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George R R Martin explica porque escreveu o Casamento Vermelho

Por: em 6 de junho de 2013

George R R Martin explica porque escreveu o Casamento Vermelho

Por: em

O post abaixo contém severos spoilers sobre o episódio do último domingo de Game of Thrones, 3×09 – The Rains of Castamere. Se você não assistiu ainda, leia por sua conta em risco.

Após a exibição do episódio de Game of Thrones no último domingo, uma onda de comentários poucas vezes vista tomou conta da internet. Fóruns destinados à série e redes sociais como twitter, facebook e tumblr reduziram-se a um único assunto: O Casamento Vermelho, principal evento do dito episódio e que foi assim denominado devido ao massacre que termina na morte de Robb, Catelyn e Talisa. O autor de As Crônicas de Gelo e Fogo (série literária que inspira o programa da HBO),  George R R Martin, concedeu uma entrevista exclusiva ao Inside TV, explicando suas motivações para tal acontecimento. A tradução livre você confere abaixo e o texto original se encontra aqui.

(Nota minha: Na entrevista, só se falam nas mortes de Robb e Catelyn, porque a personagem de Talisa é inexistente nos livros. Lá, Robb se casa com Jeyne Westerling, pertencente a uma casa menor, e não uma camponesa. Jeyne não comparece ao Casamento Vermelho).

George R R Martin

EW. Durante o processo de escrita dos livros, quando você soube que mataria Robb e Catelyn? 

Martin: Eu sempre soube. Não desde o primeiro dia, mas desde muito cedo. Eu já disse em muitas entrevistas que gosto que minha ficção seja imprevisível. Eu gosto de surpreender. Eu matei Ned no primeiro livro e isso chocou muita gente. Eu matei Ned porque todos pensavam que ele era o herói e que, por isso, entraria em uma situação, mas conseguiria se safar. A próxima coisa a se pensar, então, é que seu primogênito irá ascender e fazer vingança. E todo mundo iria esperar isso. Então eu soube que teria que matar Robb.

EW. Partindo do pressuposto que As Crônicas de Gelo e Fogo vão de encontro ao padrão de uma história de fantasia convencional, os fãs podem ter alguma esperança de que essa história termine com um final feliz? Como “O Garoto” disse na série recentemente: Se você acha que isso é um final feliz, você não está prestando atenção.

Martin: Eu já disse inúmeras vezes que meu final será agridoce.

EW. Que tipo de reações você tem recebido ao longo dos anos por causa do Casamento Vermelho?

Martin: Extremos. Positivos e negativos. Essa foi a cena mais difícil que eu já escrevi. É mais ou menos no segundo terço do terceiro livro, mas eu tive que saltá-la. Então todo o restante do livro estava pronto e faltava este capítulo. Então eu o escrevi. Foi como matar dois dos meus filhos. Eu tentei fazer com que os leitores vivessem o momento. Assim como você sofre quando um amigo morre, eu queria que todos sofressem quando Robb e Catelyn morressem. Vocês deviam se importar. Se alguém morre e você simplesmente pega mais pipoca, é superficial, não é?

EW. Por que você acha que as reações foram tantas? Nos livros, Robb não é um “personagem ponto de vista”. E Catelyn não era uma personagem amada.

Martin: (Longa pausa) Essa é uma boa pergunta. Eu não sei se tenho uma boa resposta. Talvez tenha sido a forma como eu fiz. É uma traição. Vem de onde não se espera. É um casamento. Robb fez a paz e achou que o pior tinha passado. Então isso vem do nada. Houve mais personagens secundários mortos. Uma dezena de vassalos Starks. Não foram apenas dois personagens.

EW. Para mim, o pior era que Robb e Catelyn eram uma família. E Catelyn sofreu tanto e perdeu tantas pessoas e ela realmente pensa que perdeu mais do que realmente perdeu (já que ela não tem certeza se Arya, Bran e Rickon estão vivos). Então isso acontece.

Martin: Ela também tenta mudar a situação. A vemos fazendo isso. O problema é que não é um filho * que Walder Frey valoriza. Então, no final, não significa nada. Mas ainda assim, ela o faz. Ela vai até o fim. Tem poder nisso.

*Na série, substituíram o refém pela mulher de Walder Frey.

Catelyn Robb e Talisa Game of Thones 3x09

EW. Eu sei a resposta, mas lá vai: Você se arrependeu da cena?

Martin: Não. Como escritor, não. É provavelmente a cena mais forte dos livros. Me custou alguns leitores, mas me fez ganhar outros. Vai ser difícil para mim assistir isso na TV. Será uma noite dolorosa. Porque eu também amo esses personagens. E numa série de TV, você conhece os atores. Você está se despedindo de atores que você gosta. Richard Madden e Michelle Fairley foram excelentes.

EW. O que você diz para aqueles que estão furiosos?

Martin. Depende do que eles estão dizendo. O que eu posso dizer para alguém que diz que nunca mais lerá os livros? Pessoas leem por diferentes razões. Eu respeito isso. Algumas o fazem por conforto. E alguns dos meus leitores dizem que sua vida é difícil, sua mãe está doente, seu cachorro morreu e eles leem para escapar da realidade. Eles não querem ficar com um gosto ruim na boca. Quando você lê certo tipos de livro onde o mocinho sempre fica com a mocinha e o bem sempre vence, te dá uma noção de que a vida é justa. Nós todos queremos isso. Então eu não julgo as pessoas que pensam assim. Mas não é o que eu escrevo. E certamente não é o que As Crônicas de Gelo e Fogo são. Eu tento ser realista sobre a vida. Tem alegria, mas também tem dor e medo. Acho que a melhor ficção é aquela que capta o lado escuro da vida, além de sua luz.

EW. Um dos meus elementos favoritos da cena é o pão e o sal. Nós aceitamos isso. Ok, no mundo da fantasia, pessoas não machucam as outras uma vez que elas lhe oferecem pão e sal em sua casa. E então você quebra essa regra. É como se dissesse pro leitor cabeça dura que essa regra não vai ser seguida o tempo inteiro.

Martin: Eu roubei isso da história. Leis de Hospitalidade existiam na sociedade da Idade das Trevas. Um anfitrião e um convidado não podem machucar um ao outro, mesmo que sejam inimigos. Por violar essa lei, eles se condenavam eles mesmos.

EW. E quanto ao Casamento Vermelho em si? É baseado em alguma história?

Martin: O Casamento Vermelho é baseado em uma série de eventos da história escocesa. Um deles foi o chamado Jantar Negro. O Rei da Escócia estava em guerra com o Clã Black Douglas. Eles decidiram fazer uma paz. Ele ofereceu, então, passagem livre ao jovem conde de Douglas, que foi ao Castelo de Edimburgo para uma grande festa. Ao final, os homens do rei começaram a tocar um tambor. Então trouxeram uma bandeja de prata e colocaram a frente do jovem conde e revelaram seu conteúdo: Uma cabeça de javali negro, o símbolo da morte. Então ele soube. E eles o arrastaram para o pátio, onde ele foi executado. E há também o massacre de Gencloe. O Clã McDonald passou a noite sob a hospitalidade do Clã Campbell, mas os Campbell se levantaram na manhã e massacraram todos. Não importa o que eu escreva, sempre há coisas na histórias que serão tão ruins quanto ou até piores.


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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