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Black Mirror – 3×04 San Junipero

Por: em 21 de outubro de 2016

Black Mirror – 3×04 San Junipero

Por: em

Quando estavam decidindo quem iria participar das reviews de Black Mirror, eu decidi que tinha que participar. Tecnologia é uma das coisas que move o meu dia a dia. Além disso, eu estava em Londres na estreia da segunda temporada (#humilde) e os comerciais eram a coisa mais assustadora que eu vi na vida, não no sentido filme de terror, mas um medo de algo que pode mesmo se tornar real. Foi por esse motivo que eu só assisti ao episódio da Hayley Atwell na época. Mas a gente tem que enfrentar nossos temores para nos tornarmos fortes.

Os episódios foram distribuídos aleatoriamente e qual não foi a minha surpresa ao ver que fiquei com o episódio dos anos 80? Eu adoro essa temática e muitas das minhas músicas favoritas são dessa época. O episodio começa e estamos acompanhando um romance lésbico. Já fiquei apreensivo pois, geralmente, casais gays de meninas tem finais traumáticos em séries. Como Black Mirror é conhecida pelas histórias pesadas, já esperei o pior. E como estou feliz por ter sido enganado.

Nós acompanhamos a chegada de Yorkie (Mackenzie Davis, de Halt and Catch Fire) na cidade de San Junipero, uma cidade destinada à diversão e ao prazer. Em sua primeira noite, ela conhece Kelly (Gugu Mbatha-Raw, de Undercovers), uma mulher sem inibições que só quer aproveitar o que a cidade tem de bom. Eu gostei muito como a estória foi construída. Até quase a metade, temos certeza que tudo se passa em 1987. Eu já estava desconfiando que esse episódio não seria sobre tecnologia e abordariam a lenda urbana do jogo Polybius de alguma maneira. É claro que são jogadas pistas, como o fato de só terem 1 noite por semana na cidade, mas isso só fica claro depois.

Black Mirror 3x04 Yorkie e Kelly brindam

Então, após uma noite de entrega, Kelly desaparece e Yorkie decide procurá-la em outras décadas. E aqui entendemos que se trata de algum tipo de realidade virtual. O modo como utilizam a música e a moda para mostrar o ponto no tempo é muito bem feita. Quase dei um grito quando vi Alanis Morissette e P!nk. Mas o que mais me marcou foi quando Kelly soca um vidro, a câmera foca na sua mão para mostrar que não há sangue e depois mostra o vidro intacto. É a primeira cena que fica explicito que se trata de uma simulação.

Kelly explica que fugiu pois não queria começar um envolvimento emocional, ela é apenas uma turista em San Junipero. E aqui começa a espiral de descida. Yorkie pergunta qual deve ser a porcentagem de mortos entre os locais da cidade. San Junipero é uma cidade criada para que as pessoas possam fazer upload de suas consciências no momento da morte e viverem para sempre. Kelly tem 3 meses de vida. Até o momento, sabemos que Yorkie tem um noivo e seu casamento será em poucos dias, portanto não retornaria na próxima semana, é o que imaginamos. Durante a conversa, Kelly decide que quer conhecer Yorkie pessoalmente e, mesmo reticente, Yorkie aceita.

Black Mirror 3x04 Kelly autoriza a eutanásia de Yorkie

E foi aqui que eu comecei a chorar compulsivamente. Em nenhum momento eu pensei que quem estivesse em San Junipero pudesse mudar de aparência, mas faz todo sentido, nós já fazemos isso em todo jogo de imersão. Kelly é uma mulher idosa e Yorkie está em estado vegetativo há 40 anos. Yorkie vai se casar com seu cuidador para que ele possa autorizar a sua eutanásia. A cena de Kelly voltando à cidade para pedir Yorkie em casamento para poder ser ela a responsável pela passagem de sua amada é uma das coisas mais bonitas que eu já vi na vida.

E então entramos na real discussão do episódio. Yorkie quer que Kelly se junte a ela para que possam ser felizes juntas para sempre, mas Kelly já havia decidido que não queria isso. Sua filha morreu jovem e não teve essa oportunidade e seu marido decidiu que ele também não deveria ter. Kelly não acredita em um pós vida espiritual e entende que tudo o que acontece em San Junipero faz parte de um programa. Quer dizer, se estão dentro de um computador, será que estão mesmo vivendo nessa cidade ou tudo não passa de uma simulação? Pode chegar o momento em que conseguiremos copiar a nossa consciência para um computador, mas será que seremos nós? Ou apenas cópias agindo com base em um modelo?

O final pode ser feliz ou triste, depende da sua visão. Kelly (a verdadeira protagonista) decide morrer e entrar em San Junipero. Enquanto acompanhamos a vida das duas cheias de alegria e festas, vemos que tudo se passa dentro de um grande servidor em uma empresa de tecnologia. Isso significa que essa eternidade é frágil o suficiente para ser deletada por uma falta de energia ou um terremoto que derrube o prédio ou a simples falência da empresa. Eu me lembro do caso de uma empresa que prometia congelar pessoas pelo tempo necessário até que a ciência descobrisse a cura para a doença que os matariam. A empresa faliu e até hoje nenhum familiar conseguiu localizar o corpo de seus entes queridos.

Black Mirror 3x04 Servidor da Tckr systems

Eu prefiro acreditar no amor. Eu prefiro pensar que, assim como diz a música de encerramento, o Céu fica em um lugar na Terra. Sendo San Junipero real ou não, Kelly e Yorkie tomaram as suas decisões sozinhas. Elas foram as responsáveis pelos seus destinos. E agora, elas estarão unidas, sendo pela tecnologia que as mantém ou pela terra que as envolve. Isso é amor. Isso é vida.

Finalizando, eu fiquei muito feliz por ter assistido esse episódio. Ele foi escrito pelo criador da série, Charlie Brooker, então não poderia esperar nada menos do que a perfeição. A utilização da letra das músicas de fundo para complementar a estória foi maravilhosa (assistam com a legenda em inglês com áudio descrição que vão entender o que estou falando). Os cenários muito convincentes na primeira parte e a mudança para o visual futurista na segunda foi sublime. A cena de sexo foi de extremo bom gosto, servindo apenas para contar a estória e não para explorar o corpo feminino. Essa é uma estória de amor. E é isso que eu quero que vocês sintam ao terminarem o episódio e esse texto. Amor. Todos nós merecemos amor. Nós só temos que nos permitir encontrar onde está nosso Céu na Terra.


E você, o que achou desse episódio de Black Mirror? Ficou sentindo borbulhas de amor como eu? Ou ficou com medo desse conceito de viver eternamente em um computador? Vai ver os outros episódios? Conta tudo nos comentários.


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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