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Big Little Lies – 1×02 Serious Mothering

Por: em 5 de março de 2017

Big Little Lies – 1×02 Serious Mothering

Por: em

“O que tem lá fora?”, pergunta a pequena e sábia Chloé, “o que você está procurando no oceano?” Madeline tenta desconversar, mas logo se rende ao questionamento da filha. Ela procura alguma coisa – que não sabe explicar bem o que é – enquanto reconhece o poder, imensidade e profundidade do mar. “Quem sabe o que está lá fora sob a superfície […] Monstros? Talvez. Sonhos, tesouros afundados. É o grande desconhecido”, Madeline responde. Serious Mothering, segundo episódio de Big Little Lies, traça a mesma reflexão ao nos convidar a mergulhar na imensidão de seus personagens e a indagar quais são seus sonhos, tesouros e monstros.

A começar pela própria Madeline, a mãe de Chloé e Abigail, esposa de Ed, ex-esposa de Nathan, que apesar de não ter um emprego definido, luta para superar essas “funções” e tirar a produção de sua peça de teatro do papel. Essas não são batalhas muito fáceis, mas não há ninguém mais preparado para uma briga do que Madeline. Como Ed observa muito bem, a personagem de Reese Witherspoon coleciona batalhas: a peça que está sendo recusada porque é muito controversa, a festa da filha de Renata que propositalmente excluiu Ziggy, as pílulas de Abby e a intervenção da madrasta na criação da filha mais velha.

Todas essas brigas poderiam fazer Madeline se perder rapidamente durante o episódio ou, na pior das hipóteses, torná-la insuportável, mas a extensão desses conflitos e o empenho dela com cada assunto é proposital. Madeline ocupa sua agenda e mente com problemas muitas vezes superficiais para tapar o vazio que sente. Ela é e preenche todas as funções sociais, mas ainda falta alguma coisa que ela não sabe como suprir. O problema mais “profundo” de sua narrativa é a sobrevivência da peça e ela já mostrou que está disposta a fazer tudo para manter a produção de Avenue Q funcionando. E sobre a possibilidade de Madeline ser insuportável… Bom, ela é quase nula por alguns motivos e o mais importante dele é a atuação de Reese Witherspoon. Grande parte do carisma da personagem é culpa do trabalho de Reese em sua caracterização. A convicção que Madeline exibe em ser cortês com alguém para no momento seguinte dizer algo ácido sobre a mesma pessoa é impressionante e Reese faz essas transições parecerem naturais.

Ainda sobre Madeline, Serious Mothering dedica muito tempo para investigar seu relacionamento com Ed e ampliar a participação do parceiro na história. Diferente de sua esposa, Ed não é uma pessoa que tem o carisma como característica intrínseca, mas isso não significa que ele queira ser coadjuvante da própria vida. Fica evidente nesse segundo episódio que se Ed parece confortável com sua colocação à sombra de Madeline é porque ele quer que isso seja dessa forma. É claro que essa posição não é totalmente consciente para a sua “cara metade” – ou como ele definiria, “sua única” -, mas Ed tem uma qualidade que é exceção em Big Little Lies: ele sabe descrever o que sente. A discussão com Madeline é o momento que ele decide se abrir para a esposa e expor os problemas da relação. Apesar de sentimental – e os olhos lacrimejando já no final da conversa demonstram isso -, cada palavra de Ed tem um objetivo claro e atinge o núcleo da insatisfação de seu casamento.

Quando Madeline conversa com Celestre sobre a briga com o marido, ela aparenta demonstrar a mesma qualidade: ela entende que sua obsessão com a vida de Nathan não tem nada a ver com a falta de paixão por Ed, mas com uma irritação e ressentimento que ela vem alimentando por muito tempo. Do outro lado da mesa, lucidez não é uma palavra que usaríamos para descrever o relacionamento de Celeste e Perry. Aliás, a falta dela parece ser o que define o que acontece entre os dois.

A situação do casal é certamente a mais delicada da série e se você ler a descrição de um relacionamento abusivo no dicionário não duvido que apareça uma foto dos dois para ilustrar. A pequena e súbita cena de violência que observamos em Somebody’s Dead provou ser parte central da relação. Qualquer pequeno problema – como Celeste não fornecer informações específicas sobre o primeiro dia de aula dos filhos – pode ser motivo para Perry perder a paciência e se tornar agressivo com a esposa. E pelo jeito, a violência física está muito relacionada com a atração física e sexual dentro do relacionamento.

Como Big Little Lies acompanha a perspectiva de Celeste, é interessante observar como ela se sente e o que está pensando. Um dos caminhos que a série toma para entendermos o que se passa na cabeça de seus personagens é a utilização de flashbacks que mostram momentos importantes do episódio. Quando isso é usado com Celeste, a cena em que Perry empurra celeste contra o armário é a que se repete em sua mente. É evidente que ela está incomodada com a situação, mas ainda não sabe se as atitudes violentas do marido extrapolam uma linha de normalidade. E se essas ações são anormais – e para deixar bem claro: elas não são normais em nenhum tipo de relacionamento -, como ela pode lutar por sua felicidade e pela sobrevivência de seu casamento?

Mas se conseguimos olhar o que mora em baixo da superfície de Celeste e Madeline, o mesmo não pode se dizer para Jane. Em contraposição ao primeiro episódio que colocou a personagem como protagonista do drama, Serious Mothering propositalmente deixa Jane um pouco de lado e suas cenas levantam mais perguntas do que respostas: Onde está o pai de Ziggy? Por que eles se mudaram para Monterrey? E – como bem aponta um dos entrevistados pela polícia – ela está fugindo de alguma coisa? Quais são seus monstros, sonhos e tesouros escondidos? Os mistérios que cercam a existência de Jane são aqueles trazidos de seu passado mesmo que tudo o que ela queira seja seguir em frente. Um novo emprego pode surgir a qualquer momento e um possível romance com o garçom do café até que parece uma boa ideia, mas – infelizmente – ninguém consegue fugir de seus problemas por muito tempo e Ziggy não está tão disposto a deixar tudo para trás.

A ausência de informações sobre o passado de Jane não é o único mistério de Big Little Lies, mas a série não fez questão de apresentar alguma informação nova sobre a investigação do assassinato. Por enquanto, apenas flashs da fala dos policiais aparecem durante o episódio e as entrevistas surgem em momentos específicos para fazer comentários amargos sobre os personagens e situações que já estão fora de seu contexto.

No entanto, o grande acerto da série é não deixar o crime tomar conta de sua narrativa. Ele ainda está lá, ele ainda é assunto e ele será desvendado em algum momento. Mas os conflitos que tomam conta da vida de seus personagens principais são tão cativantes quanto o assassinato, afinal o que acontecerá no futuro não é tão importante quanto as razões que fizeram essa situação acontecer.

Outros comentários:

– Madeline repassando suas falas da discussão com Bonnie representa cada um de nós que não consegue simplesmente deixar uma briga para lá.

– Quero um vídeo com todas as vezes que Madeline revira os olhos.

– E por falar em discussão, a minha preferida do episódio é a de Ed e Nathan. A intimidade que Nathan tenta forçar e o incômodo de Ed por ter que estar ali eleva a tensão que já existia entre os dois. E apesar de amar os trabalhos anteriores do Adam Scott, eu nunca o vi tão bem assim.

– Eu nunca pensei que me importaria tanto com o drama de crianças que ainda estão na primeira série, mas o clima está ficando intenso dentro daquela escola.

E você? Gostou do episódio de Big Little Lies? Deixe seu comentário!


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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