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Designated Survivor – 1×02 The First Day

Por: em 1 de outubro de 2016

Designated Survivor – 1×02 The First Day

Por: em

“Por que você está tão surpreso? A tragédia faz as pessoas apreciarem seus compatriotas ou ensina-as a temê-los.” – Seth

Caos – ou o dia em que o “quatro-olhos” se transformou em fênix.

Designated Survivor começa a mostrar a que veio. The First Day manteve o ritmo frenético do piloto e revelou a fórmula que pautará o restante da temporada: terrorismo, medo, intolerância, guerra, islamofobia, racismo. Tudo isso tendo Washington como pano de fundo, sob o comando de um Presidente que, apesar do idealismo e das boas intenções, era apenas o décimo primeiro homem na linha de sucessão presidencial.

Soa um tanto familiar?

A receita parece um tanto batida, já explorada à exaustão, e eu admito que sempre fico um pouco receosa com séries do gênero, justamente porque a linha entre o êxito e a pretensão é bastante tênue. Sabemos bem como produções americanas tendem a ser um tanto pedantes quando o tema é “a terra dos homens livres” e o patriotismo exacerbado que nunca falha em acompanhá-la. Ainda é um pouco cedo para afirmar categoricamente, mas, por enquanto, a série tem conseguido transitar entre um tema e outro com destreza e inteligência, desviando com sucesso destes lugares-comuns. À mim, confesso, tem sido impossível assistir à série sem lembrar constantemente do 11 de setembro, o que não é necessariamente um demérito. O tom de tragédia, caos e o orgulho nacional ferido aliado à um sentimento primitivo de vingança estão ali, saltando aos nossos olhos.

E o Tom Kirkman de Kiefer Sutherland é um dos maiores triunfos da série. Ele é o retrato perfeito do político em extinção, cheio de ideais e boas intenções, ainda não contaminado pelo jogo do poder. Por isso mesmo, talvez, um político sem muita expressão, vítima de sua própria ideologia e ingenuidade. Em uma realidade dominada por tipos como Frank Underwood (e Donald Trump), Kirkman é uma brisa de ar fresco. Exonerado pelo então Presidente justamente no dia do atentado, ninguém – nem ele mesmo – acredita que é capaz de administrar o país mais poderoso do mundo.

O que não vai impedi-lo de tentar, claro.

Se falta experiência e manejo no jogo político, sobra-lhe vontade para fazer o que é certo. Sob pena de trair seus valores e transformar-se no tacanho governador Royce, Kirkman é irredutível: só vai agir quando o FBI, a CIA e quem mais estiver envolvido nesta investigação puderem atribuir a autoria do ataque inequívoca e irrefutavelmente à Al-Sakar, uma espécie de “filial” da Al-Qaeda espalhada pelo norte da África. Ao contrário do governador de Michigan, o Presidente não está disposto a deixar o medo, a insegurança e a intolerância escravizarem os Estados Unidos da América.

“Enquanto você está ocupado tentando aprender a ser Presidente, eu tenho 10 milhões de cidadãos para proteger.” – Governador Royce

Kimble Hookstraten - Designated Survivor

Se não tinha ficado claro no episódio piloto, agora, graças à apresentação de Kimble Hookstraten, a “sobrevivente designada” do Partido Republicano, sabemos que Kirkman é um Democrata, o que faz muito sentido, considerando o que nos foi mostrado até agora.

Kimble, por sua vez, ainda não disse a que veio, mas seu discurso cheio de clichês do tipo “somos todos americanos” já soava falso e caricato antes mesmo de vermos aquela última cena em que ela investigava avidamente a vida pregressa de Tom… Ela tem seus próprios planos, sem dúvidas. Aguardemos as cenas dos próximos episódios.
Outra personagem intrigante que ainda conhecemos pouco é Hannah Wells, a talentosa agente do FBI com um passado tão misterioso quanto dramático (Olá, Maggie Q.!). Quando ela diz que acha estranho que nenhum grupo terrorista tenha assumido a autoria do atentado, e sugere que aquela bomba não detonada pode ter sido proposital, eu acredito nela. Quem quer que tenha premeditado este ataque ainda não acabou. Estou curiosa pelo desenvolvimento dela.

Hannah Wells - Designated Survivor
À Seth Wright coube a ingrata tarefa de retratar o racismo enraizado na cultura americana, especialmente através do viés da truculência policial. Tão velho quanto a própria Humanidade, porém mais atual do que nunca. A ironia de que isto aconteceu justo com o cara que escreve os discursos do Presidente – e que está rapidamente tornando-se seu confidente – não passou despercebida, e serviu para aproximar a Casa Branca da brutalidade do preconceito e da islamofobia que tantos “Dannys Fayeds” enfrentam país afora, humanizando-os. Para Seth, foi apenas mais um dia qualquer. O policial confortando-o por sua perda naquela cena final, entretanto, acalenta nossos corações e nos diz que ainda há esperança. Nem tudo está perdido.

“Quando as pessoas não sabem quem é o inimigo, elas desconfiam de pessoas que se parecem comigo.” – Seth

Cochrane, o cético general do exército americano, também promete ser uma pedra no sapato do Presidente. O seu incômodo com a figura de Kirkman e tudo o que ele representa é palpável (e irritante), mas o que eu realmente quero saber é qual será o papel de Aaron nisso tudo. O antigo Chief of Staff do Presidente assassinado meio que está ali sem ser convidado, intruso, mas servindo como o absoluto oposto de Emily, braço-direito de Kirkman.

A boa notícia é que a ABC, que tinha anunciado uma temporada de estreia com apenas 13 episódios para Designated Survivor, acaba de encomendar uma temporada completa da série, com 22 episódios. Isso pode ser uma faca de dois gumes, claro. Lembram do que eu disse no início desta review? Aquela linha tênue continuará ali, pairando sobre esta reta inicial, mas até agora realmente não tenho muito do que reclamar, já que a série me surpreendeu positivamente em um gênero já tão esgotado. Mais tempo para desenvolver arcos e personagens também pode beneficiar uma série bem escrita, bem dirigida e com um elenco afiado.

E vocês, o que acharam?

P.S.: O que me deu mais preguiça até agora foi a vida familiar de Tom. Alex, Penny e Leo pareceram um tanto deslocados nestes dois primeiros episódios, e eu confesso: já não tenho mais paciência nenhuma para adolescentes rebeldes.


Gabriela Guimarães

Sonhava em ser jornalista como a Rory, mas acabou bacharel em Direito e Letras. Apaixonada por cafeína, música, livros, séries de tv - boas, ruins e mais ou menos -, será eternamente uma garota Gilmore.

Curitiba / PR

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Sex and the City

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