Comédias sobre relacionamentos. Ao longo dos anos, tem aumentado o número de produções televisivas que centram nesse tema. A maioria delas se dá muito mal, porque – sejamos sinceros – não é fácil colocar um grupo de atores juntos e os fazer conectar, ter química, e conseguir passar isso para o telespectador. Não é só esse fator básico. Mas construir toda uma trama que seja ao mesmo tempo engraçada, com um toque de romance, embasada em uma premissa forte e que seja levada a sério, com um roteiro ágil e inteligente. Para piorar ainda mais as coisas – com um turbilhão de outras do mesmo estilo – é necessário conquistar. Isso Happy Endings conseguiu.
Não. Ela não chega aos pés de Friends, muito menos de How I Met Your Mother – exemplos clássicos de comédias sobre relacionamentos que deram/dão muito certo. Elenco afinado, histórias engraças e personagens carismáticos. Na temporada americana 2010/2011, estrearam Better With You, Mad Love, Traffic Light, Friends With Benefits, Love Bites e Perfect Couples. Todas elas traziam a mesma premissa: grupo de amigos trabalhando seus relacionamentos. Dessas, apenas Friends With Benefits ainda não foi cancelada, mas é só questão de tempo. Algumas tiveram audiência superior a Happy Endings, mas o canal ABC não quis fazer uma limpa com todas suas comédias, então, felizmente, renovaram a série para uma 2ª temporada, que estreia no próximo dia 28.
Mas então, Happy Endings é excelente? Não. Ela não tem um roteiro afinado como Community, ou um elenco 100% perfeito como Modern Family. Mas é uma série que melhora muito – muito mesmo – com o tempo. O piloto é bem fraco, como a própria Cristal comentou aqui no Apaixonados por Séries quando ela estreou. Foram poucas cenas que nos fizeram rir; algumas interpretações pareceram forçadas; e não havia muita coisa que nos fizesse simpatizar com aqueles seis amigos. o fato é que para gostar de Happy Endings é necessário dar tempo a série e a seus personagens, e muito importante para não achar que os roteiristas são loucos e não têm noção do que colocam na história: assistir na ordem certa!!
Pois é, vejam bem: o penúltimo episódio produzido, foi exibido como o 5º. Dois episódios importantíssimos, o 2º e o 3ª, foram exibidos como o 10º e 11º!! Essa decisão foi da própria ABC, porque eles queriam que o público se interessasse pela série, e inverteram toda a ordem, colocando na frente os episódios – que eles achavam – que iriam atrair mais gente. Muita confusão foi feita com isso. Dave se muda para o apartamento de Max já no 2º episódio (que eles exibiram como o 10º!!), então antes de vermos ele se mudar, o personagem já estava morando lá o tempo todo!! Além disso, essa mudança na ordem afetou todo o começo da relação pós-não-casamento de Alex e Dave.
Mas quem são Alex, Dave, Max, vocês devem estar se perguntando. Happy Endings inicia sua trajetória com a premissa básica de um casamento abandonado. Dave e Alex estão no altar, quando um cara – de patins – interrompe o casamento, dizendo amar Alex. Ela foge com o homem e Dave fica plantado, humilhado na frente de todo mundo, e amparado pelos 4 melhores amigos que muita gente podia desejar: Max, Brad, Jane e Penny. A história da série segue, então, mostrando como os amigos irão se ajustar com os dois separados. Tudo parece desmoronar, e eles precisam escolher com quem sair, se Dave ou Alex, visto que os dois não querem mais se ver. Assim como Cougar Town tinha uma premissa, e então perceberam que o que tinham em mãos era muito melhor do que a ideia original – os roteiristas de Happy Endings entenderam o mesmo.
A série não abandona o trabalho no relacionamento de Alex e Dave. Eles continuam amigos e existe muito romance nessa história. Mas é um plot que não funciona, e é aí que a equipe de Happy Endings acerta. Como disse, eles desenvolvem sim um story arc para o casal, com direito a quase recaídas e todos os clichês desse tipo de relacionamento. Mas sabem que o trunfo da série está no conjunto dos seis amigos e suas histórias – muito mais nos secundários. Aliás, Alex – que é a personagem menos simpática – esteve perfeita em um episódio que a separaram da trama casal. Happy Endings trabalha muito bem a amizade dos seis. Trocam os pares, fazendo novas duplas, testando histórias com personagens diferentes. E isso é o que a série faz melhor: ela tenta. HE se esforça para ser engraçada, e assim, consegue. Max e Penny podem ser os melhores personagens, mas os roteiristas não deixam de ter vários episódios focados nos outros. Eles sabem o que tem de bom, mas tentam – e conseguem – melhorar nos pontos fracos. Têm certas piadas que soariam chatas e repetitivas com outra série, mas com personagens como os de Happy Endings, elas parecem inovadoras.
O elenco é, em sua maioria, muito bom. Zachary Knighton se sai bem no papel de Dave. Não é o personagens mais simpático, mas acaba sendo normal que o centro da série não seja o mais engraçado (Ted de How I Met Your Mother, por exemplo). Elisha Cuthbert, conhecida dos fãs de 24 Horas, se esforça. O fato é que a atriz não é lá muito versátil, e como Alex faz o papel da amiga chata – que precisa falar a verdade, doa a quem doê-la – o conjunto da obra sai a menos interessante de Happy Endings. Por mais que o pessoal goste, acho que Damon Wayans Jr. é o ator mais limitado da série. Por vezes parece perdido nos acontecimentos e acaba caindo no estereótipo de vez em quando. Mas tirando isso, seu personagem Brad é muito bom e vale as piadas. Para mim, Jane é a melhor personagem de HE. Obsessiva compulsiva, competitiva e fora da casinha, Jane é hilária. Algumas cenas, curtas, sem nada de mais, me fizeram gargalhar com a atuação de Eliza Coupe. Jane é imprevisível e vive mudando de comportamento e opinião. Isso é da personagem, e com Coupe no papel, ela se torna irresistível. Além de que Wayans Jr. e Coupe tem uma química enorme como o único relacionamento estável da série.
Então sobram Max e Penny, dois fantásticos personagens que cresceram em conjunto da série. Adam Pally faz um trabalho inquestionável como Max, um homossexual nada estereotipado. A própria Penny diz que ele é um hétero que gosta de homens. As manias de Max e seu modo de vida preguiçoso fazem dele um ótimo personagem. Já li sites comentando que Max acaba sendo irreal, mas não é. Mesmo se comportando dessa maneira, ele não deixa de ter medo de contar que é gay para seus pais, e a série acaba trabalhando bem esse lado, principalmente no episódio que Max acusa Brad de ser “gaycista”. Já Penny, é a alma da série, sendo o charme de Happy Endings. A solteira, loucamente a procura de um relacionamento, não tem papas na língua e faz o que lhe dá na telha. Casey Wilson foi a melhor escalação da série, tendo no currículo, seu trabalho sensacional como comediante em Saturday Night Live.
No fim das contas, Happy Endings merece ser vista. É uma série bastante simpática, e que se esforça para melhorar cada vez mais. Os personagens são carismáticos e hilários, principalmente quando estão juntos. Sabem aqueles momentos que você vê um grupo de amigos na TV – e eles estão jogados no sofá, rindo e conversando, todos confortáveis – e então você diz: queria amigos como esses? Pois é, isso acontece bastante com Happy Endings. Caso você ainda tenha alguma dúvida e gosta de passar tempo vendo tumblr, indico esse que mostra muita coisa boa da série: welovehappyendings. Se decidir ver – e eu espero que sim, pois vale a pena – segue abaixo a sequência correta para assistir os 13 episódios da 1ª temporada:
- 1×01 Pilot
- 1×10 Bo Fight
- 1×11 Barefoot Pedaler
- 1×07 Dave of the Dead
- 1×02 The Quicksand Girlfriend
- 1×13 Why Can’t You Read Me? (episódio exibido somente três meses depois da season finale, porque a ABC não achava que deveria ir ao ar)
- 1×06 Of Mice & Jazz-Kwon-Do
- 1×04 Mein Coming Out
- 1×03 Your Couples Friends & Neighbors
- 1×09 You’ve Got Male
- 1×08 The Girl with the David Tattoo
- 1×05 Like Father, Like Gun
- 1×12 The Shershow Redemption
São apenas 13 episódios de meia hora. Dá tempo para fazer uma maratona e acompanhar a 2ª temporada que estreia quarta-feira, dia 28 de setembro. Espero que para vocês – assim como aconteceu para mim – Happy Endings acabe valendo cada minuto!
