Depois de uma temporada consistente, com episódios capazes de cumprir a função de renovar o frescor da série que está há dez anos no ar, Grey’s Anatomy se despede deixando aquele já tradicional sabor agridoce para seus fãs. Afinal, o ano conhecido como a reinvenção do Sol de Grey’s, ironicamente, tem a chuva como personagem principal do último episódio da décima segunda temporada do show. Que de uns anos pra cá sempre vem acompanhada da despedida de algum personagem do seu elenco principal. Confirmando o polêmico tweet publicado aqui.
De fato um dos grandes desafios da série ao longo dos anos tem sido manter Grey’s Anatomy interessante, capaz de conquistar novos e manter os antigos fãs da série. E isso quase sempre exige mexer na composição do elenco. Tanto que, deixei de considerar essas mudanças como algo ruim na tentativa de sofrer menos, mas isso não impede de que eu viva a eterna sensação de sofrimento, já que além de longos meses até a estreia da próxima temporada, quase sempre Shonda recorre à tragédia para marcar a saída dos atores da trama. Exceções feitas à Izzie, Christina e agora Callie. No entanto, achei injusta a forma como o episódio – ou seria a temporada? – retratou Torres.
A desconstrução da personagem ao longo de toda a temporada fere tudo o que se esperava de uma personagem que foi capaz de sustentar grandes momentos da série, e até – confesso – minha permanência como fã em temporadas difíceis, como as oitava e nona, por exemplo. Entendo que pouco se poderia fazer já que não existia mais o casal Arizona e Torres, mas daí a transformarem a personagem em mera coadjuvante da série, fazendo com que sua última grande participação a tornasse menos querida pelo público foi no mínimo um golpe baixo. E é essa justamente a sensação que fica quando fomos obrigados a acompanhar Callie brigando judicialmente com Arizona pela guarda de Sofia. E antes que me digam que posso estar exagerando, lembro a você que não foi sem querer que se viu dentre as lembranças da história de amor entre Robbins e Torres, a cena em que Callie se nega a ir com Arizona pra África – o que desencadearia todo o drama sequente da queda do avião, etc. – pra nos dias atuais acompanharmos ela disposta a largar tudo pra seguir Blake, “seu grande amor” segundo Bailey, para Nova Iorque.
Senti que não houve cuidado em construir melhor a relação entre a ortopedista e Penny, e mesmo que pensemos que a passagem de tempo da série equivalha ao período de um ano ou um pouco mais, a impressão que se teve foi de que Torres foi tomada pelo imediatismo. Movida por um amor quase adolescente que sentiu por Blake. Enfim, achei injusto e porque não dizer sem muito sentido lógico. Como se nada do que fora vivenciado em Mamma Tried de fato importasse também para Arizona. Ou mais alguém aí achou a atitude de Arizona com as duas passagens em mãos, tomada pelo sentimento do “todo mundo merece um recomeço” algo surreal? Não que Grey’s seja conhecida por seu realismo – vide os eternos partos à la Macgyver de Ben Warren. Só achei infeliz a forma escolhida pelo roteiro para concluir os anos de história de uma das personagens que um dia mais me identifiquei na trama.
De qualquer forma, Family Affair fala sobre recomeços, segundas chances. Superar os próprios limites. Compreender que tudo é uma questão de comprometimento e experiência. A jornada de Amelia rumo ao altar com Owen garantiu um começo emocionante, mas finaliza de forma a deixar claro que a estrela do episódio não era a noiva, mas sim, Meredith Grey. É sobre o Sol de Grey’s que falamos durante toda a temporada, foi com ela que sofremos, torcemos, sorrimos e choramos. São dela as melhores frases, é ela a responsável indireta do próprio casamento de Amelia. A química entre Meredith e Riggs não só funciona, como já nos faz querer ver mais. Torcendo pela felicidade de uma das personagens que mais sofreu no universo das séries. Mas claro que nada poderia ser tão simples. Pierce está aí pra não me deixar mentir. Certo?
A emoção na verdade ficou por conta do inesperado parto de April e do segredo não tão inédito de Jo. O problema é que enquanto a situação da primeira e todo o passado de Warren, nos mantém tenso, com medo de que algo realmente possa acontecer com Kepner. Jo mais uma vez sofre pela interpretação da atriz. E mesmo com o passado de Wilson tendo sido colocado como um dos pontos a ser discutido na próxima temporada, faltou muito pra que o resultado ali fosse próximo do que se espera de um drama envolvendo ela e Alex. Mas seria injusto dizer que a má atuação foi exclusividade dela, já que a postura de Avery com a filha no colo recebendo a notícia sobre o estado atual da saúde de April também foi algo difícil de digerir.
Mesmo assim, o episódio funciona bem pra uma Season Finale. Demonstrando que nunca haverá como errar se continuarmos acompanhando as coisas sob o prisma de Meredith, o Sol de Grey’s. E a ideia de quebrar o ritual de que todo fim de temporada tem que vir com ares de drama reflexivo, só demonstra o quanto ainda Grey’s Anatomy pode nos surpreender.
A você que me acompanhou por aqui meu muito obrigado, pela presença e paciência. Agora é esperar pela estreia da próxima temporada. Ah, não deixa de contar aqui embaixo o que achou do episódio, nem como recebeu a saída de Callie. Nos vemos por aí!
