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American Crime – 2×07 Episode Seven/ 2×08 Episode Eight

Por: em 28 de fevereiro de 2016

American Crime – 2×07 Episode Seven/ 2×08 Episode Eight

Por: em

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American Crime é cheio de surpresas. Episódio após episódio a série traz novos plot twists que nos deixam desnorteados. Depois do crime sexual e da refutação desse crime, a série caminha por uma outra vertente. O assassinato.

Eric continua seu calvário. Sofrendo a discriminação do irmão (que chega ao limite de pixar “Deus odeia os veados” no muro de sua escola), a incompreensão da mãe (que chega ao limite de acusar o pai pela orientação sexual do filho) e o acolhimento torto do pai acaba se envolvendo em mais relacionamentos agressivos, que geram violência física. Como seu pai dirá mais a frente, ele está tentando se matar de todas as maneiras possíveis.

Do outro lado da cidade, Taylor, depois de sofrer agressões físicos pelo grupo de machões do time de basquete, liberado por Kevin (que se refere ao rapaz o tempo todo como vadia) e ver-se sem saída, distante cada vez mais dos amigos, do parceiro (não dá pra especificar o vínculo entre eles) a válvula de escapa mais útil é o abuso de substância entorpecentes. Comprando com a filha do treinador, ele tem uma série de alucinações.

E então, prepara um plano. Seguindo a risco os conselhos de seu terapeuta, o rapaz faz uma lista das pessoas que o feriram ou prejudicaram. Essa é a lista que ele deve eliminar, num ato de justiça desmedida. A linha entre a justiça e a vingança pessoal é tênue e apenas os que se encontram fora desses contextos podem dizem com clareza o que é justiça e o que é vingança. Para Taylor, por exemplo, a sua vista é embaçada e seus gestos confusos. Ele mesmo não sabe dizer o que é uma punição justa e o que é a vingança sádica.

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O que as propagandas do episódio vendiam como uma cena de suicídio é mais do que apenas isso. Taylor treina usando como alvos as árvores. Com a arma roubada, sai sem retorno, de volta à sua escola de origem e espera pacientemente na sala de Leslie. Ela é sortuda e não aparece. Na saída de Leeland, ele se encontra com o Wes, a derradeira vítima. O tiro ensurdecedor pega todos de surpresa, incluindo o próprio Taylor.

A cena final do episódio é um show de atuação e de maternidade. Anne, apoiando seu filho, acima de tudo e de todos. Ao som das sirenes o fade out surge. Ambos episódios são fortes e pesados por motivos diferentes. Episode Seven choca com a morte mas Episode Eight não é, em nenhum momento, sensacionalista. A crueza e naturalidade dos depoimentos é cortante. Entre as cenas ficcionais, depoimentos de professores sobreviventes dos massacres de Columbine, uma aluna que tentou suicídio por ser acusada de abuso sexual e a mãe de um jovem homossexual que se matou servem para mostrar como os eventos, fictícios, bebem da realidade.

Sem muitas ações ou acontecimentos, o episódio serviu para mostrar as reverberações do ato de Taylor e suas consequências na vida cotidiana daqueles personagens. As parcelas de culpa que deveriam ser divididas entre eles. Matar alguém é um ato condenável. Mas um assassino nunca é somente seu gesto, seu assassinato. A bala é a ponta do iceberg de atitudes irresponsáveis de todos os presentes.

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Leslie e sua rigidez e irresponsabilidade para lidar com o caso; o treinador Dan e sua vista grossa, irresponsabilidade para com o time e acobertar seus jogadores; o time de basquete pela postura homofóbica e ignorante; a família Lacroix sem exceção: primeiro os pais, que não exitaram em usar suas influências para vazar diagnóstico médico e destruir a reputação de uma mãe e depois Kevin que encabeçou um linchamento coletivo contra o garoto; Eric por ser covarde em todas as instâncias possíveis que vão desde a consumação do ato, a negação desse ato e a posterior traição. Ninguém é inocente. O menos culpado em toda essa situação é quem puxou o gatilho, de fato.

Anne é cada vez mais forte dentro da trama, não só defendendo o filho mas também buscando a verdade e um julgamento justo. De muitas maneiras, cada personagem está buscando redenção e expiação por seus próprios erros, mesmo quando essa expiação vem em culpar o outro. O discurso inflamado e emocionado do treinador, o retorno de Leslie à escola e o possível motim para que ela se retira do cargo… Eric culpa Kevin, Dan culpa Leslie. É um gesto de egoísmo, ao invés de tentar entender qual é a responsabilidade de cada um dentro daquele quebra cabeças.

É preciso entender ainda os papeis que Steph (filha do treinador e responsável por fornecer drogas a Taylor e que acabou confessando ao pai) e Sebastian (que ofereceu ajuda à Anne através da internet) irão desempenhar na série. A garantia é de novas reviravoltas na trama, afinal, se até o oitavo episódio American Crime nos surpreendeu não há uma maneira exata de prever os rumos dos novos acontecimentos.

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Daniel Matos

Ex-gordo, fã de televisão e da Palmirinha.

Belo Horizonte

Série Favorita: The Good Wife

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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