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Feud: Bette and Joan – 1×02 The Other Woman

Por: em 16 de março de 2017

Feud: Bette and Joan – 1×02 The Other Woman

Por: em

O segundo episódio de Feud: Bette and Joan focou sua história no nascimento da rusga entra as divas do cinema e, mais uma vez, aproveitou o momento para nos fazer refletir sobre o ainda presente machismo engrenhado na indústria cinematográfica. Foi um capitulo mais suave em termos estilísticos, pois ficou centrado nos mesmos cenários por mais tempo, mas cheio de crítica e conteúdo para ponderarmos. Vamos rever o que aconteceu em The Other Woman.

Eu já adorei o título, pois, durante a hora de espetáculo, nós vamos tentando decifrar quem seria a “outra mulher”, quando, na verdade, não importa quem ela seja, desde que uma mulher pense que há outra para tomar o seu lugar e, assim, fique sob controle. O início é bem poderoso, quando Bette e Joan se unem para se livrar a atriz coquete iniciante. É uma demonstração muito perigosa de poder feminino e que lhes custou, literalmente, um futuro brilhante trabalhando juntas.

É aterrorador acompanhar as artimanhas de Warner para que seu novo filme se torne um sucesso ainda maior e continue gerando notas na imprensa, mas não nos impressiona nem um pouco, pois é uma estratégia comummente utilizada em todas as áreas. Não importa qual seja o tipo de marketing, se há exposição e divulgação da marca, haverá venda no futuro, isso é fato. O problema é que Warner brinca com o sentimento das pessoas para atingir seus objetivos, como se não passassem de bonecos em seus jogos, o que, sabemos bem, era o que as mulheres da época representavam para a indústria.

Me usa! Me abusa, pois o meu maior prazer é ser sua mulher!

Também é importante notarmos como ambas eram manipuladas desde a década de 40, quando Joan se mudou para os estúdios Warner e foi usada apenas como controle de danos contra o crescente poder de Bette. Meus parabéns para a equipe de maquiagem e de efeitos especiais que soube como rejuvenescer as atrizes com naturalidade para que essas cenas tivessem a verossimilhança necessária com todo o contexto de adequação estética visual. Eu adorei todas essas tomadas, principalmente as cenas de close up, que são maravilhosas e cheias de drama!

Uma das conversas que mais me impactou foi de Robert e sua esposa Harriet Aldrich (Molly Price, de The Knick – eu adoro essa atriz, mesmo só fazendo pequenos papeis). Harriet é a típica esposa traída e resignada dos anos 60. Sua melancolia ao declarar que sabe sobre as indiscrições amorosas do marido foram dolorosas de dizer, mas ela sentiu que era necessário que ele soubesse de sua dor para evitar que outras mulheres se sentissem partidas por dentro, assim como ela. Aparentemente a compaixão masculina acaba no exato momento em que atacam a sua capacidade de comando como macho alfa. Robert não passa de um fraco egoísta que pensa apenas no seu próprio ganho e mais nada.

O início da rixa é tão infantil que beira o ridículo, mas precisamos lembrar que é a década de 60, e declarações como aquelas têm pesos muito diferentes do que entendemos hoje em dia. Se fossem apenas as declarações às colunas de fofocas, ainda assim creio que as brigas não seriam tão homéricas, o ponto amplificador foi Robert. Seu claro favoritismo à atuação mais apurada de Bette só poderia despertar a ira de Joan, principalmente por aquele filme ser ideia dela. O momento em que Robert ensaia I’ve Written a Letter To Daddy com Bette me desconcerta por não conseguir compreender suas reais intensões. Ambos me confundem nessa cena, não sei se Robert tenta seduzir ou se Bette é a sedutora, ou se Robert apenas faz seu papel de diretor e Bette confunde suas atitudes, ou se tudo não passa de uma forma de criar ciúmes em Joan que passou dos limites.

Aquele momento em que você percebe que ferrou tudo!

Joan está totalmente desesperada ao se jogar nos braços de Robert como uma maneira de garantir seu papel no filme. Me pergunto se, caso seu marido não chegasse naquele momento, Robert realmente não iria para a cama com ela, já que em sua primeira visita dirigiu-se imediatamento para o quarto sem nem esperar ser direcionado. E aqui eu começo a me perguntar se a série tem uma linha de heroína e vilã pré-estabelecida. A forma como Joan se livra de seu marido apenas para que seu nome possa sair nos jornais e chamar a atenção de sua amiga jornalista Hedda Hopper e poder colocar em sua cabeça que, além de falida, Bette quer destruir sua carreira é tão fugaz que me causa espanto. Não é atitude de uma personagem de natureza heroica ou neutra. Todos podem cometer erros, mas ela age como uma real vilã de telenovela mexicana em certas cenas.

Já não consigo enxergá-las como iguais, e sim que Bette foi injustiçada por Joan em sua constante gana por dinheiro e fama. Além disso, são vários os momentos em que parece que Bette consegue enxergar que há algum tipo de manipulação acontecendo. Nesse episódio, o momento mais explícito foi após a publicação da primeira fofoca falsa e quando Joan foi acalmada por Robert. Caso essa seja realmente a linha, quero que expliquem logicamente a escolha de lado, e que não seja apenas pelo gosto pessoal de Murphy.

Há algo de podre no Reino da Dinamarca!

Não que Bette seja um poço de inocência, pelo contrário. Seu relacionamento com a filha B.D. não pode ser descrito como nada mais delicado do que “tóxico”. Utilizar a filha para extravasar todas suas frustrações foi a gota d’água necessária para romper a ténue linha que unia mãe e filha e que jamais será restaurada. A conversa com Robert no meio da noite após ser abandonada pela filha (que havia previamente expulsado de casa) é o discurso de uma mulher amargada pela vida que não soube aproveitar o que lhe foi dado e agora, a se ver sozinha, não sabe o que deve fazer. O beijo (e possível relação sexual) não deveria ter acontecido, principalmente por estar em um estado emocional tão desestabilizado. Agora quero saber como será o encontro desses dois no dia seguinte quando estiverem sóbrios.

Mas o que realmente me partiu o coração foi ver Harriet, sozinha em seu quarto, vendo seu marido chegar da casa de uma mulher apenas para ser convocado para comparecer à casa de outra. Eu ainda não pesquisei o que acontece com o casal, mas imagino que nada deverá mudar em sua vida, e isso é muito triste. Eu espero que tanto a personagem quanto a atriz tenham mais um espaço maior nos próximos episódios, não de protagonismo, óbvio, mas que apareça fora da cama, por exemplo.

Quando a personagem tem pouco tempo de cena, quase não tem falas, mas acaba com você! Direto nos sentimentos!

E eu preciso que alguém me explique logo qual é a serventia dos depoimentos de Olivia de Havilland e Joan Blondell. São apenas formas de incluir comentários do próprio Ryan Murphy sobre a indústria do cinema? Mas são vozes femininas que narram fatos dos anos 70, não faz muito sentido. Preciso de mais contexto.

Para aumentar nossa lista de delícias sonoras da velha guarda, segue a tracklist do episódio:

Foi um ótimo episódio e me deixou ainda mais empolgado pela continuação da série. Geralmente segundo episódios são mais fracos, mas quando conseguem manter o interesse, já provam que o restante só pode ser melhor ainda!


O que você do segundo episódio de Feud: Bette and Joan? Deixe suas opiniões nos comentários!


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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