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Dupla Identidade

Por: em 20 de setembro de 2014

Dupla Identidade

Por: em

A Globo apresentou nesta sexta-feira, 19 de setembro, a nova série de Gloria Perez, Dupla Identidade. Sob a direção de Mauro Mendonça Filho, a trama revela detalhes da mente de um serial killer. O elenco é encabeçado por Bruno Gagliasso, Débora Falabella, Luana Piovani e Marcelo Novaes, e conta ainda com nomes como Marisa Orth e Aderbal Freire Filho.

Edu

Vera: Ele vai estar olhando dentro dos olhos dela enquanto a vida se apaga. Nesse momento, ele é Deus.

Já nos primeiros minutos o espectador é apresentado ao lado mais sombrio de Edu (Bruno Gagliasso), um feminicida que já fez diversas vítimas sem deixar qualquer pista. Meticuloso e frio, ele engana, rapta e assassina  a jovem modelo Mariana (Yanna Lavigne), amante do senador Oto (Aderbal Freire Filho). A ação neste arco da trama flui com naturalidade, sem a necessidade de grandes explicações para que o público entenda o que está acontecendo.

E naturalidade é justamente o que falta no núcleo policial, representado pelo Delegado Dias (Marcelo Novaes) e pela psicóloga forense Vera (Luana Piovani). Eles discutem os assassinatos e divergem sobre o que acreditam ser o perfil do autor dos crimes. O texto peca pelo excesso, por adotar um tom didático demais. Em diversos momentos a personagem de Piovani faz apenas uma narração linear dos acontecimentos.

A ação também não ajuda: enquanto o texto sugere uma certa tensão sexual entre os dois, na tela o que vemos é uma total falta de química em Vera e Dias – até mesmo  como parceiros. Ainda que os personagens tenham opiniões diferentes sobre a existência de um serial killer, o que falta é sintonia e alinhamento entre seus  intérpretes. Mas isso é algo relativamente comum no início de uma produção, cabe a Novaes e Piovani virar o jogo daqui pra frente.

E é claro que para esconder um assassino perigoso, Edu precisaria de um disfarce e tanto. O Ted Bundy tupiniquim é advogado, estudante de psicologia e tem grandes aspirações políticas. Como assessor de Oto, Edu ironicamente sugere que o senador se apodere da pauta de violência contra a mulher  para alavancar sua campanha. Ele se aproveita disso também para obter informações de dentro da polícia sobre as investigações dos crimes que ele mesmo cometeu.

ray

Apesar da grande performance de Gagliasso, a grande presença desta estreia foi a de Débora Falabella na pele de Ray, uma mãe solteira e produtora de moda com problemas de auto-estima que conhecia Mariana, a garota assassinada. Morena Baccarin chegou a ser cotada para o papel, mas vendo como Débora magnetiza todas as atenções quando está em cena se torna impossível acreditar que alguém faria uma Ray melhor.

É fácil se identificar com a garota comum que nem acredita quando um homem bonito, culto, ambicioso e sedutor se aproxima dela. Bem, é provável que Edu tenha se aproximado justamente pela aparente simplicidade de Ray, pois ao que parece ele quer usá-la como parte de seu disfarce de cidadão exemplar, e não torna-la uma de suas vítimas (ainda). A personagem sofre do transtorno de personalidade borderline, mas nada foi mostrado sobre isso neste episódio. Bem… algo me diz que forninhos cairão com a atuação de Débora nas cenas de mania e depressão.

Além do drama psicológico e da trama policial, a política é mais um tema abordado em Dupla Identidade, centralizado  especialmente no senador Oto, mas envolvendo também o Delegado Dias, que ambiciona o cargo de secretário de segurança. Silvia (Marisa Orth) e Junior (Bernardo Mendes) completam este núcleo, como a esposa e o filho do senador, que acaba se tornando o principal suspeito dos crimes cometidos por Edu depois que é revelado seu envolvimento amoroso/sexual com Mariana.

Há pontos a melhorar especialmente no núcleo policial. Falta dinamismo na edição das cenas de perícia e nos diálogos de Dias e Vera. Entre o que funcionou bem, sem dúvidas pode-se destacar o olhar final de Edu para mais uma de suas vítimas: foi como ver uma fera encarando a sua presa. De forma geral, o piloto prende a atenção do público e cumpre bem o objetivo de apresentar os personagens e atrair a audiência para o próximo episódio. Vale dar uma chance, mesmo que você não seja muito fã das produções globais.

edu2

Algumas observações:

– Gloria Perez não nega a influência de séries americanas na construção de Dupla Identidade, mas até a abertura se parece com a de American Horror Story!

– Mais uma vez a autora buscou inspiração nos livros da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, que já havia trabalhado com Perez para construir a psicopata Yvone, de “Caminho das Índias”.

– A qualidade da imagem é impecável, mas o áudio pareceu levemente desajustado em alguns momentos.

– Muito interessante a transição sem vinheta entre a série e os comerciais.

– A fotografia conseguiu a proeza de deixar o Rio de Janeiro soturno, mesmo em plena praia de Copacabana.

– E por falar em Copacabana, desde “As Noivas de Copacabana” a Globo não fazia uma obra tão interessante  sobre feminicídios em série. Ah! E ela também era protagonizada por um Falabella, só que era o Miguel.


E você, leitor? Já assistiu? Ficou curioso? Se sim, não deixe de acompanhar as reviews aqui no Apaixonados por Séries!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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