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Aumento de peso nas séries

Por: em 29 de outubro de 2012

Aumento de peso nas séries

Por: em

Quem acompanha as séries há algum tempo, já deve ter percebido que elas influenciam e são influenciadas pelas mudanças que acontecem na cultura dos Estados Unidos. E quem acompanha as notícias de lá, sabe que a obesidade vira e mexe volta a ser notícia, pois os americanos (e boa parte do mundo) estão cada dia mais gordos. Este fato está começando a ser mostrado nas séries, mas de uma maneira um pouco diferente da que estávamos acostumados a ver. Agora, os gordos não são mais só as vítimas de bullying dos colegas de classe ou trabalho e são muito mais do que os somente os personagens engraçados amigos dos protagonistas magros.

Percebendo esta mudança nas estrelas da televisão, Alessandra Stanley, do The New York Times, escreveu um artigo esclarecedor sobre o assunto e como precisamos mudar a forma como nos vemos e nos aceitamos. Algumas partes do artigo foram omitidas por não se tratarem de séries.

Mindy Kaling, em The Mindy Project

 

“Em seu show, The Mindy Project, Mindy Kaling interpreta uma médica solteira que fica incomodada, mas não concorda quando um colega homem diz que ela precisa perder 7 quilos. E nem Hannah, a personagem que Lena Dunham interpreta em sua comédia da HBO, Girls (veja aqui o que achamos desta série). Quando o namorado pergunta a ela sobre suas dobrinhas, ela responde: “Não, eu não tentei perder peso. Porque eu decidi que teria outras preocupações na vida”.

Em Awkward, da MTV, a valentona do colégio, Sadie (Molly Tarlov), é que está acima do peso – e não as suas vítimas – e isso não diminui o seu poder ou confiança.

Se aceitar virou a nova forma de desafiar a televisão, especialmente entre comediantes mais novas. Parcialmente porque não é o comum. Há um pouco de valor em chocar com humor que pode ter na profanação, obscenidade ou intolerância, mas ainda é raro e surpreendente ver uma mulher que não tem obsessão pelo tamanho de sua cintura.

E ganhar peso, ao que parece, é a forma mais transgressora que a Lady Gaga conseguiu inventar. Ao invés de usar carne crua de animal em eventos públicos no verão, ela usou a própria – e uma metamorfose que nem a Madonna teria coragem. “Eu não vou entrar nessa paranoia por causa da hipocrisia”, disse a cantora depois de admitir ter ganhado cerca de 13 quilos. “Eu sou assim. E tenho orgulho de mim mesma em qualquer tamanho”.

A Lady Gaga não é a primeira a fazer isso; se for alguma coisa, é mais uma seguidora da onda de “não-magras sem desculpas”. Algumas famosas são conhecidas por suas figuras curvilíneas, como Kat Dennings, que estrela 2 Broke Girls (saiba quais foram as nossas primeiras impressões), Christina Hendricks, de Mad Men, e Christina Aguilera, de The Voice. Mas é mais evidente nas comediantes como Dunham e Kaling, que têm mais poder para quebrar as regras: ao escrever seu próprio material e criar shows inspirados em suas vidas, elas criam seu próprio padrão de beleza e desafiam a ditadura de estilistas e diretores de elenco de uma forma que as atrizes não conseguem.

Um monte de regras estão sendo quebradas nas comédias românticas. Elas costumavam ser superficiais, com personagens interpretados por Seth Rogen surpreendendo a todos e conseguindo ficar com a gostosona. Agora, Rebel Wilson, uma atriz australiana e roteirista de comédias, é uma noiva plus-size que consegue um noivo adorável no filme Bachelorette. E de certa forma essa licença é uma mudança de gerações de comediantes nos 40 anos como Tina Fey e Amy Poehler, que ficaram famosas por serem engraçadas e mais femininas e bonitas, do que vanguardistas da comédia como Phyllis Diller e Joan Rivers. Tina Fey disse que ela perdeu quase 15 quilos para passar de roteirista do Saturday Night Live para apresentadora do mesmo. Lena e suas amigas – uma geração criada assistindo aos rankings “não-me-julgue” de Tyra Banks e programas sobre anorexia – estão se rebelando contra o cada vez mais absurdo padrão de beleza do show business.

 

Lena Dunham como Hannah, em Girls

Elas não fazem dietas ou lipoaspirações para caber nos vestidos do tapete vermelho; elas podem usar retalhos (Dunham fez ainda melhor: em uma esquete para o Emmy Awards, ela apareceu nua sentada em uma privada, comendo um bolo inteiro). Tarlov disse para a revista adolescente Seventeen que a Sadie é interessante porque ela não deixa o seu corpo a definir e não sofre socialmente com ele. “Quando as pessoas falam sobre personagens que sofrem com o peso ou com comida, costumam ir aos extremos; há poucos personagens que são apenas um pouco acima do peso. Isto é o que eu acho que é incrível sobre o programa; não é como se a Sadie estivesse em perigo ou algo do tipo”.

Há uma celebração de moderada imoderação que conflita com a tendência de sempre ir até o extremo do excesso, especialmente quando o assunto é o peso de alguém. A gordura provavelmente é o problema mais examinado nos Estados Unidos, onde não há certo ou errado, apenas extremos. Em um segundo, as mulheres são encorajadas a abraçar seus corpos cheinhos em propagandas e em talk shows, em revistas femininas e em reality-shows como Curvy Girls, que acompanha um grupo de modelos plus-size.

No outro, os apresentadores dos talk shows, revistas femininas, Hollywood, especialistas em saúde, a primeira dama e políticos alertam todo mundo sobre a epidemia da obesidade. A moda segue os dois lados: modelos e atrizes são super magras nas passarelas e tapetes vermelhos, mas as lojas de departamento têm seções inteiras dedicadas a roupas de designers famosos em tamanhos plus-size.

Molly Tarlov como Sadie, em Awkward

Seguindo a contradição, a sociedade faz um show de apoio a pessoas que estão em paz com os seus quilos a mais, mas comemoram mesmo quando alguém declara guerra ao próprio corpo. Jennifer Livingston, uma âncora de jornal em Wisconsin, deu uma bronca ao vivo a um telespectador (assista no YouTube) que escreveu um email sugerindo que o excesso de peso dela a fazia um péssimo modelo a ser seguindo. Mas em suas notícias diárias, a CNN dá o mesmo destaque a uma série de mortes na Síria e a uma comediante que fez cirurgia de redução de estômago.

Em uma coleção de artigos, Mindy escreveu “como eu não sou uma modelo super magra, mas também não sou super gorda e estou abraçando a fabulosidade do meu tamanho, eu estou naquela nebulosa região de “mulher normal americana” que os estilistas detestam. Para se ter uma ideia, eu sou um tamanho 8 (esta semana, pelo menos). Muitos estilistas odeiam este tamanho, porque, acho eu, para eles, mostra que eu não tenho disciplina para ser magrela ou a confiança de ser adoradora da gordura. Eles gritam: escolha um lado!”.

E essa escala é bem evidente na tela. Atrizes e estrelas de reality show ou são um palito ou extremamente largas, especialmente depois que o The Biggest Loser tornou os muitos quilos a mais em um espetáculo agradável de assistir, transformando o que poderia ser um freak-show em um manifesto de auto-ajuda.

 

A comediante Retta interpretando a ótima Donna se lixando, em Parks and Recreation

Nas comédias sempre há espaço para a amiga gorda, mas só recentemente que elas começaram a ser escaladas como heroínas românticas ou furacões sexuais. Donna, de Parks and Recreation, é interpretada pela atriz e comediante Retta e tem uma vida amorosa bem ativa, com requintes de safadeza (ela lê o livro erótico 50 tons de cinza no escritório). Rebel Wilson estrela o filme Pitch Perfect como uma extrovertida cantora que se chama de “Amy gorda” para que os outros não precisem fazê-lo quando ela não está por perto.

A sociedade está começando a ser mais honesta sobre o preço que algumas mulheres pagam para continuarem magras, ajudadas por celebridades que todos os dias confessam ter algum distúrbio alimentar.

Na recente minissérie Political Animals (leia aqui o que achamos desta série), a linda, perfeita e pequena noiva Anne (Brittany Ishibashi) escapa de sua festa de noivado para ir ao banheiro vomitar sua janta.


Drop Dead Diva foi um hit pioneiro na Lifetime quando estreou em 2009, porque a protagonista, Jane Bingum, interpretada por Brooke Elliott, é plus-size. Mas a gordura ainda é um assunto sensível; roteiristas colocaram uma mulher obesa somente por um acaso do destino: uma loira magra e superficial morre e volta à vida no corpo da inteligente advogada.

 

Melissa McCarthy e Billy Gardell em cena em Mike & Molly

Mike & Molly, co-estrelada por Melissa McCarthy, é uma comédia sobre dois amantes acima do peso, mas a piada não é sobre o peso, mas sobre um casal esquisito que se conhece nos Comedores Anônimos.

Estes personagens refletem uma mudança no padrão americano: muitos designers nos anos 1990 mudaram o tamanho de suas roupas aleatoriamente (um tamanho 8 antigamente é um tamanho 10 hoje em dia – e isso também aconteceu aqui no Brasil), os produtores de entretenimento precisam encontrar espaço para mulheres cujos tamanhos são familiares à maioria de seu público.

E por isso que Lena Dunham e Mindy Kaling são sedutoras: o peso delas não importa. Elas podem agir na defensiva quando as pessoas as questionam sobre os quilos extras, mas elas não deixam que isso as detenha ou as defina. Para se preparar para um encontro às cegas, Mindy muda a roupa e não o tamanho do vestido. Lena faz a Hannah andar pelo apartamento de calcinha e sutiã, sem a menor preocupação sobre seu corpo. O sucesso de Girls tornou Dunham uma espécie de It Girl da literatura e seu livro sobre a vida, amor e sexo “Not that kind of girl: a young woman tells tou what she’s learned” rendeu mais de US$ 3,5 milhões de dólares. No episódio piloto de Girls, Hannah diz aos pais que ela pode ser a voz de sua geração. Parece que ela pode ser mais o tipo físico.”

 


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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