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Maratona Everwood – Season 1

Por: em 29 de abril de 2016

Maratona Everwood – Season 1

Por: em

“Forget for a minute what the real world looks like, forget what you know, sometimes you need to believe in what isn’t exactly there.”

Cerca de três semanas atrás embarcamos em um trem direto para Everwood, numa maratona mais do que nostálgica aqui no Apaixonados por Séries. Com 23 episódios, a primeira temporada passou como um sopro de frescor diante de nós. Estranho que em meio a tantas séries apelativas e com cenários futuristas, seja no bucolismo de uma pequena cidade onde todo mundo sabe da vida de todo mundo que encontremos a novidade.

Aqui, não há pretensão. A trama mostra a vida de uma família depois de uma tragédia, com suas belezas e contradições. Ponto final. Bem simples, o roteiro explora temas importantes e bastante pioneiros na década de 2000, se cercando de personagens que fazem a completa diferença. Como já é costume em nossas maratonas, exploraremos os principais plots, dando uma passada geral pelos arcos do primeiro ano. Vamos juntos?

 

(Re) Começo de uma relação danificada

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Talvez o grande foco do primeiro ano de Everwood seja o juntar dos pedaços de uma relação totalmente despedaçada entre Andy Brown e seu filho de 15 anos, Ephram – os dois nomes centrais (e, justiça seja feita, mais interessantes também) da série até aqui. Olhando superficialmente, fica muito fácil chamar Ephram de criança birrenta e atribuir toda a razão nas situações a Andy. Contudo, faz-se necessário um exercício de empatia, de se colocar no lugar do outro, para entender o comportamento arisco, a frieza e os gestos “birrentos” de Ephram, um adolescente que há anos não possui uma referência paterna.

Colocando em termos diretos: Como ficamos sabendo a medida que os episódios avançam, há muito tempo, Andy deixara de ser um pai pra Ephram, no sentido pleno que a palavra abarca. Afogado em seu trabalho, sua brilhante carreira e seus próprios assuntos, o grande Dr. Brown foi deixando seu filho mais velho cada vez mais de lado e, sem que percebesse (ou admitisse para si mesmo), o perdeu. O afastamento de Andy construiu em Ephram muros que jamais seriam quebrados da noite pro dia. Muros que precisariam ser derrubados, tijolo a tijolo.

Obviamente, o começo não é fácil. Nunca seria. A perda da mãe, a amiga que ele tinha dentro de casa (já que Delia ainda é uma criança), a mudança para Everwood, os problemas com Amy… O conjunto de situações atinge Ephram em cheio e o resultado é exatamente o esperado: Gritos, castigos, imposições e uma tentativa cega, dos dois lados, de impor sua verdade. O que eles precisavam entender – e o fazem ao passar dos episódios, de uma maneira linda – é que não existe uma verdade absoluta. Ambos foram atingidos pela morte da Julia, ambos sofreram a perda, cada um à sua maneira, mas a única forma de superar aquilo seria pela união.

andy-ephram

O caminho escolhido pelo roteiro da série para isso é belíssimo. Aos poucos, Andy e Ephram começam a entender um ao outro e, no processo, entender a si próprio. O que fica claro é que por mais que existisse uma mágoa muito grande da parte de Ephram, também existia um amor enorme. Amor esse que ele nunca ousava demonstrar, por nunca ter recebido nada em troca. Não até agora. A medida que Andy se abre para o filho e percebe o erro do afastamento (a cena onde ele conta sobre como sempre levava o garoto para jogar fliperama no fim de semana e foi deixando aos poucos é dolorosa) e escolhe baixar a guarda, Ephram também começa a se abrir e a permitir que Andrew, enfim, seja pai.

A grande virada no relacionamento se dá quando Ephram descobre que Julia traia Andy (ponto que abordaremos a seguir). Desfazer a imagem perfeita que ele tinha da mãe foi necessário para que Ephram entendesse que o pai, acima de tudo, é um ser humano. E que estava disposto a admitir o erro, passar uma borracha e começar do 0.

A partir daquele momento, a história dos dois começou a ser reescrita. E o momento no season finale, onde Andy conta ao filho que se mudou para Everwood por causa de uma promessa feita à Julia, é a prova disso. Demorou, mas eles, enfim, estavam reconectados.

 

Um casamento de papel

Andy-Julia

A devastação de Andrew no primeiro episódio é um claro retrato do impacto que o acidente de sua mulher teve em sua tão turbulenta vida – o suficiente para que ele largasse tudo, deixasse sua vida, fama e sucesso para trás, em busca de um sonho compartilhado com aquela que sempre amou. E o piloto é bastante certeiro na missão de nos fazer comprar o amor dos dois, a necessidade que tinham um do outro – como a música é para Ephram, Andrew era para Julia. Com o tempo, vamos aprendendo mais sobre os personagens, suas rotinas e tudo que aconteceu durante o tempo que estavam juntos: o retrato de uma relação desgastada pela distância. Mesmo vivendo na mesma casa, mesmo se amando, o casal não conseguia tornar funcional seu envolvimento: quando estavam juntos, discutiam, e quando separados, lamentavam a ausência do outro.

E por acompanharmos tudo tão de perto da perspectiva de Ephram, o baque não poderia ser maior com a descoberta da traição que Julia cometeu. Em um relacionamento já abalado não cabe juízo de valor, todo mundo ali era culpado – mas isso nos ajudou a compreender ainda mais desse amor desmedido de Andrew e da culpa que ele carrega por não ter feito dar certo, como todo o resto da sua vida. Agora, livre dos fantasmas do seu passado e limpo diante do filho, talvez o médico consiga se encaminhar para outras aventuras em sua trajetória (sim, estamos shippando ele com Nina).

 

Colin Segundo

colin

Quando pensamos de uma maneira geral sobre essa temporada inicial de Everwood, é fato inegável que, depois de Andy e Ephram, Colin foi o grande nome dela. A força motriz que manteve praticamente todos personagens ligados, mesmo quando ainda estava em coma, o namorado de Amy era uma grande parte da história. Foi o motivo inicial para a aproximação de Amy e Ephram, foi um dos pontos que fez Ephram se abrir para o pai inicialmente… Não dá pra negar que Colin e sua batalha pela vida marcaram.

Por meio do garoto, fomos apresentado a história de um menino que devido a imprudência sua e de um amigo (Bright), perdeu toda uma vida que tinha pela frente. Não era preciso ir muito longe para saber que a aventura dos dois outrora melhores amigos não daria certo. Por mais que Bright não demonstre muito, é fato que essa é uma culpa que ele vai carregar pelo resto da vida. Colin ficou em coma, passou 6 meses fora do mundo e quando voltou, pelas milagrosas mãos do Dr. Brown, encontrou um mundo totalmente diferente daquele que havia deixado. Sem memória, sem bagagem, sem certeza de que ficaria bem, ele teve a chance de começar de novo, mas agora como outra pessoa.

É muito interessante observar os primeiros passos de Colin depois que sai do coma, especialmente sua surpreendente relação com Ephram. Amy e Bright estranham, mas é totalmente compreensível. Como o próprio jovem colocou, o filho de Andy era a única pessoa na cidade com a qual Colin não tinha “obrigação” de ser nada, porque eles não se conheciam. A proto-amizade que surge entre os dois dura pouco, mas é bastante significativa. É bem legal ver Ephram deixando de lado os sentimentos que tem por Amy para ajudar Colin a se readaptar a nova vida que deveria viver. Se colocando no lugar de Colin, tudo se torna bem fácil de entender. Não só sua amizade com Ephram, mas também o modo como ele reage a tudo e todos ao seu redor. Evitando Amy e pedindo para que ela não o pressione, fugindo da escola, dos amigos antigos… da vida que ele não tinha mais. E nem poderia mais ter.

De certa maneira, o agravamento do seu quadro na reta final da temporada não é nenhuma surpresa. A partir do momento em que ele volta a ter rompantes de raiva e volta a ser um pouco mais do velho Colin que não conhecemos além dos flashbacks, já era óbvio que algo iria acontecer. O término do namoro com Amy depois dos surtos de ciúmes de Ephram, o fato de ter saído na porrada com Bright e todo o cenário construído dentro e fora de casa já indicava que “o milagre de Everwood” não era mais tão milagroso assim.

A temporada terminou sem termos uma definição quanto ao destino de Colin. Mas nos olhos de Andy ao sair da sala de cirurgia, não podemos esperar notícias muito otimistas. Acredito que mesmo que não morra, Colin ficará com graves sequelas. De um jeito ou de outro, acreditamos que a saga do garoto tenha chegado ao fim. Ele foi um personagem chave durante esses 23 primeiros episódios, mas olhando de uma maneira geral, podemos entender isso como algo que era necessário para trazer a Amy, Andy e Ephram um maior desenvolvimento enquanto pessoas e enquanto personagens. Vai ser interessante observar os resquícios disso na segunda temporada.

 

Temas polêmicos

Durante a nossa maratona, a gente até brincou que mais milagre do que Andy tinha feito com Colin, era essa série ter conseguido ser exibida sem cortes na TV aberta americana, devido a alguns temas particularmente espinhosos que ela tratava. Uma pesquisa rápida nos mostrou que durante a exibição dessa temporada, houveram pequenos protestos contra a série, mas nada grande o suficiente para atrapalhar a exibição do programa.

Um claro exemplo foi o episódio dedicado ao debate sobre a existência ou não de Deus, algo que Dalia (uma das personagens mais interessantes de se acompanhar) trouxe à tona. Até hoje, questões religiosas como essa causam polêmica e a série soube tratar isso de uma maneira sutil, sem pender a balança para nenhum dos dois lados e mostrando todas as variações possíveis dentro do debate. Situação semelhante aconteceu quando descobrimos que o amiguinho bullynador (?) de Dalia gostava de brincar de bonecas e desenvolvia hormônios femininos, devido a ter nascido como intersexual. Aqui, o debate não se estendeu tanto, mas a série conseguiu mostrar de maneira simples as particularidades do fato, coisa que até hoje alguns programas de TV tem dificuldade em o fazer.

Temas menos espinhosos hoje em dia (mas vanguardistas pra época) como gravidez na adolescência e homossexualidade também apareceram. O primeiro, na figura de Kate (interpretada pela hoje famosa Kate Mara), garota que engravidou do professor de piano de Ephram, um homem muito mais velho do que ela, e durante dois episódios, se viu envolvida em um verdadeiro dilema moral, ético e religioso – que a série, mais uma vez, tirou de letra em sua execução.

O segundo apareceu por meio de Carl, marido de Nina, que passava meses fora de casa. O assunto não ganhou muito destaque- Nina apenas descobriu que seu marido a traía com outro homem -, mas dada a época em que a série foi exibida, abre uma importante discussão sobre a repressão pessoal que muitos indivíduos LGBT passam, com dificuldades em se aceitar como gays/lésbicas e, muitas vezes, vivendo casamentos de aparências – como no caso de Nina. Como um produtor de TV abertamente gay, não é de estranhar que Berlanti tenha chamado a atenção para essa discussão (embora não façamos ideia se, na época, ele já era assumido).

Outros temas, como o uso da maconha de maneira medicinal e cuidados com doenças sexualmente transmissíveis, também apareceram na temporada e mostraram como Everwood, além de um bom entretenimento, também mostrava-se como um produto com relevância social.

 

O forasteiro e a garota popular

Aquelas histórias de amor que precisam dar tudo errado, para dar tudo certo (ainda não chegamos nesse ponto).

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Quando somos apresentados a Everwood, logo conhecemos Amy e sua disponibilidade com o garoto que veio de fora. Em sua aparente boa vontade, ela conquista a nós e Ephram quase que instantaneamente, só para despedaçar os sentimentos um tempo depois. Em nenhum momento podemos contestar o que ela sentia, até porque a verdade estava em seus olhos, em seu toque, mas ela não queria só a companhia do garoto, queria a genialidade do seu pai para salvar o namorado em coma. Mesmo birrento, tem como julgar a primeira atitude de Eph diante disso? Qualquer um se sentiria ameaçado pelo cara mais perfeito da escola.

Mas quando se trata de Amy, Ephram quase sempre engole seu orgulho. Mesmo quando ela erra ao brincar com os sentimentos do garoto, ele permanece ao seu lado como o amigo que ela precisa – o que torna a relação dos dois ainda mais platônica e bonita. Com o renascer de Colin, a amizade entre eles toma rumos inesperadamente tristes. Desesperada com a possibilidade do namorado descobrir a intensidade da amizade dos dois enquanto estava em coma, Amy o rejeitou totalmente. Nesse momento, eu tive raiva. Nosso menino Ephram não merecia isso, mas adivinhem? Ele superou isso quando sua amiga precisou dele novamente, já que a enfermidade de Colin parece não ter resolvido com a primeira cirurgia de Dr. Brown.

Difícil até apontar qual é o melhor momento que eles compartilharam juntos: talvez o topo da roda gigante ao descobrir o que Amy realmente queria ou quando a garota defende o amigo e termina com Colin por causa disso. Só sei que tá sendo sofrido torcer por esses dois – e sim, sabemos que vai piorar.

 

Um lugar chamado Everwood

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Assim como os personagens, a cidadela de Everwood marca sua presença em muitas das linhas narrativas. Ora por suas histórias mirabolantes, ora por seu tempo instável, sua assinatura é única em cada uma das pessoas, fazendo daquele lugar especial. A charmosa narração em voiceover começando e encerrando cada episódio esbanja nostalgia. É como se deitássemos no colo da mãe em meio a uma tarde nublada, esperando por uma história antes de uma soneca. Seja ou não intencional, a série apela para um lugar dentro de todos nós, onde a nostalgia é lei e somos levados por aquela sensação boa de pertencimento.

Algumas personas também marcaram a primeira temporada, mesmo que de maneira mais discreta. A vizinha Nina se fazendo sempre disponível para auxiliar o médico que acabou de se mudar (e algumas subtramas bem interessantes como vimos acima); Irv, o motorista do ônibus escolar e marido de Edna, outra personalidade marcante de humor afiado que tem seus melhores momentos em parceria com Delia, a pequena Brown que se destaca diante do elenco de peso da série. Dr. Abott, que no começo ensaia uma rivalidade quase infantil com Andrew, acaba se tornando outro dos alívios cômicos da série, que explora o personagem muito bem nesse ponto, quase sempre o colocando em momentos hilários – como quando os jovens fazem ele apagar no encontro da Igreja para poderem dar uma festa e ele acorda no teleférico.

Muitos momentos com essas pessoas, com esse lugar que podemos chamar de lar (mais uma vez).

 


E aí, o que achou da primeira temporada?

Animado com as perspectivas para o segundo ano? Qual é seu personagem preferido até aqui? Qual trama que mais gostou de ver explorada? Conta para a gente, estamos ansiosos para comentar mais! Podemos ter deixado passar algo de uma temporada tão grande, então qualquer coisa, mete bronca!

Texto em parceria, como sempre, com o Leandro.


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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