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A Netflix e o cancelamento: a bolha está para estourar?

Por: em 22 de agosto de 2017

A Netflix e o cancelamento: a bolha está para estourar?

Por: em

2017 tem sido um bom ano para os negócios da Netflix (sim, ela se identifica no feminino), com o anúncio de 104 milhões de usuários mundialmente – um aumento de 25% em relação a 2016. Ao mesmo tempo, a notícia de que possui mais de U$ 20 bilhões em débito assusta e choca. Como pode fazer tanto dinheiro e ainda assim dever tanto dinheiro? Até quando esse modelo de negócios será sustentável?

O primeiro sinal amarelo percebido foi a quantidade inesperada de séries originais sendo canceladas sem um final digno. Gypsy e Girlboss foram canceladas pouco tempo após a exibição inicial. The Get Down foi cancelada após uma segunda leva de episódios extremamente elogiados, mas com valor de produção muito alto e pouco retorno em expectadores (sejamos francos, quem você conhece que assistiu essa série?).

Reprodução/Google Trends

O cancelamento de Sense8 foi um grande espanto, devido o enorme sucesso entre os assinantes brasileiros. Porém, ao levarmos em consideração que a série era filmada em 16 cidades ao redor do mundo e todo o elenco principal participava de todas as cenas, seu valor de produção era astronômico. Ao mesmo tempo, uma série de produção simples como 3% deu quase o mesmo retorno em número de expectadores. Vejam o gráfico acima e comparem o interesse das séries no Brasil. Desconsiderando o tráfego sobre o cancelamento de Sense8, ambas tinham interesse praticamente idêntico onde mais fizeram sucesso pelo mundo.

Houve cancelamentos antes desses, mas não foram tão sentidos, ou porque suas produções foram avisadas que teriam uma última temporada e puderam encerrar seus arcos principais (Hemlock Grove e Bloodline), ou porque o ínfimo número de expectadores não justificava a continuidade (Lilyhammer e Marco Polo). O problema não está no cancelamento em si, mas sim na imagem da empresa que, por anos, convenceu os assinantes de que não era como uma emissora de televisão, inclusive revivendo séries pelo forte apelo dos fãs (Arrested Development e Gilmore Girls).

Mas, por que essa mudança tão repentina no tratamento de seus originais? Pois bem, parece que a Netflix chegou a um momento onde precisa ser mais responsável com seus gastos, ou não conseguirá manter-se competitiva. É impossível continuar investindo U$ 9 milhões em um episódio de Sense8 sendo que apenas brasileiros assistiam a série, quando um episódio de House of Cards custa U$ 4 milhões e tem um alcance global muito maior. Mesmo durante o período do cancelamento de Sense8, o interesse na série de Kevin Spacey foi mais que o dobro.

Reprodução/Google Trends

Já é de conhecimento geral que os executivos da Netflix acreditam na máxima que é preciso gastar dinheiro para fazer dinheiro. A previsão é que sejam investidos U$ 7 bilhões em conteúdo, com quase metade desse valor em conteúdo original, o que, apesar do risco, é uma boa estratégia, principalmente após o anúncio do rompimento da parceria por parte da Disney, que lançará seu próprio serviço de stream.

Esse é outro problema grave que devem enfrentar em um futuro próximo, pois, apesar de chamarem suas séries de “originais”, a Netflix possui apenas os direitos de distribuição mundial. Semana passada foi o lançamento de Defensores, mas a série é produzida pela ABC Studios com base em uma propriedade da Marvel, que fazem parte do conglomerado Disney. Será que após o termino do contrato inicial (que encerra em 2019), todas essas séries serão automaticamente transferidas para a Disney? E as temporadas que estão com a Netflix? Serão retiradas do catálogo?

Ao mesmo tempo em que perder essas franquias significa diminuição de gastos em curto prazo (por não precisarem mais pagar direitos), elas são grande parte do atrativo para que os clientes mantenham suas assinaturas. Para continuarem relevantes e “obrigatórias” no imaginário público, terão que investir ainda mais e ser mais independentes de estúdios externos.

A primeira comparação que vêm à mente é a HBO, que tem décadas de catalogo próprio armazenado, material indispensável para fãs de séries – incluindo a gigante Game of Thrones – ainda assim, mais da metade do seu conteúdo (tanto do canal a cabo quanto do aplicativo HBOGo) é licenciado de parceiros externos.

Reprodução/Netflix – Haters Back Off, Okja e 3%

É possível que a resposta para os problemas estejam no mercado internacional. Pela primeira vez a quantidade de assinantes estrangeiros é maior do que os domésticos, com mais de 52 milhões fora dos Estados Unidos É por isso que filmes como Okja, com foco no mercado Sul Coreano, e a brasileira 3%, que também conquistou bons resultados pelo mundo, são importantes na sedução e fidelidade desse novo público.

O que a empresa precisa aprender é como investir seu dinheiro de maneira mais eficiente ao invés de atirar para todos os lados. Talvez não seja interessante financiarem muitas séries como Haters Back Off, que tem custo de produção baixíssimo, mas público alvo muito fechado nos Estados Unidos, mercado já saturado, dando espaço para mais projetos locais com foco no mercado internacional. Grandes projetos como Sense8 devem ser evitados ao máximo, priorizando aqueles com apelo mais amplo, como 13 Reasons Why ou Stranger Things.

Aqui não cabe a discussão sobre a qualidade dos projetos. The Get Down é sem sombra de dúvidas um material de extremo bom gosto, porém não conseguiu atrair público suficiente para justificar seu investimento milionário. Ao mesmo tempo, as comédias da maior estrela da Netflix, Adam Sandler, sempre são responsáveis por um grande aumento no número de assinantes na época do lançamento. De um ponto de vista administrativo e lógico: qual das duas é mais viável?

Divulgação/Netflix – The Get Down e The Do-over

Uma boa aposta para o futuro seria a construção de um complexo para produção de material próprio, ao invés da compra fechada dos direitos de distribuição. Cada série tem um valor de licenciamento específico que não é divulgado pela Netflix e esses valores só devem aumentar com os anos, principalmente agora que as produtoras estão cientes do alcance da empresa e como forma de proteger seu negócio. Entendam: com a venda global, as produtoras perdem quaisquer ganhos extras na revenda de suas produções pelo mundo; assim, a única forma de manter esse lucro é repassando o valor para a Netflix.

Outra aposta está na formação de parcerias com outras empresas, como forma de obter um fluxo contínuo de capital. Por exemplo: e se, ao invés de canais com péssima recepção em hotéis, os hóspedes tivessem acesso ao vasto catálogo da Netflix? Os clientes de hotéis ficariam mais felizes e os negócios estariam garantidos por mais alguns anos sem percalços.

Porém, é muito possível que a maior preocupação venha da quantidade de concorrentes. A Netflix criou o nicho de assinaturas para exibição em stream, porém, se gigantes como Google ou Apple decidirem entrar no mercado, com o dinheiro que têm à disposição, a sobrevivência será muito complicada. Uma opção seria a aquisição de sites com menor abrangência (como o CBS All Access) como forma de diminuir a competição e, ao mesmo tempo, aumentar o catálogo à disposição.

A Netflix é responsável por uma das maiores revoluções desse século a respeito de como consumimos entretenimento. Porém, se não aprender a utilizar seus recursos melhor, é muito provável que, em um futuro não tão distante, repita a história da Blockbuster e seja esquecida pelo público enquanto outra empresa floresce sobre seus restos mortais.

O que vocês acham que acontecerá com a Netflix? Existe perigo de a empresa quebrar ou tudo não passa de gente com muito tempo de sobra e que adora uma teoria da conspiração? Deixem suas opiniões nos comentários.


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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