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Black Mirror – 3×02 Playtest

Por: em 21 de outubro de 2016

Black Mirror – 3×02 Playtest

Por: em

Realidade virtual, gráficos cada vez mais desenvolvidos, roteiros e tecnologias aperfeiçoadas todos os dias para atender a um público exigente, fiel e exponencial. Os bilhões de dólares movimentados pela indústria dos games, o sucesso das salas Escape e a recente febre mundial de Pokémon Go são uma prova de que as pessoas buscam experiências eletrônicas cada vez mais conectadas ao que conhecemos como realidade. Bom, apesar de parecer tratar justamente deste tema, Playtest não falou sobre games, e sim sobre um processador mais potente que qualquer supercomputador: o cérebro humano.

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Cooper era um aventureiro, um viajante que se desafiava em experiências extremas ao redor do mundo para acumular memórias enquanto tinha tempo, já que carregava no DNA uma tendência para o Alzheimer. O mundo apresentado em Playtest é muito mais parecido com o nosso que o de Nosedive. Ironicamente, os personagens do episódio anterior, sempre tão empenhados em “ganhar estrelas” por suas ações e interações, são muito mais parecidos com a nossa geração focada em redes sociais que o rapaz que visita as paisagens mais incríveis do planeta para estocar recordações e conhecimento, em vez de likes. Cooper tinha medo de ser traído pelo próprio cérebro, mas nunca imaginou que isso aconteceria de uma forma tão inusitada.

Toda a nossa vida é monitorada e vendida em forma de dados para empresas que direcionam propaganda e conteúdo para públicos específicos. As ofertas que recebemos, as postagens que vemos em nossas timelines, as sugestões que o Google nos dá, tudo é fruto do nosso perfil de comportamento na internet. A forma como navegamos hoje em dia é quase uma impressão digital, completamente personalizada. Levar esse conceito para o mundo dos jogos faz todo o sentido! Por que criar milhares de jogos de horror que atendam a nichos diferentes se você pode fazer um jogo apenas, que seja a experiência mais aterrorizante para todas as pessoas, porque se baseia em seus medos mais profundos?

O problema é que mesmo que tudo aquilo fosse real, se toda a experiência fosse de fato gerada por um software, ainda assim um limite teria sido ultrapassado. Mesmo em jogos em primeira pessoa, mesmo em simuladores, para que exista prazer no jogador, é preciso que ele não duvide da sua segurança. É isso que diferencia o medo que se sente em um avião em turbulência, da adrenalina que se sente em uma montanha russa perfeitamente segura.

É interessante notar que quanto mais Cooper “acordava” das experiências, mais o jogo parecia complexo e genial. A revelação de que o jogo, da forma como imaginamos, não existiu nem por um instante, foi surpreendente. E saber que tudo aquilo aconteceu em milésimos de segundo dentro da cabeça dele simplesmente explodiu a minha, e deixou a sensação de que já nascemos com o software mais potente do mundo instalado na versão de fábrica. Houve certa semelhança com o conceito de cookie que a série já trabalhou em outras histórias, que avança anos em segundos… mas acontecendo sem o cookie. Teoricamente.

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Bem, no momento em que ele estava fotografando o equipamento para enviar para Sonja, ele escuta um barulho na porta e a cena corta para ele já sentado em seguida, com a mala fechada e o celular no lugar de antes. É possível que algo tenha acontecido naquele espaço de tempo? Que ele tenha sido flagrado e tudo o que vimos tenha sido apenas mais um nível daquela abstração? Há uma remota possibilidade de retomar este ponto em algum futuro episódio de ligação, como foi o especial de natal.

Black Mirror continua com uma qualidade técnica incrível, e um roteiro irônico, crítico, questionador e nada didático. Curtiu? Deixe seu comentário e continue acompanhando a nossa maratona aqui no Apaixonados por Séries!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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