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American Crime Story – 1×05 The Race Card

Por: em 5 de março de 2016

American Crime Story – 1×05 The Race Card

Por: em

Agora é pessoal. American Crime Story vem, episódio a episódio, acrescentando ingredientes à mistura que tonou o caso de OJ Simpson algo tão icônico na história dos Estados Unidos. Além dos fatores sociais, raciais, midiáticos e financeiros que vimos até então, The Race Card mostrou que há um lado pessoal envolvido, e que se tornou ainda mais forte depois que Cochran assumiu a liderança da defesa de Juice.

cochran

Apesar de não simpatizar com Johnnie e o seu discurso demagógico, seu flashback do início do episódio me arrancou lágrimas. Porque o que ele passou naquele carro não se trata de uma experiência pessoal ou de um fato isolado, fruto de um contexto social do passado. O que ele passou é uma vivência universal que atinge pessoas negras em todos os lugares até hoje, é uma ferida eternamente aberta. Ser inocente, ocupar uma posição de prestígio social ou estar acompanhado de suas crianças (ou mesmo SER uma criança) não protege os negros de ter um tratamento hostil por parte da polícia, ou da justiça.

Analisando todas as artimanhas de Cochran no tempo presente – o que na série significa o ano de 1995 – o que se vê é um homem jogando bem baixo para acobertar um crime. Mas aquele flashback dá uma perspectiva completamente diferente do personagem. Mostra que ele é alguém que não confia na polícia, não confia nas provas, não confia no sistema judiciário e tem todas as razões do mundo para isso. Eles não jogam limpo na hora de julgar e condenar os negros, então ele também precisa sujar suas mãos se quiser vencer o caso.

Johnnie se enxerga completamente em OJ. Ele vê em Juice um homem que amava sua família, foi vítima das armações de um policial racista e está sofrendo retaliação da sociedade por ser negro e bem sucedido. Ele transforma o discurso de OJ no seu discurso, transforma a casa de OJ na sua casa, transforma OJ em uma representação dele mesmo. Mas OJ não é como ele. A cor da pele não o faz inocente das inúmeras agressões a Nicole, e não o faz inocente dos assassinatos também.

marcia

Do outro lado temos Marcia Clark, que, assim como Johnnie, também se coloca no lugar de uma das peças desse julgamento: Nicole Brown. O incômodo de chegar a uma casa vazia, sem móveis ou fotografias, é o de saber que o júri não terá por Nicole o que ela tem, empatia. As pesquisas indicaram que a maioria das mulheres a considerava uma interesseira, mas Marcia a vê como uma mãe, uma vítima de um relacionamento abusivo que foi refém de OJ por causa de uma série de fatores internos e externos, que envolviam dependência emocional, financeira, pressão familiar e medo de morrer. São questões que acabam atingindo todas as mulheres em algum momento da vida, em maior ou menor proporção.

Mas Marcia também não é uma mocinha justiceira. Ela nunca quis dividir os holofotes e nem pensou em Darden como um parceiro até que a pressão sobre a questão racial no caso se tornasse insustentável. Existe uma boa dose de cinismo quando ela o convence de que ele está ali unicamente por causa dos seus méritos. Deveria ser, e ele merece isso, mas não foi como as coisas aconteceram. Ela tem paixão, tem competência, tem foco e tem as provas ao seu lado. Mas falta carisma e falta percepção, tato, para enxergar que nada disso será suficiente se ela continuar ignorando o racismo como um componente intrínseco ao caso.

Christopher fica responsável por lidar com um policial sabidamente racista e, apesar dos apelos, não consegue convencer a promotoria que usa-lo como testemunha é dar à defesa uma arma poderosíssima. Seus motivos são subjetivos, mas não são errados. Se Marcia confiasse na intuição do seu parceiro, evitaria o desgaste de levar um nazista simpatizante para o tribunal. Sem saber exatamente como conduzir essa situação, Darden acaba se atrapalhando e queima a sua imagem diante do público. Como virar o jogo depois daquele discurso bizarro?

darden

Algumas observações:

– Nem nos sonhos mais lindos dos advogados de defesa, eles imaginariam que o golpe das testemunhas atingiria tão profundamente o coração de um promotor

– Eu amo o senso de humor da Marcia. Sarah Paulson consegue fazer qualquer personagem ser maravilhosa, né?

– Bem bacana a cena em que os advogados e a promotoria tentam antecipar os passos um do outro em suas respectivas reuniões. Parece um jogo de xadrez.

Curtiu o episódio? Acha que as técnicas de Cochran são aceitáveis ou já passaram dos limites? Deixe seu comentário e até semana que vem!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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