Após dedicados anos acompanhando as hilárias histórias de vida em todos os seus aspectos, profissional, familiar e amorosa, dos cinco melhores amigos de How I Met Your Mother eis que o anuncio da temporada final da sitcom de grande sucesso não foi encarada com surpresa, pelo contrário, com muita expectativa, finalmente teríamos a conclusão da história como um todo e, principalmente, de uma saga particular e assustadoramente verdadeira em seu cerne em busca do amor verdadeiro que levou anos demais para ser contada, visto que, já estávamos bastante cientes do ”final” desde o início do show.

Aparentemente, tudo se encontrava mais ou menos encaminhado para uma finalização previsível e fechadinha para todos os personagens, bom, pelo menos para Lily (Alyson Hannigan)/Marshall (Jason Segel) e baby Marvin, não que isto seja algo ruim, de modo algum, o esperado é bastante confortável, aconchegante, sem complicações, e no fundo é tudo aquilo que a gente mais deseja. Inesperadamente, a temporada final se passou quase que inteira nos preparativos e cerimônia do casamento de Robin (Cobie Smulders) e Barney (Neil Patrick Harris), um matrimônio que na minha concepção era algo inimaginável no contexto inicial da série, considerando que os personagens possuíam ideologias peculiares e opiniões semelhantes no que diz respeito a relacionamentos – ambos tinham medo -, mas o fato é que eles se apaixonaram e decidiram oficializar esta união superando um passado e presente de complicações.

Se constitui como no mínimo complicado a tarefa de se posicionar como defensora de uma finalização que desagradou, suponho que, 95% dos telespectadores que acompanharam a sofrida saga de Ted (Josh Radnor) durante nove anos, o mesmo sentimento vale para quem maratonou em um curto período de tempo, o fato é que o arquiteto mais romântico e incorrigível de New York passou por poucas e boas antes de encontrar o amor de sua vida e mãe dos seus filhos, entregando-se inteiramente a relacionamentos fadados ao fracasso num desespero latente em resposta ao testemunho da vida seguindo em frente, no setor romântico friso, exemplificado em seus melhores amigos, visto que, Lily e Marshall já despontavam como uma sólida família e Robin e Barney, sua paixão recorrente e um dos seus melhores amigos respectivamente, estavam realmente se unindo em casamento.

Para a pessoa de Ted, analisar aquele cenário de plena felicidade e realização alheia sem ser partícipe direto deve ter sido mesmo uma barra, sentimento este oriundo de um indivíduo que no passado idealizou uma realidade bastante diferente daquela vivida neste ponto em sua vida. Contudo, além do contexto desolador do menino Mosby, a nona e última temporada trouxe sim a tão esperada Mother e não existem meios de negar que Tracy (Cristin Milioti) era de fato a alma gêmea de Ted; a introdução do seu passado sofrido, os pequenos desencontros temporais dos dois, e a inesperada influência da mesma em momentos chaves na vida de todos os amigos só reforçaram o conceito da perfeição do vindouro casal que devido a uma série de coincidências quase não se encontrou, mas quando o fez foi lindo demais de acompanhar, mesmo que de forma espaçada e rasa, o desenvolvimento do relacionamento e formação da família dos dois só deixou bastante claro o fato de que eles se amavam.

Contudo, é um erro ignorar todo o pesado e marcante histórico entre Ted e Robin, afinal de contas a sitcom teve o seu pontapé inicial com um conhecendo o outro e, pela invejável insistência de Ted, saindo em um encontro, algo que em primeiro momento não vingou e se estagnou como uma amizade cheia de intenções até o relacionamento despontar de vez, é bem verdade que eles não formavam o melhor casal, mas, existia companheirismo, empatia, carinho, química, e acima de tudo, amor. Todavia, nem todo o amor do mundo é capaz de fazer dar certo duas pessoas que estão vivendo momentos diferentes na vida, que possuíam divergentes expectativas em relação a família, trabalho, enfim, contrastes estes que acabaram por diferir Ted, o apaixonado ansioso e cheio de planos familiares e muito a frente da realidade atual, de Robin, a contida pé no chão intuída de planos relacionados a sua carreira profissional.

Mesmo ciente de que no concretizado futuro Robin viria a ser tratada por ”tia” tanto por Ted quanto pelos seus filhos, foi impossível não torcer para o casal dar certo, o namoro perdurou por algumas temporadas entre idas e vindas, intercalados entre alguns relacionamentos que não deram lá muito certo, até que em fim acabou de vez, mas Ted-boy sempre permanecia voltando, se importando demais, guardando e alimentando o sentimento, sofrendo por dentro por ver o grande amor da sua vida, até aquele ponto, viver tudo o que ele desejava para si com o seu melhor amigo. Mas amor é isso mesmo, é a gente querer a felicidade do outro acima da nossa própria, deixando a pessoa ir e viver a vida dela, mesmo que isto nos despedace por dentro, até encontrar a nossa redenção pessoal e viver uma história de amor melhor ainda, afinal de contas, encontrar o amor não é um evento único na vida das pessoas que não vai acontecer nunca mais caso a primeira vez não dê certo, acontece uma, duas, três vezes, e por ai vai, é só nos permitir.

E é justamente no ponto de fechamento da história que reside a sua crua realidade, o final surpreendeu ao esfregar na nossa cara nada mais nada menos do que a vida como ela é. Os amigos chegaram em um ponto da vida em que naturalmente se afastaram, só se encontrando de fato em eventos e datas comemorativas; é a vida. Lily e Marshall profissionalmente realizados e espalhando mais do seu amor por ai ao terem mais filhos; é a vida. Robin e Barney se divorciando após apenas alguns anos juntos por diferenças irreconciliáveis, e a superação do trauma se dá com um focando em sua carreira internacional e o outro retornando aos velhos hábitos de pegação; é a vida. Tracy perecendo ao perder a luta contra um câncer, deixando um Ted completamente desolado pela perda da esposa, deixando-o com os filhos dos dois precocemente. É mais uma vez a vida.

É necessário compreender que tudo isso está passível a acontecer com qualquer um de nós. Alguns sortudos encontram o seu par ainda na infância, escola ou faculdade e não se desgrudam mais, superando as dificuldades e vivendo a vida dos sonhos juntos simplesmente por que se pertencem. Outros se apaixonam de fato, até se casam, mas a realidade deturba a pretendida paz e acaba por separar o casal, o que não significa que não existia amor, somente que o mesmo não supera tudo como insistem em afirmar por ai. Por fim, as pessoas podem demorar a se achar, mas quando o fazem vivem uma grande história de amor, constituem família até, mas a mortalidade separa casais e desestrutura famílias, a verdade é que a gente só precisa estar vivo para morrer.

Então concluo que não, na minha opinião o final de How I Met Your Mother não pisou em cima de nove temporadas de desenvolvimento, e nem menosprezou toda a saga da busca pela Mother e a sua influencia e importância na vida de Ted. O retorno de Ted e Robin já era algo planejado e apesar do susto inicial é necessário compreender que as pistas estavam ali desde o início, é só prestar atenção e refletir acerca de como tudo se desenvolveu. Como já dito, a história não se iniciou com Ted conhecendo Tracy, mas sim Robin, o relacionamento mais bem explorado na série foi o deles dois mesmo não dando certo, os dois seguiram com a vida, se apaixonaram novamente de forma intensa, passaram pelo trauma da perda, cada um a sua maneira, e após um longo tempo voltaram a se reencontrar, ambos solteiros, ambos com sentimentos adormecidos mas não esquecidos e isto é completamente aceitável e entendível, apenas um retrato da realidade, somente a arte imitando a vida como ela é.