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A Netflix e a Concorrência: melhora ou satura o mercado?

Por: em 16 de novembro de 2017

A Netflix e a Concorrência: melhora ou satura o mercado?

Por: em

Em agosto nós discutimos sobre a situação financeira da Netflix e como sua estrutura de negócios pode vir a significar o fim da empresa. Nos comentários da análise, a maior discussão se concentrou no fato de que um bom número de serviços de streaming competidores podem trazer vantagens para o consumidor, com mais opções para escolha e mais estilos de séries em produção. Vamos avaliar quais são as perspectivas desse novo quadro?

Divulgação/Netflix (Defensores – franquia da Disney que corre perigo que não continuar com a Netflix)

Em agosto, o anuncio de que a Disney não renovará o contrato com a Netflix e iniciará seu serviço de streaming próprio abriu os olhos dos brasileiros para a possibilidade de competição, porém, nos Estados Unidos, isso não é novidade. A Amazon Prime é uma de suas maiores competidoras e, até o momento, a única também disponível no Brasil, oferecendo um serviço e catálogo extremamente parecidos com a Netflix, principalmente após iniciarem a produção de séries próprias, como o sucesso American Gods.

Apesar de seus modelos de negócios totalmente diferentes, a competição direta da Netflix é a HBO, principalmente no que se diz respeito à premiações e visibilidade de conteúdo exclusivo. Com o advento do app HBOGo, a possibilidade de séries como Game Of Thrones algum dia estarem disponíveis via Netflix se tornou nula. E outras redes como a FOX e a NBC também estão começando a lançar seus próprios aplicativos, restringindo o acesso à sua biblioteca de títulos.

No Brasil, monopólio de conteúdo não é nenhuma novidade. A rede Globo sempre foi muito protecionista com relação as suas produções. Porém, antes ainda era possível acessá-las de forma gratuita via web, com intervalos e picotados. Agora, há um boa parte da programação com acesso exclusivo apenas para assinantes de televisão a cabo ou para quem tem uma conta Globo via app Globo Play.

Quem chegou correndo pela beirada foi a Hulu, com uma estratégia bem diferente. Parceria de grandes redes americanas (ABC, FOX, NBC e Time Warner), é um serviço via assinatura que exibe comerciais. O atrativo é que os episódios são disponibilizados no dia seguinte à exibição na televisão. Porém, com o inicio da produção de series próprias de enorme sucesso, ela se mostra uma adversária digna de preocupação (a grande vencedora do Emmy 2017 The Handmaid’s Tale que o diga).

Reprodução/Amazon prime+HBO+Hulu (American Gods/Game Of Thrones/The Handmaid’s Tale)

Pois bem, agora que conhecemos as peças da equação, vamos analisar qual é a situação atual de quem realmente importa: nós, os consumidores. O mercado de serviços streaming ainda engatinha no Brasil e a Netflix é praticamente a única opção viável para a maior parcela da população. Por um preço relativamente acessível, quem tem acesso a internet com velocidade constante pode usufruir de uma boa coleção de títulos.

Infelizmente, esbarramos em um grande problema, que é a cultura nacional de não valorizar o que não é físico (por que vou pagar por algo que posso consumir de forma gratuita?). A Netflix modifica o valor de sua assinatura de forma muito espaçada, mas cada vez que um aumento é anunciado, a quantidade de reclamações no Twitter da empresa é absurda. Muitos clientes entendem que o valor já é muito alto pelo serviço oferecido e que estão sendo extorquidos.

Recentemente, a prefeitura de São Paulo aprovou lei que atribui ainda mais impostos para serviços de streaming. Esse acúmulo de taxas fatalmente resultará em novos ajustes de preços – porém, com o excesso de opções, mais baratas ou não, a rotatividade de clientes se tornará constante. Sem conseguir manter uma base segura de assinantes, mais aumentos acontecerão e o ciclo se repetirá até que a Netflix tenha que se retirar do país, pois não será mais rentável.

Reprodução/Netflix (o cancelamento fácil pode ser o maior inimigo da empresa)

Quando colocamos a concorrência nessa equação, a situação piora. Vejam: se já é complicado se manter no país sem concorrência direta disputando um público extremamente exigente e restrito, como farão quando houver três serviços similares para escolha? Será que valerá a pena manter vários serviços similares ativos, sendo que o valor total será igual ao de uma televisão por assinatura?

Sob o ponto de vista de maior oferta, é muito difícil enxergarmos um cenário benéfico para o consumidor. Hoje em declínio, possuir televisão por assinatura já foi sinônimo de status. Os valores cobrados ainda são muito altos e, para piorar a situação, para ter acesso a certo conteúdo é necessário adquirir um pacote especial, elevando ainda mais o valor final. O aumento da oferta de serviços de streaming pode nos levar à mesma situação.

Imaginem que temos 10 serviços de streaming ativos, cada um deles com uma série exclusiva que está causando muito burburinho nas redes sociais. Para assistir às séries, você tem que pagar uma assinatura de R$30,00 cada. O  valor total ficará exorbitante. Você tentará incluir toda essa despesa extra no seu orçamento ou escolherá manter apenas o serviço que melhor atende às suas necessidades e ficar por fora das grandes novidades? Ou pior: recorrerá à pirataria?

O Brasil é o país que mais faz downloads ilegais no mundo, a frente de Rússia, Índia, Austrália, China e os Estados Unidos. A justificativa que eu mais ouço é que a demora em disponibilizar as séries é muito grande e ninguém mais tem paciência de esperar a tão mal falada “janela de exibição”. Porém, quando a série finalmente chega por meios legais, ninguém assiste, pois já consumiu o produto e agora estão interessados em outra coisa. Só em 2016, foram perdidos mais de US $ 26,7 bilhões pela pirataria. Como os executivos podem se sentir seguros em investir no país e liberar mais material, se o público alvo não dá retorno?

Reprodução/Google Trends (o pico na semana de 05 de maio é quase todo do termo “netflix assinatura cancelamento”)

O melhor exemplo é o caso de Sense8, que tinha popularidade online imensa, mas poucas pessoas se tornaram clientes pagantes para acompanhá-la, muitos recorrendo a meios alternativos ou criando novas contas para aproveitar do período grátis oferecido pela Netflix. É impossível que a série fosse mantida, já que não gerava lucro.

Quero deixar bem claro que não sou a favor de monopólio e também concordo que uma quantidade saudável de concorrência será boa (afinal, ela já nos proporcionou presentes maravilhosos como The Handmaid’s Tale e American Gods), o problema está na proliferação desenfreada de pequenos serviços que diluirão os investimentos e, consequentemente, resultarão em empresas quebradas e clientes insatisfeitos.

E não é apenas uma visão pessimista minha: já está acontecendo nos Estados Unidos. Em 2015 a NBCUniversal criou a Seeso, serviço de streaming exclusivo para séries de comédia, com exibição de conteúdo exclusivo desde 2016. Em agosto de 2017 foi anunciado que encerrarão as atividades ao final do ano. A NBC não é uma empresa pequena, de modo algum, mas nem mesmo eles conseguiram se manter competitivos perante a concorrência, deixando pelo menos três produções em andamento e sem distribuição (a série de temática lésbica Take My Wife está com a 2ª temporada pronta para exibição, mas sem casa).

Divulgação/Netflix+Seeso (Orange Is The New Black/Take My Wife – ambas séries com temática lésbica)

É impossível determos esse crescimento, afinal, todas as empresas querem uma fatia do mercado criado pela Netflix. Porém, depende de nós, consumidores, demonstrarmos qual é o balanço ideal para que elas continuem existindo. O dinheiro que pagará por esses novos investimentos é nosso, portanto, temos que estar atentos para que o serviço prestado seja de qualidade e tenha preço justo.

O que pensam sobre o assunto? Será que eu fui muito pessimista nessa análise? São a favor ou contra a multiplicação de serviços de streaming? Acham que os valores estão muito caros para o produto oferecido? Deixem suas opiniões nos comentários.


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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