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Fargo – 2×05 The Gift of the Magi e 2×06 Rhinoceros

Por: em 23 de novembro de 2015

Fargo – 2×05 The Gift of the Magi e 2×06 Rhinoceros

Por: em

Uma das coisas que me fascina (e, acredito que a vocês também) em Fargo é como a violência é retratada e usada para entreter. The Gift of The Magi e Rhinoceros mostram como a série faz isso tão bem e consegue criar momentos de diversão e tensão.

The Gift of the Magi (em português, O presente dos Magos) é um conto sobre um casal que faz sacrifícios para encontrar presentes de Natal um para o outro. Escrito por Henry O., a história intitula o quinto episódio de Fargo e guia a história de Peggy e Ed. Quais sacrifícios os Blumquists estão dispostos a fazer um pelo outro? E mais importante, o que eles precisam deixar para trás para sobreviver?

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Há algo hipnotizante e misterioso em Ed e Peggy que faz a experiência de assistí-los prazerosa. Pode ser a ambição ilusória de Peggy ou a lentidão de Ed. Pode ser a dificuldade que eles têm para se comunicar ou a inevitabilidade da união nos momentos difíceis. É difícil entender ou tentar adivinhar o que reúne os dois, porém, desde o primeiro episódio e do desafortunado atropelamento de Rye, o casal se mostra cativante e imprevisível.

Essas características dos Blumquists persistem nesses episódios e se provam mais importantes do que nunca.

Frente à ameaça da família Gerhardt anunciada no episódio anterior, Peggy decide que a melhor coisa a se fazer é fugir. Ela vai para o porão da casa e observa as suas revistas (as mesmas que fazem Ed mudar de cadeira no primeiro episódio, deixam Hank em pé e, de certa forma, a salvam) para decidir quais levar para a Califórnia. Pela quantidade de revistas empilhadas, percebemos que Peggy não se desfaz facilmente das coisas. Partir é necessário e inevitável, mas o elo com Ed evita a fuga.

O marido, no entanto, só percebe a urgência do problema quando os Gerhardt batem à sua porta prontos para matá-lo. E em uma sequência violenta, Ed mostra que a vontade de sobreviver, às vezes, pode ser suficiente. Ed é lento, atordoado e não chega perto da descrição que Hahnzee e Dodd fazem para estimular as ações de Floyd. Mas The Butcher of Laverne é determinado e isso pode levá-lo a fazer quase tudo.

Porém, a chegada de viaturas indica que é tarde demais para Ed e Peggy. Os segundos finais do quinto episódio consagram a atuação de Kirsten Dust, que foi tão consistente até agora. A maneira como ela domina e consegue encontrar espaço entre o desespero de Ed para falar é impressionante. Os instantes silenciosos que seguem mostram uma surpresa que não ainda vimos na personagem.

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Assim, lentamente nos afastamos do casal e em Rhinoceros, nos aproximamos novamente para ver Ed ser levado por Lou, enquanto Hank fica na casa com Peggy.

Voltando à cena da quase-morte de Ed. A batalha entre a máfia de Kansas City e os capangas dos Gerhardts no começo do episódio contrasta com esse segundo momento. Ambas são extremamente violentas e intensificam a ação com a ausência de trilha (a música começa a tocar apenas no momento em que a morte está próxima, quando Virgil está com as mãos no pescoço de Ed e Joe Bulo encara Hahnzee), mas é só na segunda cena que a vida realmente importa.

Apesar de colocar fim a dois personagens importantes, a batalha era uma luta fria. Os ambientes, novamente contrastantes, conseguem indicar isso. O irmão Kitchen e Joe Bulo eram peças. As mortes são relevantes, mas dentro do contexto de guerra. Elas evidenciam a dimensão e motivam uma reação mais enérgica da máfia. Quando encontramos Mike Milligan e o outro irmão, percebemos que o luto está mais próximo da vingança.

Mas, no segundo momento, a conversa com Noreen e a simpatia inicial de Ed tornam a missão de Charlie mais difícil. Eles não são apenas mais corpos no caminho de um assassino e, por sorte, Charlie não está tão preparado para matar como ele gostaria e esperava. Charlie quer ajudar a família e percebe que a maneira exposta pelo tio não é tão fácil.

No episódio seguinte, as cenas flertam com a violência e têm instantes de pura tensão. O sexto episódio, que para mim é o melhor episódio dessa segunda temporada até agora, explora confrontos que foram construídos desde o início.

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Na ausência de Hank derrubado por Hahnzee, Peggy enfrenta metade do grupo dos Gerhardts que foi enviada para acabar com a vida do marido. Em uma sequência de comédia e erros de Dodd, a série mostra, novamente, que a vontade pode ser suficiente para sobreviver.

Ed, no entanto, depende da inteligência de Lou para sair dessa vivo. Frente à outra metade dos Gerhardts, o policial usa Karl – o melhor e único advogado da cidade – para enrolar e convencer Bear – que estava sumido, mas assume um papel essencial quando começa a evidenciar sua desconfiança com o irmão – que a melhor coisa para o futuro de Charlie é deixá-lo lá e não começar uma guerra no departamento de polícia.

Bear segue para casa para encontrar, provavelmente, um cenário de carnificina, onde a máfia de Kansas – motivada pela ligação de Simone e liderada por Mike – abriu fogo contra Floyd e todos que estavam lá no momento. E Hahnzee fica na cola de Lou e Ed, que voltaram para a casa dos Blumquists, para terminar o que começou.

Três momentos que deixam possibilidades abertas. Ou seja, é claro que mais sangue deve escorrer até o final da temporada, mas Fargo tem feito um trabalho incrível até aqui e principalmente nesses dois episódios para criar momentos de suspense, em que todos os personagens são extremamente necessários e conseguem ser desenvolvidos.

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Outros comentários: 

  • Ronald Reagan, interpretado por Bruce Campbell, teve uma participação importante no quinto episódio. O ônibus de sua campanha abre o episódio e acompanhamos ele durante os discursos motivacionais que conseguem cativar até mesmo os mais céticos, como Karl Weathers.
  • Karl: “If you get the chance, ask him if it’s true that Joan Crawford had crabs.” / Lou: “Yeah, I’m not gonna do that.”
  • Rhinoceros é o nome de uma peça de Eugene Ionesco sobre uma cidade francesa onde as pessoas se tornam rinocerontes. A peça trata sobre conformidade, tomar decisões em grupo e é lida como uma metáfora do surgimento do facismo.
  • Hank: “Son, I can fill a steamer trunk with the amount of stupid I think you are, but no, that’s where he went.”
  • Ao ser perguntada se teria algo para dizer à Dodd, Simone diz: “kiss my Grits”, citando Alice, uma série de 1976. A fala inspita Mike a declamar o poema Jabberwocky de Lewis Carroll.
  • Por que Hank não foi checar se a Peggy estava bem?!
  • A FX confirmou a terceira temporada de Fargo!

 


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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