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Ken Jeong fala sobre Dr. Ken

Por: em 14 de outubro de 2015

Ken Jeong fala sobre Dr. Ken

Por: em

Dr. Ken (veja as nossas primeiras impressões), a terceira sitcom da história da televisão norte-americana estrelada por um ator asiático, teve o seu episódio piloto de show roteirizado mais assistido da sexta-feira e os números continuam sólidos.

Protagonizado por Ken Jeong (Community), Dr. Ken mostra o cotidiano do médico Ken, suas relações com pacientes e colegas de trabalho e sua família.

O Slate entrevistou o ator e falaram sobre como é passar de alívio cômico para protagonista, as críticas à série, a experiência em Community e a pressão de ser o único comediante asiático da televisão. Para ler a entrevista completa (em inglês), clique aqui.

Ken Jeong na Comic-Con

Como Dr Ken começou: “Há dois anos me convidaram a fazer minha própria sitcom e não era uma grande ideia na época – era como, “hey, por que você não interpreta um médico no sul?”, então eu respondia “bem, por que não fazemos baseado no meu histórico?” e eles diziam “oh, okay, isso é bom também”. E íamos e voltávamos, deveria ser multi-câmera, onde estávamos filmando na frente de uma audiência em estúdio, deveria ser single camera, que é mais como um filme… eu me considero um cara single camera, tendo feito filmes e Community por seis anos. Mas eu vim do stand up e parei de fazer depois de começar a trabalhar mais como ator, então sentia falta de me apresentar para uma audiência – eu realmente amo o feedback instantâneo da plateia. E o mundo da single cam é torturante, sabe. Em Community trabalhávamos em semanas de 90 horas. É intenso.

(…)

Também foram os melhores anos da minha vida como um performer. Digo às pessoas que Community era meu pós-doutorado em atuação. Você conhece o Malcolm Gladwell e a coisa de 10 mil horas – como você tem que ter 10 mil horas de prática para ficar bom em alguma coisa? Se Beber Não Case me tornou famoso, mas Community me tornou um ator melhor.”

Sobre Dr Ken ser uma comédia familiar muito diferente de Fresh Off the Boat: “Nosso show é refrescantemente não-cultural, se isso faz sentido. Nós definitivamente vamos trazer esses problemas – tem um episódio de Dia de Ação de Graças que é sobre diferenças culturais – mas estamos fazendo de uma maneira diferente. Na vida real, sou coreano-americano, minha esposa é vietnamita-americana e quando nossos sogros nos visitam, esses aspectos aparecem. Mas na série, sinto que esses aspectos culturais precisam ser introduzidos organicamente. Não da forma como um roteirista branco colocaria em uma sitcom.

Para falar a verdade, no começo, um dos nossos roteiristas brancos disse uma piada asiática clichê e eu tive um ataque. Não estou dizendo isso para favorecer a comunidade asiática-americana; não estou tentando puxar o saco de ninguém. É sobre minha voz artística. Na minha vida, eu não falo assim, eu não ajo dessa forma. Então eu disse que isso não ia acontecer.”

Sobre convencer as pessoas que ele conseguiria fazer uma sitcom clássica americana: “Todo mundo me conhece pela trilogia Se Beber Não Case, mas eu fiz muitos outros filmes, incluindo infantis. Eu estava em Meu Malvado Favorito 2, em Zookeeper. O que me frustra são os críticos em geral que sempre esquecem que eu fiz um monte de outras coisas.

O maior desafio foi o tom que daríamos. Como balancearíamos o lado profissional e familiar do show. Mas eu aprendi do Dan Harmon em Community – ele me disse que quando começamos sabíamos como o show seria, mas não como ele seria dali para frente. (…) Cada episódio é um pouco diferente.”

Sobre chamar Margaret Cho para interpretar a irmã de Ken: “Pensei em Margaret quando estávamos fazendo o piloto. Não sabia qual papel seria, mas eu sabia que tínhamos que ter a Margaret. E o que tornou mais especial foi, quando decidimos fazer, não tínhamos um script. Eu mandei uma mensagem de texto e disse “Você quer participar?” e no minuto seguinte, ela respondeu sim. Ela confia muito em mim. E o episódio que ela fez foi maravilhoso. Aquela noite foi muito emocional. Depois das cenas dela, ela disse à plateia que fazia 21 anos desde a premiere de All American Girl (a primeira série estrelada por uma asiática). E ela disse: “este show, estar aqui duas décadas dois, valida tudo que eu tentei fazer”. Foi muito bonito e Margaret – qualquer asiático no entretenimento deve muito à ela.”

Elenco de Dr Ken

Sobre ser o único asiático no mundo do entretenimento: “Acho que historicamente tem essa mentalidade que só pode ter uma pessoa asiática em qualquer comédia ou drama. Os papeis são limitados, então tem só um de nós pegando esses papeis, só uma pessoa pode ser bem sucedida. Isso não poderia ser mais falso hoje. Há um senso de apoio mútuo entre os asiáticos na indústria que não tinha para a Margaret.

E honestamente, é muito legal para a ABC dizer “Hey, podemos ter não só uma, mas duas sitcoms sobre famílias asiáticas-americanas”. Porque ter mais de uma tira a pressão de todos nós. Você não tem a pressão de ser o único, como a Margaret tinha com o show dela. Isso a colocou em uma situação difícil.

(…)

Estava conversando com um crítico de quem sou amigo e ele disse o quão duro é para asiáticos-americanos no entretenimento, que estão procurando por um herói. Ele tem razão – é como aquele esquete do Monty Python, em Life of Brian, onde o cara diz “ele é o Messias, eu deveria saber, eu o segui por um tempo e ele definitivamente é o cara”. Acho que isso é ir na direção errada. Falei com a audiência asiática-americana na semana passada e disse “sejam seus próprios heróis”. Artistas não são modelos de vida. Se você quer isso, vá para a política.”

Sobre críticas da própria comunidade: “O que mais me frustra é: você pode falar “eu não gosto do seu programa”. Mas você não pode falar “você retrocedeu os asiáticos em 100 anos”. Não diga “porque você mostrou o seu pênis em Se Beber Não Case, eu não consigo um encontro”. Eu digo, tipo, não, cara, você não consegue um encontro por SUA causa. São seus problemas que você está projetando nos outros. Meus pênis está bem. Eu raramente me encontro com outros pênis asiáticos e tenho esse tipo de conversa, mas hey – eu tirei umas crianças dele.

Esse tipo de besteira, que não vem de adolescentes, mas de roteiristas com credibilidade, é o que machuca os artistas asiáticos-americanos quando estamos nessa situação. Vocês estão julgando seus próprios de forma mais dura do que julgam os outros e esse tipo de julgamento é discriminatório. Acho que no fim do dia você tem que ser julgado pelo seu trabalho e não no efeito que ele pode ter no mundo ou na comunidade.”

Sobre se preocupar com baixa audiência: “Bem, estando em Community por cinco temporadas e uma no Yahoo, estou acostumado a baixa audiência. Você lembra, Community competia contra The Big Bang Theory todas as semanas, porque a NBC por alguma razão decidiu nos colocar contra a maior sitcom da última década. Então estou tranquilo. Não venho de uma série que era a última bolacha do pacote. Sim, há uma ansiedade quando vamos ao ar, se vamos voltar no próximo ano. Mas também significa que todo episódio, toda temporada, você nunca negligencia.”

Sobre Community e estereótipos: “Todos os personagens estavam indo contra o estereótipo. Lembro de um idiota postando algo do tipo depois do meu personagem aparecer “Olha o Ken Jeong, interpretando o estereótipo asiático de novo” e o Dan respondeu “Sério? Um professor de espanhol que fala alto, incomoda e é mentalmente doente é o estereótipo de asiático agora?” É o que eu amava em Community – tínhamos um dos elencos mais diversificados da TV, mas não enfatizávamos a cultura. E também não fugíamos disso.

(…)

O papel do Chow (de Se Beber Não Case) foi originalmente escrito para um homem de 60 anos, sem uma etnia específica. Mas a não ser que você faça parte da produção, ninguém sabe disso. E quando tive a oportunidade, havia circunstâncias extenuantes na minha vida – minha esposa tinha câncer, e ela que me convenceu a interpretá-lo. Lembro de ter pensado, se vou fazer isso, vou torná-lo meu. É tão ridiculamente exagerado que a única forma de interpretá-lo é desconstruí-lo.

Muitos na comunidade asiática-americana não conheciam a história do papel e reagiram como “olha o Ken Jeong, nos tornando objetos de zoeira”. Bem, eu não vou pedir desculpas. Eu até zoei essa reação no segundo filme, quando o Chow diz “eu tenho muita coisa atrás de mim – FBI, CIA, MSNBC e blogueiros asiáticos”.”

Sobre como a família de Jeong reagiu à sitcom: “Minha esposa Tran adora. Há alguns diálogos que usamos no show hoje, que minha esposa na série Allison diz, sobre como eu faço ela rir e é o que ela queria, é o que é perfeito para ela – isso é de uma conversa real entre Tran e eu. Eu passo todas as ideias dos roteiristas para ela, porque sei que ela pode torná-las melhor.”

Sobre os filhos (na série e na vida real): “Alexa e Zooey, têm oito anos, são gêmeas fraternais e estávamos filmando o episódio de Halloween na semana passada e elas vieram assistir. Elas amam Albert Tsai, que interpreta Dave, meu filho. E quem não ama? Elas estão sempre perguntando sobre ele e querendo assistir as cenas dele. Ele é um tesouro nacional. Naturalmente engraçado, com carisma natural. Ele tem habilidades que você não pode ensinar.

Ele foi a primeira pessoa que escalamos; oferecemos o papel a ele. Em parte porque durante o processo de busca de elenco, tinha essa conversa interna – não vinda da ABC ou Sony – que se não conseguíssemos encontrar alguém para interpretar minha esposa asiática, talvez deveríamos procurar uma atriz branca. E eu estava tipo, temos que ter o Albert agora, porque aí isso não vai acontecer. Se tivermos o Albert, há uma chance ínfima de fazer sentido que, sabe, eu possa ter uma esposa não-asiática e um filho asiático.”


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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