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Alice (HBO) – Vale Cada Minuto!

Por: em 23 de janeiro de 2011

Alice (HBO) – Vale Cada Minuto!

Por: em

Ela saiu de Palmas (TO) para comprar um edredom e enterrar o pai em São Paulo.

E lá ficou.

Lançada em 2008 pela HBO, Alice é uma produção 100% nacional que conta, até o momento, com uma temporada de 13 episódios e dois especiais (telefilmes) de 90 minutos cada. Sucesso de público e crítica, a série é a principal responsável por lançar Andréia Horta (de “A Cura”, da Globo) no mercado televisivo. Ao que tudo indica e para a alegria dos fãs, teremos uma nova temporada em 2012. Porém, enquanto o próximo ano não chega podemos aproveitar para assistir ou rever (como é o meu caso) aos episódios iniciais desta série que vale cada minuto.

Não quero que seja certo. Só quero que seja.

Alice é uma jovem guia turística em Palmas, capital mais jovem do Brasil. Ela vive com sua avó Glícia (interpretada por Walderez de Barros) e seu irmão Duda (Felipe Massuia). Prestes a se casar com Henrique (Marat Descartes), Alice parece levar uma vida tranquila. A situação muda quando recebe um telefonema de São Paulo avisando que seu pai, que vivia com outra família, havia se suicidado ao se jogar do 12º andar do prédio onde morava. Alice deixa o Tocantins para ir ao enterro do pai, acertar todos os detalhes da herança e, de quebra, comprar um edredom.

Chegando a São Paulo, Alice é amparada por sua tia Luli (Regina Braga), uma cinquentona, solteira, lésbica, adepta ao uso do skank e irmã de seu falecido pai. Ela também conhece outras pessoas que serão responsáveis por lhe transportar a um “novo mundo”. Parece exagerado falar assim, mas a verdade é que a passagem de Alice de Palmas para São Paulo lhe proporciona uma transformação tão grande e cheia de novas experiências que ela já não parece mais viver no mesmo mundo. Aliás, a idéia do nome Alice, ao que tudo indica, está relacionada fortemente à história de Alice In Wonderland (o canal Syfy (EUA) também “brincou” com a personagem ao criar a minissérie Alice). A diferença é que São Paulo é um “país das maravilhas” menos bonito, mas poético e interessante da mesma forma.

Eu tive a sorte de assistir Alice na época certa. Estou com 23 anos e nos últimos meses tenho passado por experiências incríveis e conhecido pessoas maravilhosas. O que mais quero hoje em dia é explorar. Conhecer-me. Conhecer o mundo. Alice é assim e por isso me identifiquei tanto com a personagem. E qualquer um que busque entender a si mesmo vai se identificar também.

Os amigos são a família que escolhermos ter

Durante a primeira temporada somos apresentados a um grupo de coadjuvantes interessante e que, pouco a pouco, ganha espaço com suas próprias histórias.

Nicolas (Vinicius Zinn) é um dos parceiros de trabalho de Alice. Ele sempre arranja uns “bicos” para ela. O cara é meio grosso, metido a machão, mas com o tempo vai amolecendo. No fundo, ele gosta dela.  Lourenço (Eduardo Moscovis) é um dos parceiros sexuais de Alice. Ele aparece sempre atrás de sexo. E Alice, que não é santinha, não exita em abrir as pernas para ele.

Outra que merece destaque é a chefe de Nicolas, Renata (Guta Ruiz, do filme Bruna Surfistinha – a nossa Belle brasileira, mas com menos classe), sempre fumando, bastante rígida no trabalho e com cara de poucos amigos. Curiosamente, ela é a responsável por alguns momentos engraçados, principalmente quando se envolve com seu motorista, o porto riquenho Angel (Daneri Gudiel). Apesar de feioso, o cara tem um jeitão meio latin lover que Renata não consegue agüentar.

O trio Dani (Luka Omoto), Marcela (Gabrielle Lopez) e Téo (Juliano Cazarré) protagonizam cenas quentes de sexo. Dani é a mais fofinha, uma das minhas favoritas. Marcela é modelo, adora uma festinha regada à drogas e álcool e vive bancada pelo dinheiro do pai. Já Téo, namorado de Dani, está sempre entre as duas. Literalmente. Outras que ganham espaço são Maria Célia (em uma atuação fraquíssima de Daniela Piepszyk), irmã de Alice por parte de pai, e sua mãe Irislene (Carla Ribas), no estilo madrasta antipática.

Cada um deles torna-se importante para Alice. Os momentos alegres, os momentos tristes, as badalações, as aventuras, os momentos de perigo… São com essas pessoas que Alice divide sua vida ao chegar a São Paulo e a química é tão grande que passamos a gostar um pouquinho de cada um deles.

A poesia que existe em São Paulo

Alice se apaixona por São Paulo. Quem mora ou já passou por lá sabe o quanto a cidade é complexa. Lugares lindos, lugares horrorosos, lugares únicos, lugares fedorentos (o centro da cidade, por exemplo). Até hoje não assisti a uma produção que retratasse São Paulo de forma tão verdadeira, tão apaixonante. As cenas foram gravadas em locais reais da cidade e o resultado é um primor. Até mesmo as locações mais pobres, cheias de muros pichados, nos chamam a atenção.

Há uma cena em particular em que a Dani passeia de bicicleta pela cidade do centro até o bairro da Barra Funda. É simples, mas lindo. Pura poesia. Os produtores conseguiram transformar a pobreza que existe em determinados pontos de São Paulo em algo bonito de se ver. É óbvio que há diversos problemas na cidade, mas meu objetivo aqui não é comentar do ponto de vista social. Quero apenas dizer o quanto São Paulo é interessante apesar de tudo. Poderia citar vários pontos mostrados em cena, mas prefiro destacar o Viaduto do Chá, o Minhocão, a Lapa, o Ibirapuera, o centro da cidade (região de Santa Cecília, se não me engano) e a Barra Funda.

Sexo, drogas e… mais sexo

Percebemos também que Alice não é uma pessoa muito correta (fator que contribui muito para a personagem em si). Pra começar, ela não pensa duas vezes antes de trair Henrique (que continua em Palmas). No piloto percebemos ela vai para a cama com um gringo loiro, galã e muito mais interessante que seu noivo. Podemos julgá-la? Ela é aquele tipo de garota que namora o mesmo cara há anos. A própria personagem diz em determinado trecho que já não lembrava mais qual a era a sensação de estar com outro homem. A vida é curta (clichê, mas é verdade). Será que vale a pena ficar se prendendo a uma pessoa durante uma fase em que o melhor é se soltar?

Além do sexo, Alice também experimenta um pouco do ‘mundo’ das drogas. Cocaína, maconha… Longe de mim incentivar o uso de entorpecentes, mas também sou contra qualquer tipo de privação.  Alice vai fundo em todos os sentidos. A personagem se entrega de corpo e alma a tudo. Ela é intensa na alegria e na tristeza. Pode quebrar a cara (e quebra muitas vezes), mas pelo menos ninguém pode dizer que ela não tentou. Esse é, definitivamente, um dos maiores méritos da personagem: Se entregar a tudo que acredita.

Made in Brazil

E pra fechar este especial vale ressaltar que Alice é uma série nacional com cara de série. Esqueçam aquele padrão de séries que parecem novelas filmadas pela Rede Globo. Alice é “coisa fina”, tem estilo de produção americana e não deve em nada as tramas internacionais. O jornalista Daniel Castro diz que Alice é cinema feito para TV. Méritos da HBO, um dos melhores canais no quesito qualidade, e dos diretores Karim Aïnouz e Sérgio Machado.

Observações:

– O piloto, a meu ver, não é muito atraente. Algumas cenas são muito demoradas. Mas não se engane: Alice vale a pena ser vista e a partir do segundo episódio a trama começa a se desenrolar, a fluir melhor. Pode acreditar

A crise econômica de 2008 é a responsável por não existir, até o momento, uma segunda temporada. Para que o público não se esquecesse de Alice, a HBO produziu dois telefilmes exibidos no final do ano passado: “O Primeiro Dia do Resto da Minha Vida” e “A Última Noite”. Os dois são ótimos, principalmente o segundo (que parece um pesadelo, todo filmado a noite). É bem provável que a série retorne em 2012

– Monique Evans, Nicolas Siri e Barbara Paz são alguns dos atores que fazem pontas em Alice. Todos ótimos (até mesmo a Titia Monique).

Dê uma chance à série. Alice é uma produção brasileira que merece ser vista.

Desperte…

Alucine…

Reinvente-se!


Rodolfo

Uma versão masculina da Summer (de '500 Dias com Ela'): Fã de Indie Rock, o certinho da época da Faculdade e um completo 'desapaixonado'

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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