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American Crime Story – 1×02 The Run of his Life

Por: em 12 de fevereiro de 2016

American Crime Story – 1×02 The Run of his Life

Por: em

O segundo episódio de American Crime Story trouxe as razões pelas quais este caso específico, de duas décadas atrás, foi escolhido para se tornar uma série de TV em pleno 2016. Os mesmos questionamentos de lá ainda ecoam na justiça que temos – e na que queremos – hoje. A sociedade do espetáculo continua igualzinha, só mudam as plataformas, e protagonistas com personalidades controversas também nunca estiveram tão em alta. Mais que um episódio de fuga, The Run of his Life  foi o mise en place que a série precisava para servir um banquete nas próximas semanas.

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Apesar de baseada em uma história real, ACS não é um documentário como Making a Murderer, por exemplo. É uma obra de ficção com seus próprios recursos, sua própria linguagem e personagens que, apesar de inspirados em pessoas de verdade, têm uma boa dose da identidade dos atores e agem e reagem para que o roteiro funcione, não necessariamente seguindo à risca os detalhes de um caso que já se tornou parte do imaginário coletivo americano. Digo isso porque o foco de análise das reviews será apenas a série e a sua eficiência narrativa, não os registros do processo de OJ.

E já que ele foi citado, é muito necessário entender o momento em que o personagem se encontra para que se possa entender todo o resto da trama. Juice é o único suspeito de um crime brutal, que comete a estupidez de fugir enquanto toda a imprensa e polícia dos Estados Unidos estão com os olhos voltados para ele. Pode parecer a saída menos lógica do mundo (e é), mas também é a única coisa que se espera de alguém com uma personalidade extremamente impulsiva, inconsequente, explosiva e de uma pessoa pressionada por advogados, psiquiatras, familiares, fãs e investigadores. OJ pode ser um grande atleta, mas não é uma das mentes mais brilhantes e não tem sangue frio, o que foi comprovado com aquele polígrafo desastroso. Era um homem encurralado pelos próprios erros grotescos, que não sabia o que fazer e só conseguiu apontar uma arma para a cabeça para ganhar tempo, já que não havia motivação, coragem e nem intenção de puxar de fato aquele gatilho.

O status de celebridade tornou as coisas mais difíceis para a polícia, mas muito mais fáceis para Juice. E eu nem me refiro à legião de fãs empunhando cartazes de apoio ao que, naquele momento, eles consideravam um “herói injustiçado”, mas à imagem de vilões que os promotores carregam diante do público e às regalias que OJ recebe apesar de tudo o que fez até ali. Você consegue imaginar um homem negro anônimo, suspeito do assassinato de uma mulher branca, fugitivo e armado, recebendo os privilégios que ele recebeu? De escolher quando seria preso, de poder chegar em casa, ligar para a mãe, tomar um suquinho de laranja, dar um abraço no amigo e esperar os nervos se acalmarem? Ou menos ainda: Você consegue imaginar um negro anônimo nessas condições apenas se mantendo vivo?

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O debate racial, que já tinha sido introduzido no primeiro episódio, dessa vez tomou contornos mais claros, tanto no discurso, quanto nas entrelinhas. E não poderia ser diferente! Quem acompanha o noticiário sabe das tensões que o país vem carregando recentemente ao se levantar contra uma polícia e um sistema judiciário notadamente racistas, e o entretenimento tem se jogado nessa onda, usando a ficção como mais uma forma de incitar esse debate. A defesa “paralela” de Cochran coloca o caso como uma perseguição por ele ser negro, mas ela peca pela falta de recorte quando ignora o histórico de misoginia de OJ, ou o fato de que seu status social e financeiro já o livrou de pagar por seus crimes no passado.

Não bastasse um suspeito famoso, temos do outro lado um advogado-estrela que parece mais preocupado em manter seu nome de peso que a defesa de Juice. Fugir por conta própria não ajuda muito na relação de confiança entre os dois, mas devo concordar que o “eu” estava mais presente do que deveria no pronunciamento que ele fez à imprensa. Aliás, vale destacar que Travolta está fazendo um trabalho bem bacana como Shapiro.

A perseguição a OJ acabou se tornando um grande evento televisionado, que causou ainda mais impacto por interromper a transmissão de um dos maiores eventos esportivos do país. Quem não estava assistindo, estava na estrada, nas passarelas e em volta da casa da família do atleta. Um crime violento que se tornou um espetáculo para a mídia, o primeiro reality show da franquia Kardashian! Não mudamos tanto assim de lá pra cá, a diferença é só que hoje em dia todo mundo estaria gravando e transmitindo tudo em tempo real pelo Periscope, fazendo check in na rodovia e twittando memes sobre a #FugaDoOJ em vez de ligar para a polícia através de um orelhão.

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Algumas observações:
– O deboche habitual de Ryan Murphy ficou bem evidenciado na sequência dos Kardashian e no comentário sobre a carta de suicídio assinada com uma carinha feliz.

– Marcia Clark está empenhadíssima com a prisão de OJ, mas ela continua atenta aos detalhes que ninguém mais percebe, como o dos carros iguais.

– É claro que o foco principal precisa estar em Juice, mas espero ver um pouco mais dos outros personagens que nestes primeiros episódios.

– Existem muitos documentos, vídeos e curiosidades que podem complementar a sua experiência com a série na internet. Mas, como eu disse, vou me ater à obra aqui nas reviews, então evitem “””spoilers””” nos comentários, ok?

E você, leitor? Achou que The Run of his Life representou bem um dos momentos mais emblemáticos do caso? Deixe seu comentário e até semana que vem!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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