe roubar um pouco da alegria de tentar encontrar um relacionamento e minar todo o pouco restinho de auto-estima que tinha – o que ajudou a agravar seu quadro de depressão.

O que eu acredito que torna a culpa de Marcus um pouco pior do que a de alguns outros é que, no caso dele, não parece ter faltado comunicação maior (como Jess) ou não havia um background pessoal mais pesado (como Courtney). Ele foi babaca com Hannah por puro e simples querer. Por acreditar que estava fazendo um favor a garota convidando-a pra sair, por achar que poderia deixá-la 3 horas esperando e exigir dela algum tipo de atenção ou reação… por simplesmente sentir-se superior a ela e encarar tudo aquilo como uma caridade. Como se Hannah fosse indigna de mais do que isso. Tratar pessoas assim por simplesmente se achar superior (seja por ser popular ou qualquer outro motivo)… é de embrulhar o estômago.

E de revoltar-se, como Alex mostrou vir fazendo. Depois de Clay, sua reação as fitas tem sido as mais interessantes. Enquanto Jessica, Courtney , Justin e Zach parecem decididos a calar a boca de Clay e insistem na ideia de que Hannah contou mentiras, Alex sabe a culpa que tem. Sabe o peso que carrega nos ombros, a dor de ter sua parcela de culpa no suicídio da garota e a hipocrisia que todos tem cometido. Sua reação ante o “julgamento” do conselho depois de sua briga com o insuportável do Montgomery mostra que Alex tem sido tão afetado quanto Clay e, cedo ou tarde, vai acabar explodindo.

Outro ponto bem bacana levantado é a relação dos pais com os filhos, algo que a série vem mostrando há alguns episódios, mas que ganha cada vez mais força. Seja no sofrimento dos pais de Hannah pela falta de respostas, no desespero dos pais de Clay por saber que há algo errado com o garoto e não conseguir chegar até lá… E até mesmo nos problemas desestruturais de Justin ou no pai preocupado de Alex… Todos estão sempre tentando alcançar os filhos e aquilo que eles sentem, mas nunca o conseguem. Quando a mãe de Clay pede que ele deixe as portas abertas, a metáfora é tão forte que incomoda. Se faltou a Hannah com os seus colegas de escola o diálogo para impedir seu suicídio, esses pequenos momentos reforçam que essa falta de conversa é algo muito, mas muito maior. E que nós sabemos que vai muito além do que a série mostra.

Por: Alexandre

Fita 7 – Zach

Uma vez eu li em algum livro que o mal do século é a solidão e se existe algo que pode resumir a 7ª fita de 13 Reasons Why, dedicada  a Zach, seria esta frase. Até então, pouco tínhamos visto do garoto e tirando os momentos em que acabava se deixando levar por Justin e Bryce, Zach sempre se mostrou um bom garoto, com um coração no lugar. O mais interessante dessa fita é que é a primeira vez que vimos, por A + B, que existe algo além daquilo que Hannah nos conta – sem diminuir, em momento nenhum, a importância e a verdade daquilo que ela narra nas fitas.

O que Zach fez foi horrível. Para uma garota como Hannah, a beira da depressão, sem amigos e com o mundo desmorando, um elogio faz toda a diferença e roubar aqueles que ela poderia receber durante o trabalho sem dúvida alguma foi não só de uma infatilidade tremenda, como mais um gatilho para jogar a garota no fundo do poço do qual ela não conseguiria mais sair. Aqui, não dá pra justificar as influências dos garotos ou do meio. Zach fez tudo porque queria se vingar, porque sentiu que queria machucar Hannah. Mas o que, no final, aparentou estar por trás de tudo isso foi o que realmente me quebrou.

Perceber que, no fim, Zach era alguém tão solitário quanto Hannah me deu uma nova dimensão do personagem. Em momento algum diminuindo sua culpa, é triste demais o momento em frente a casa de Clay onde ele mostra que nunca jogou fora a carta que ela lhe escreveu e deixa claro que pensou em conversar com ela e ajudá-la. De todos da gangue dos babacas, Zach era aquele que poderia entendê-la, por no fundo também ser um forasteiro… por se sentir excluído, se sentir não-pertencente. A diferença entre os dois é que Hannah nunca quis abrir mão de sua essência para tentar se encaixar em nada, enquanto Zach parece ter se mutilado totalmente por dentro para ser aceito. Talvez seja ingenuidade, mas eu prefiro acreditar nisso. Prefiro acreditar que, por trás do babaca que roubou os elogios que poderiam salvar a vida de uma garota, existia um menino solitário e assustado.

É importante falar que a fita do garoto também mostra cada vez mais a culpa que a escola tem no que aconteceu. Zach tem sua parcela por saber que o bilhete pedindo ajuda era de Hannah, mas que a professora tenha recebido algo assim, claramente algo tendendo pro suicídio, e que não tenha feito nada… É incompreensível e, mais do que isso, revoltante.

Clay mostra aqui que segue cada vez mais perturbado com os acontecimentos. Os sonhos lúcidos com Hannah e com todos os outros que estão nas fitas mostram que o quadro psicológico do garoto se tornou cada vez mais instável, algo totalmente compreensível. É impossível não destacar, além das discussão com Tony (que só aparenta querer ajudá-lo até agora, diferente de todo mundo) o surto diante dos alunos intercambistas, falando sobre o armário de Hannah e como ela morreu porque todos na escola a trataram como um pedaço de lixo. Das cenas mais fortes, impactantes e reais até aqui.

Por: Alexandre


Logo menos, publicaremos a outra parte da review da temporada, com o restante das fitas. Até aqui, o que achou da série? Comenta com a gente e vamos discutir tudo de interessante que a série tem!


Thais Medeiros

Uma fangirl desastrada, melodramática e indecisa, tentando (sem muito sucesso) sobreviver ao mundo dos adultos. Louca dos signos e das fanfics e convicta de que a Lufa-Lufa é a melhor casa de Hogwarts. Se pudesse viveria de açaí e pão de queijo.

Paracatu/ MG

Série Favorita: My Mad Fat Diary

Não assiste de jeito nenhum: Revenge

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