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American Crime Story – 1×09 Manna From Heaven

Por: em 31 de março de 2016

American Crime Story – 1×09 Manna From Heaven

Por: em

Em meio a tantas mentiras, a tantos golpes, armações e a tanto maniqueísmo, Manna from Heaven foi um episódio que tratou de verdades, ainda que elas tenham sido usadas para reafirmar uma mentira.

dream team

A defesa de OJ, especialmente Cochran, passou o tempo inteiro manipulando a verdade ou simplesmente inventando histórias para convencer o júri da inocência de Juice. Transformaram a sua casa, envolveram Nicole com um cartel colombiano, mandaram uma empregada mentir descaradamente e não perderam nenhuma oportunidade para distorcer a realidade em favor do cliente. É óbvio que aquela narrativa fantasiosa e as teorias da conspiração fizeram mais sucesso que as evidências técnicas da promotoria, mas foram dois fatos reais que deram a eles a credibilidade que precisavam: as luvas não caberem em OJ e o detetive ser desmascarado como um racista.

Nem Marcia, nem Darden, nem os piores pesadelos dos dois poderiam prever o show de horrores contido naquelas gravações. Racismo, machismo, xenofobia e todo o tipo de ódio contra o que quer que fosse diferente do que Mark via no espelho. O detetive, peça chave da estratégia da promotoria, era e fato o vilão que o Dream Team estava tentando inventar desde o início, e, como cereja do bolo, havia ofendido pessoalmente a esposa de Ito – o que por um triz não causou a anulação do julgamento.

Christopher e Marcia poderiam tentar de novo, poderiam corrigir os inúmeros erros que cometeram, mas o circo midiático já estava armado. Não havia mais gente isolada por quase um ano sem receber notícias. Qualquer júri que se formasse, já chegaria naquele tribunal com informações, opiniões e vereditos completamente contaminados pela enxurrada de conteúdo que se produziu sobre o julgamento durante todo aquele tempo. Forçar um novo início e tentar excluir Mark, como se ele não fosse um elemento importante dessa equação, soaria como má fé da promotoria e alimentaria muito mais as teorias da conspiração que a defesa tentava, insistentemente, emplacar.

clark dardenMas optar por continuar causou um novo mal estar entre Darden e Clark. Eles eram parceiros, mas não sabiam resolver as suas discordâncias fora do tribunal. Chris sentia-se subestimado, inferiorizado, estava com o orgulho ferido e a pressão das circunstâncias quase fizeram com que ele passasse dos limites na corte. Ele cometeu um erro sobre as luvas, Marcia cometeu um erro ao insistir no detetive, eles ficaram quites, desabafaram e fizeram as pazes, mas o estrago já estava feito. Os erros deles estavam inocentando OJ e aqueles crimes bárbaros ficariam impunes para sempre.

Johnnie conseguiu provar o que sempre desejou para a América. Provou que a polícia é corrupta, racista, que os agentes da lei não têm escrúpulos para incriminar minorias por crimes que eles não cometeram. Cochran queria ver fogo, sangue, revolta e a divulgação daquelas fitas para a imprensa deu isso a ele. Mas não bastava. Ele também queria ver OJ inocentado, como um símbolo de que a “justiça” tinha sido feita ao menos uma vez. Ele estava escrevendo uma grande história, mas ela só faria sentido se ele conseguisse o final feliz que procurava, por isso tanta raiva ao saber que o júri só teria acesso a algumas frases das gravações.

Eu costumo dizer que Ryan Murphy só consegue fazer uma série boa de cada vez, e esse episódio não deixou a menor dúvida de que American Crime Story é a série boa do momento. O timing foi perfeito: O povo contra OJ Simpson é o avesso conceitual do sucesso Making a Murderer, da Netflix, que movimentou debates calorosos no final de 2015. As discussões sobre o racismo institucional da polícia americana também está fervendo nos últimos meses e, veja só, um dos fortes candidatos à presidência tem um discurso bem parecido com o de Mark Fuhrman. Mas American Crime Story não tem a pretensão de ser um documentário, e sim uma obra de arte, viva, pulsante e capaz de despertar emoções em seu público que nem a vida real causou.

Manna from Heaven foi a comprovação de que a missão foi cumprida com sucesso e louvor. Existem muitas séries excelentes, mas poucas alcançam esse patamar de masterpiece, porque a mágica acontece nos detalhes. E a cena de Mark entrando na corte foi um desses detalhes… aquela experiência quase sensorial que coloca o espectador dentro da cena e sentindo na pele aquela experiência. E não pense que é fácil colocar o público comum dentro da cabeça de um psicopata nazista, mesmo que por trinta segundos. Hannibal fazia isso muito bem, e é bom sentir isso novamente com um programa de TV.

judgingyou

Algumas observações:

– Pelo menos a guarda dos filhos ficou com Marcia, né? Uma coisa a mulher precisava ganhar.

– Robert pareceu incomodado com a alegria de OJ depois do depoimento. Talvez ele esteja começando a se tocar da verdade.

– Depois de um episódio todo focado no júri, quase não os vimos. Confesso que fiquei curiosa para voltar a ver o que acontece no hotel.

Denso, intenso e cheio de nuances, o episódio dessa semana não deixa muitas dúvidas sobre o veredito que será revelado na próxima terça. Mas será que a série ainda guarda alguma carta na manga para surpreender o público? Deixe sua opinião nos comentários e até semana que vem!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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