“Hmm, quer dizer que você não nos acha ousados? Que tal isso aqui, queridinha?” Disseram Carlton Cuse e Karry Ehrin após lerem a minha última review. Eu estou sem palavras. Por mais que soubéssemos que em algum momento ela morreria, por mais que desconfiássemos que a série estava preparando terreno para uma morte realmente grande, eu nunca suspeitaria que o caminho seria aquele. Quando li sobre um acontecimento chocante no fim deste episódio, comecei a assistir convencida de que seria Romero a próxima vítima de Norman. Que engano!

Norma Bates está morta. Dizer isso é como dizer que Romeu e Julieta estão mortos, todos sabem. Então como fazer algo conhecido se tornar surpreendente? Mudar a forma e o momento em que as pessoas esperam ver aquilo acontecendo, é claro. Prevista para contar a história dos Bates em cinco temporadas, foi um golpe seco matar a sua protagonista antes da season finale do quarto ano, mas ao mesmo tempo tudo se encaixa de uma forma bonita, poética e doentia, como sempre foi a série.

Dylan e Romero passaram o episódio tentando convencer Norma de que ela corria perigo com o filho dentro de casa, que ele era de fato uma pessoa doente e perigosa. Cada vez que ela repetia que eles estavam errados, que ninguém conhecia Norman como ela, que ele nunca a machucaria, mais deixava no ar a tensão de que ela sofreria muito quando descobrisse a verdade, quando fosse machucada por ele ou o visse machucando alguém que ela amava. Norma rejeitou a ajuda e os conselhos do filho e do marido, foi cruel com Dylan ao dizer que ele tinha inveja do irmão e, mesmo despedaçada por abandonar o homem que amava, se colocou completamente ao lado de Norman outra vez, porque mesmo tão danificado, o elo entre os dois ainda era mais forte que qualquer outro.

Quando Norman descobre os pertences de Audrey e se vê vestido como Norma, provavelmente lembra do que fez à mãe de Emma, e começa a imaginar o que poderia resolver aquele problema. Se ele se entregasse para a polícia, Norma ficaria devastada. Se seguisse os conselhos de Dylan e Romero e voltasse para Pineview, ele seria derrotado, porque estaria preso na clínica enquanto o padrasto e o irmão tomariam o seu lugar na casa e no coração de Norma definitivamente. Fugir pode ter sido uma solução bonitinha, mas ele sabia que não era viável e que sua doença o seguiria, aonde quer que ele fosse. O que fazer, então?

Um dia depois do dia das mães (para nós, na série é natal ainda), ele dá a Norma o que considera um presente. A libertação daquela vida de angústias, de traições, de pessoas que nunca compreenderiam a ligação que existia entre eles. Pessoas que teimavam em se colocar entre os dois para separa-los. A morte os tornaria um só, eles pertenceriam um ao outro para sempre. Quem acendeu a lareira e fechou os dutos de ventilação não foi o Norman psicótico, o Norman tomado pelo seu distúrbio de personalidade, não foi a sua Norma interior. Ele estava medicado, tinha ido à terapia, estava sereno e lúcido. O Norman que visitou cada quarto depois de colocar a mãe para dormir e preparar o cenário daquela morte, deitando na cama com ela, foi o Norman doce que ela sempre acreditou que existia. Ele a matou por amor, ou melhor, pela sua visão distorcida do que é amor.

E do ponto de vista de Norma, foi o melhor final que ela poderia ter. Tudo foi construído para esse momento, estava na nossa cara. Ela resolveu as pendências com Caleb, admitiu seus traumas para si mesma e se abriu para amar e ser amada novamente por Romero. Ela viu Dylan seguindo em frente com uma das poucas mulheres com quem ela tinha um bom relacionamento, deixando pra trás o negócio das drogas. Ela viu Norman se tratando e, na sua visão, se recuperando e pronto para viver novamente na mansão. Norma morreu ouvindo uma canção do seu menino, provavelmente sonhando com um novo começo em uma ilha onde só existiriam eles dois. Ela nunca precisou encarar o fato de que o filho a machucou. Sem dor, sem pendências, sem culpa. Com uma paz que ela nunca conseguiu alcançar enquanto viveu.

Mas como Bates Motel vai seguir adiante sem Norma? Ela sempre foi a alma da série e passar uma temporada inteira sem a sua presença é algo inimaginável. É claro que Vera Farmiga vai continuar, mas como o alter ego de Norman, não como aquela Norma real e intensa que conhecemos. A partir de agora ela será diferente e Norman também, porque para lidar com o que fez, ele não vai continuar sendo o que sempre foi. A sua cabeça vai criar outra realidade, porque no mundo em que ele matou a mãe, Norman não vai ser capaz de viver nem por um minuto.

Talvez Romero acabe sendo incriminado pela morte da esposa, já que já existe sobre ele a suspeita de assassinar Bob Paris, algumas pessoas na delegacia viram que eles discutiram naquele dia, mais cedo, e pode ser revelado, inclusive, que o casamento era de fachada desde o início. Talvez Norman acabe matando o padrasto também. Em uma situação normal, dificilmente ele teria chances contra Alex, que é um policial treinado e fisicamente bem mais forte, mas Romero está destruído, completamente destruído pela morte de Norma. Ele tentando, em vão, reacorda-la foi de cortar o coração. Ou talvez encarem tudo como um acidente mesmo, uma fatalidade de alguém que esqueceu de checar a ventilação. Só o que sabemos é que Norman não vai pagar pelo que fez.

Algumas observações:

– Rebecca achou mesmo que ia conseguir alguma informação com aquele papo torto? Ela é mais idiota que parece.

– Dylan ainda conseguiu ter uma participação levemente expressiva no episódio. Mas pelo visto Emma vai passar a temporada toda sem fazer nada mesmo.

– Alguém mais achou a voz da moça cantando Mr. Sandman igualzinha à da Fernanda Takai, do Pato Fu? Ahahah

– Aliás, que coisa linda aquela cena, aquela luz azul, aquela trilha sonora, os ângulos… se eu não estivesse tão tensa tentando entender o que tava acontecendo, teria batido palminhas.

-Porque eu só entendi de fato o que tava acontecendo quando o Norman acordou e a Norma, não. Antes disso eu jurava que ela iria acordar.

Provavelmente a season finale da próxima semana já dará o tom da última temporada de Bates Motel. Teremos algumas respostas e talvez pistas da dinâmica do quinto ano. Já se recuperou do choque? Quer companhia para chorar a morte da nossa freak mother favorita? Traz o sorvete com brigadeiro, deixe seu comentário e até semana que vem