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Bates Motel – 4×10 Norman (Season Finale)

Por: em 17 de maio de 2016

Bates Motel – 4×10 Norman (Season Finale)

Por: em

Em uma época em que todo mundo ama anti-heróis, como fazer o público odiar um vilão? Bates Motel levou três anos desconstruindo a visão que tínhamos de um personagem icônico, mas para que a série e o filme convergissem, era necessário refazer o ciclo e levar esse mesmo personagem ao ponto conhecido pelo grande público. A quarta temporada fez, episódio a episódio, esse trabalho, que chegou ao seu ápice em Norman.

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O primeiro desafio foi criar alguma simpatia e alguma empatia do público com o jovem Norman Bates. Mas como fazer as pessoas gostarem de um assassino creepy daqueles? As primeiras temporadas resolveram essa questão colocando Norman como um garoto dócil, fruto de uma família problemática, vivendo um relacionamento sufocante com a mãe e atormentado por uma doença mental. Apesar de ser, desde o início, um algoz, ele era muito mais vítima. Os crimes que cometia, cometia durante períodos de transe e sequer guardava alguma lembrança do que aconteceu de fato. O processo de desconstrução foi concluído com sucesso, então era hora de começar a reconstrução de Norman Bates.

Para que ele se tornasse o dono do Motel de Psicose, ainda faltava muito. Agora não falta mais. Primeiro mostraram como as pessoas ao redor lidaram com a doença dele, as tentativas de tratamento, suas causas e as consequências. Então fomos apresentados pouco a pouco às nuances das suas alucinações. Ele poderia estar em surto ou tranquilo. Conversar com a mãe ou ser a mãe. Esquecer o que aconteceu, lembrar parcialmente ou criar uma versão alternativa para os fatos. E em algum momento Norman começou a manipular os outros com a sua capacidade de parecer outra pessoa.

Quando falhou na sua tentativa de suicídio, matando apenas Norma, todo mundo imaginava que ele piraria, que passaria a viver em um eterno apagão com Norma cochichando no seu ouvido o que fazer. Mas quem acordou daquela tragédia não foi um louco descontrolado, foi um psicopata cínico, frio, egoísta e cruel que apesar das circunstâncias, cuidou de cada detalhe burocrático e dos protocolos para encerrar o capítulo da morte da mãe. Contratou uma empresa, escolheu um vestido, preparou um discurso, deu seu depoimento à polícia, livrou-se de Dylan e culpou Romero por tudo aquilo que ele fez.

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A ausência de Norma foi extremamente sentida no episódio. Embora seu corpo tenha aparecido em boa parte das cenas, essa finale foi repleta de silêncios e reticências, porque ela não estava ali. Não foi só Norman que se negou a acreditar que ela estava morta, boa parte do público também passou a semana inteira imaginando que ela voltaria de algum jeito, que alguém como ela não poderia simplesmente “acabar” ali. Foi um gancho muito bem colocado, porque nos fez viver o luto durante sete dias, sentir a morte como ela é, pesada, surpreendente, cheia de pontas soltas. Nós entendemos esse sentimento, e então conseguimos entender melhor os sentimentos de Alex e de Norman. Fazer uma pegadinha e trazê-la de volta seria um erro terrível e uma perda sem reparação para a série.

Agora, em uma escala de zero a Norman, quão bizarro foi esse episódio? Uma das coisas que gosto em Bates Motel é que, apesar das mortes, não é um terror gráfico. Eles assustam pelo aspecto psicológico e essa finale foi realmente assustadora. Norma foi violada de muitas formas enquanto viveu, e continuou sendo violada depois da morte, principalmente pelo próprio filho que além de mata-la, a impediu de ter um funeral decente, com pessoas que se importavam com ela, a impediu de ser enterrada com o anel que ganhou de Romero e, principalmente, a impediu de MORRER de fato. Que aflição eu senti vendo aquele corpo sendo carregado, jogado pra lá e pra cá, as pálpebras sendo coladas  e tudo mais.

Apesar da negação e de ter pensado em se matar quando chegou à conclusão de que Norma estava morta, Norman está usando a própria doença para se manter na sua zona de conforto. Ele lembra que Norma iria deixar Romero, mas não lembra que ele a matou. Fala de um plano maior, incluindo apenas eles dois para sempre, mas joga fora os remédios. É louco o suficiente para desenterrar e deitar no sofá da sala um cadáver, mas são o suficiente para lidar com a papelada. Ele coloca a arma na boca, mas não puxa o gatilho porque o piano começa convenientemente a tocar.

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Mesmo com algumas questões inacabadas, este poderia facilmente ser o encerramento definitivo da trama. Dylan e Emma em Seattle, Alex preso, Norman cuidando do motel com a Norma fantasma e o cachorro zumbi. Mas temos uma temporada inteira pela frente com um leque de possibilidades até que a série encontre o filme. A dinâmica será totalmente nova, e a maior questão aqui é o que eles farão com esses personagens que não podem ser simplesmente deixados de lado em uma temporada final.

Apesar de alguns episódios lentos (e chatos, vamos combinar) e apesar da Rebecca, a quarta temporada termina como a minha favorita da série, por ter desenvolvido os personagens melhor que as anteriores e por ter sido mais corajosa e ousada que a série jamais foi. Bates Motel encontrou sua essência neste quarto ano, uma essência densa, assustadora, bizarra, insana e emocionante.

Algumas observações:

– Acho que não veremos mais a mãe da Emma. Deram chá de sumiço na coitada mesmo.

– Senti um flerte da maquiadora de defunto com o Norman.

– Aliás, o que o Norman vai arrumar para ficar dez anos com o defunto no sofá? Ele disse que não queria tratar quimicamente o corpo, será que mudou de ideia?

– Coitado do moço que consertou o aquecimento. Só queria ajudar e ainda tomou umas porradas do Alex.

– Proponho um bolão nos comentários: quem vocês acham que não volta pra próxima temporada? Dylan? Emma? Alex? O vizinho gigante? Rebecca (por favor, digam Rebecca)?

– Tem uns arquivos rolando por aí com cenas faltando, fiquem de olho quando baixarem 😉

Foi uma aventura e tanto cobrir essa temporada com vocês. Agradeço a todos que leram e, principalmente, aos que comentaram as reviews. Espero que tenham gostado tanto quanto eu. Até a próxima!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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