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Maratona Everwood – Season 2

Por: em 30 de maio de 2016

Maratona Everwood – Season 2

Por: em

“There are things that go without saying and there are things better left unsaid. There are things that should never be uttered out loud and there are things you’ve got to hear to believe. But the ones that stay with us are the things we long to say, but don’t.”

Caminhando com nossa maratona de Everwood, chegamos ao final da segunda temporada, com um pouco de atraso pelo qual nos desculpamos, mais uma vez com saldo positivo. Trabalhando cada vez melhor seus personagens, o roteiro de Berlanti toca em feridas da sociedade de uma maneira simples e natural, mostrando que tudo, tudo mesmo, pode ser visto diferente quando desprovido de preconceitos.

A adição de personagens como Linda e Madison trouxe um ganho gigante para a trama, ambas inseridas organicamente, como se sempre tivessem estado ali, só que antes pouco notadas. E as duas, cada uma a seu modo, são furacões na vida dos Brown, que jamais serão os mesmos depois dos eventos observados nesse segundo ano. Como aconteceu no post da primeira temporada, vamos dividir o texto nos tópicos mais marcantes. Vamos lá?

 

Queda da Garota Perfeita

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Dentro do núcleo principal da série, Amy foi a que mais sentiu a morte de Colin – trágico evento que dá o pontapé a este segundo e traumático ano para a personagem. Perdida em seus próprios sentimentos, a garota entrou numa espiral de decadência, não encontrando a felicidade em lugar algum longe do ex-namorado. Perdeu os amigos, se afastou da família, se afastou de Ephram. Era como se vivesse em mundo só seu, num misto de amargura e escuridão da qual é bastante difícil de se reerguer.

Com muito cuidado e motivos ‘reais’, Berlanti introduz a problemática da depressão em uma personagem super jovem e com uma vida supostamente ‘perfeita’. Aos poucos, vamos vendo Amy chegar ao fundo do poço, estragando todas as suas relações e perdendo o eixo da sua vida. Nesse momento, conhecemos Tommy (Paul Wesley), um cara que representa perfeitamente o momento da personagem: fraco, obsessivo e sem condições de estar em um relacionamento. Mesmo assim, os dois acabam se envolvendo numa relação abusiva, onde a garota só serve quando está fazendo o que o bad boy quer, provando que, as vezes, a melhor solução é chegar até o ponto mais baixo da vida para entender o que está acontecendo.

Em momentos como esse, a depressão pode ser muito pouco compreendida. Seus pais não queriam aceitar o problema – porque isso seria assumir que a garota de diamante deles poderia ter se quebrado de uma maneira sem ter como voltar para trás -, suas amizades eram mais frágeis do que imaginava. Seu suporte veio pela figura da irmã de Colin, mas, principalmente, dela mesmo. Se não fosse a força de vontade interior, provavelmente Amy nunca teria saído daquela situação – claro que aqui vale mencionar que a personagem teve ajuda de remédios específicos e também de Linda, sua tia, para auxiliar no processo de recuperação.

E, depois de se reencontrar, Amy caminhou em direção àquele que sempre esteve por perto: Ephram. O desenvolvimento do casal é um dos pontos altos da reta final da temporada, com direito a momentos bem complicados seguidos de uma breve resolução para o problema dos ‘3 meses longe’. No caminho da terceira temporada, talvez vejamos os dois juntos como casal pela primeira vez, uma dinâmica bem interessante, ainda mais quando levamos em conta a gravidez de Madison que surge como grande baque do último episódio (trataremos isso em outro tópico). Que o roteiro invista na leveza e nas personalidades individuais dos personagens que só agregam a trama.

 

Uma mulher, um garoto

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Madison é aquele tipo de personagem que entra nas nossas vidas, faz com que a gente goste muito dela e depois saí, da mesma maneira despretensiosa que chegou. É praticamente impossível não gostar da nova babá de Delia. Ela é divertida, gosta da menina e tem uma maneira muito linda (e adulta) de tratar a nem tão pequena Brown. E logo nos seus primeiros momentos, vemos que ela não chegou para ser uma mera coadjuvante. Ela seria aquela a mudar tudo que Ephram conhecia do amor.

Depois de bater de frente com a nova contratada de seu pai, demiti-la e ter que voltar atrás na sua decisão, Ephram começa a se apegar de uma maneira não muito normal a garota. Os melhores momentos do seu dia são junto dela e ele já nem passa horas do seu dia pensando em Amy. E isso passa a chamar atenção dela também, mas a diferença de idade acaba assustando os dois, principalmente Madison. Só que quando almas se encontram, não há como fugir do inevitável: os dois se entregam a um relacionamento que tem tudo para dar errado.

Mas, por algum tempo, dá certo. Talvez exatamente o tempo que passam dentro de casa, longe da sociedade que pode julgar uma relação tão diferente como essa. Enquanto Madison tem noção do terreno que está pisando, Ephram se joga de cabeça em sua primeira relação – e a gente sabe bem como os primeiros amores tendem a terminar. Com o tempo, a vergonha cresce e a diferença se torna gritante. Eph não consegue acompanhar a namorada socialmente (chega a dar dó quando ele não consegue entrar em uma sessão do cinema com ela), tem ciúmes do ex e, principalmente, é inexperiente. Mesmo com tudo isso, eles insistem e Madison se torna a primeira mulher, sexualmente falando, da vida de Ephram.

Só que as coisas tomam contornos insustentáveis e se afastar acaba sendo a única opção. Como Andy previa, esse momento destroi o garoto emocionalmente, que claramente não se conforma com o término do relacionamento. Enquanto as feridas ainda cicatrizam e ele engata um relacionamento com Amy, uma bomba é jogada no nosso colo, quando descobrimos que Madison está grávida – sendo que Andy toma a decisão de não contar nada para o filho, mesmo quando prometeu nunca mais mentir. Isso muda tudo que podemos esperar. Ainda não temos ideia se a garota vai optar pelo aborto, se vai criar o filho longe de Everwood ou, enfim, doá-lo para adoção, mas, de qualquer forma, os efeitos da notícia não dada vão respingar em Ephram em algum momento, o que pode significar uma quebra importante na confiança que estabeleceu com seu pai. Tomara que esse retrocesso não ocorra. Foi um longo caminho até aqui e seria uma pena voltar tudo para trás agora.

 

O mestre e seu pupilo

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Resolvida sua relação com Andy, Ephram encontrou novos desenvolvimentos na 2ª temporada. Além dos novos relacionamentos com Madison e Bright, o garoto viu Will surgir em sua vida, depois de um acidente. Ephram saiu com o carro do pai, acabou danificando o carro de Will e, enquanto tentava negociar com o senhor de idade, viu ali o surgir de uma nova relação.

Um exímio músico aposentado, Will teve poucas participações na temporada, mas todas carregadas de significado. Enquanto Madison representava o primeiro amor maduro, Bright o amigo fiel que sempre estaria ali e Amy o amor pueril e inalcançável, Will foi a bússola para guiar Ephram de volta a sua música. Por meio das sessões pessoais e do velho piano do senhor, Ephram redescobriu o amor pela arte, voltou a se dedicar a tocar e trouxe a arte de volta à sua vida.

Um momento marcante do relacionamento é quando Ephram, Andy, Will e Bright viajam para um concerto do garoto e ele está com o coração partido por uma briga recente com Madison. Por mais que a relação de pai e filho já estivesse em ótima sintonia, naquele momento é Will quem melhor entende Ephram, porque é quem consegue captar a essência de sua arte. Espero ver o personagem mais presente nas próximas temporadas.

 

Quando não ser bom o suficiente é o suficiente 

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Ele chegou de mansinho, foi um coadjuvante no começo e, da noite pro dia, se transformou no melhor personagem da série. Olhando a trajetória de Bright no primeiro ano da série e agora, parece até que estamos lidando com duas figuras totalmente diferentes. A criança birrenta e irresponsável foi obrigada a crescer de uma hora para outra quando viu diante de si a realidade que se estendia: Problemas escolares, a possibilidade de não entrar numa faculdade e sua família desabando graças a depressão de Amy.

O primeiro grande baque de Bright e provavelmente o momento que o faz acordar pra vida é quando escuta da boca do pai que ele sempre achou que o filho não fosse bom o suficiente. As palavras doem tanto que, naquele momento, Bright decide que vai ser bom o suficiente e procura fazer tudo que está ao seu alcance para melhorar suas notas, conseguir se formar e ter a chance de conseguir uma faculdade. Mesmo que durante toda a temporada, sejam vários os motivos que ele tem para fraquejar (e quase o faz), dá um grande orgulho chegar ao episódio 2×21 e vê-lo recebendo seu suado diploma e pronto para o futuro.

No meio disso tudo, o mais legal é que ele acabou ganhando um grande amigo. Seu bromance com Ephram, surgido das cinzas da relação do forasteiro com Amy, funcionou tão bem que não dá mais pra imaginar a série sem essa relação. Os dois tem pouco, ou praticamente nada, em comum e é bem bacana observar como, gradativamente, um vai aprendendo com outro. Com Ephram, Bright aprende a ser mais responsável, a pensar no futuro e a não agir tão impulsivamente, porque pela primeira vez, ele vai ter um amigo para puxar sua orelha quando ele estiver errado. Já Ephram, agora tem alguém pra ouvir seus lamentos amorosos e dar as melhores dicas possíveis (ou não).

Um dos momentos mais engraçados do relacionamento dos dois é durante o aniversário de Dalia, quando Bright aparece na festa só para que Ephram não caia em tentação de tentar desenvolver sua, até então, proto-relação com Madison. Ver o garoto se metendo no meio dos dois, pedindo para Madison ‘dar licença’ e depois sendo ovacionado cantando no karaoke é a prova de que, naquele momento, Bright não tinha conquistado só Ephram e sua autoestima de volta. Mas a todos dentro de Everwood  – e a nós aqui fora também.

 

Uma mulher inesquecível

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Marcia Cross é uma atriz incrível e a maneira que se entrega para viver Linda chega a ser admirável. Quando chega na cidade, em busca da reconquista da família que deixou para trás por anos a fio, tudo parece estranho para a personagem. Ela não se ajusta ao ambiente que parece intacto aos movimentos do tempo e da sociedade.

Quando busca acalento nos braços do irmão, Harold, encontra espinhos – sentimento compreensivo até certo ponto. Ao olharmos para trás, tudo que Harold via era a irmã o abandonando, não voltando para casa nem no funeral do pai, ressentimentos que tomam o coração de qualquer pessoa e acabam minando relações. É aos poucos que vemos essa barreira ser derrubada. Passam, então, a trabalhar juntos, mesmo com a série de ressalvas que ele tem com o tipo de medicina que ela pratica. Podemos inclusive dizer que é da estranheza no relacionamento com a família que Linda se aproxima de Andy.

No primeiro encontro já dava para saber que esse seria aqueles tipos de relacionamento incríveis como um meteoro. Com cuidado, eles se aproximam, se conhecem e se apaixonam. A primeira paixão de Andy depois do falecimento da sua esposa, o que torna tudo ainda mais delicado, tanto para os seus sentimentos, quanto para os seus filhos. Vemos Delia desenvolver um ciúmes ingênuo, típico de filha-pai, e se colocar como uma pequena mulher que já sabe o que está acontecendo (o crescimento dela como persona é bem interessante também). Só que já não bastassem todas as complicações, o roteiro de Berlanti adiciona um ponto super delicado na vida de Linda: em meio ao caos dos campos de batalha, a médica foi infectada e agora porta o vírus do HIV.

É de uma delicadeza ímpar a maneira que a série trabalha o tema, principalmente em momentos como o que a médica explica a sua situação para Delia – de uma maneira simples e mostrando que pessoas portadoras podem sim ter uma vida normal. Assim que a polêmica notícia da doença se espalha pela cidade, vemos o lado mais decadente de uma cidade pequena e interiorana: a brutalidade com que tratam o diferente. Apedrejada moralmente, Linda se vê obriga a parar de clinicar e isso ainda faz com que a carreira do seu irmão seja atrapalhada. É decadente, mas é real. É a maneira que uma cidade teve de mascarar seus preconceitos: no medo.

Sem mais nada naquele lugar, seu caminho é longe de Everwood, longe de Andy. Uma despedida sofrida para todos nós que nos acostumamos a amar essa personagem. Volte sempre Linda, estaremos esperando por você.

Enfim, amigos

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Um ponto que não teve exatamente muito destaque, mas que esteve presente de maneira sutil durante toda a temporada, foi a relação de Andy e Harold. Primeiro pela relutância firme de Harry em aceitar qualquer tipo de envolvimento entre Andy e Linda, com a desculpa de que poderia causar algum tipo de mal estar. A bem da verdade, naquele momento, os dois médicos já se consideravam amigos, até certo ponto. Suas conversas no bar sempre foram ótimas e mesmo carregadas de ironias e insultas, possuíam uma sinceridade que eles usavam com poucos personagens da série.

É por isso que é tão doloroso para Harold descobrir que Andy receitou anticoncepcionais para Amy. Claro, do ponto de vista legal, Andy está correto em não expor sua paciente para ele, mesmo sendo o pai. Mas estamos em Everwood, uma cidade interiorana, onde as coisas tendem a ser mais flexíveis e a gente sabe que quando o Harry diz que se fosse o Ephram indo até ele, ele contaria para o Andy, é pura verdade. O modo duro como Harold falou com Andy era a indicação de que, mesmo não demonstrada, já existia algum tipo de confiança entre eles.

Pelo menos, a reta final da temporada tratou de colocar os dois no mesmo caminho novamente. Os problemas com o seguro de Harold depois que a notícia do HIV de Linda explodiu colocaram em risco sua clínica, o sustento de sua família e o seu amor por clinicar e foi Andy que surgiu em auxílio. A ideia de uma parceria entre eles é ótima e promete render ótimos momentos na 3ª temporada. Mal podemos esperar.

 

Temas Polêmicos – Mais uma vez

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Assim como na temporada de estreia, Berlanti não teve problema algum em tratar de temas polêmicos em seu roteiro. Já nos primeiros episódios, temos a participação especial de uma jovem Kristen Bell interpretando uma garota que teve problemas após um implante de silicone nos seios, discutindo com perfeição a questão da busca pelo corpo perfeito, algo tão falado hoje em dia mas que, certamente, era um tabu a ser quebrado no começo dos anos 2000.

O mesmo podemos dizer do caso de sexualidade precoce encarado por Andy, que descobriu que várias crianças estavam participando de atividades sexuais ativas na escola e teve que lidar com os pais de todos, que se recusaram a acreditar no que estava bem diante dos seus olhos. Vale ressaltar que, à essa época, Andy ainda lutava para resgatar sua credibilidade fragilizada diante da morte de Colin – e, mesmo assim, não teve medo de encarar mais essa batalha de frente.

A questão da fé também foi abordada de maneira exemplar, com o caso do Reverendo. Correndo o risco de ficar cego, o líder religioso manteve-se fiel a sua crença até o último momento, preferindo acreditar em uma cura vinda do poder divino do que na ciência que Andy estava propondo e o resultado foi um episódio belíssimo e emocionante, onde Andy conduz o casamento do amigo, já afetado pela doença

E no meio desse turbilhão, a série ainda achou tempo pra tratar de temas mais sensíveis e importantes, como a questão da primeira vez, surgida na figura de um Ephram totalmente despreparado para lidar com uma garota mais experiente como Madison. Sempre com cuidado e zelo, o roteiro de Berlanti soube como nenhum outro expor todos os pontos sensíveis das muitas questões e, nos anos 2000, deu uma aula pras séries de hoje em dia sobre como lidar com temas adolescentes com maestria, sem cair no caricato ou perder a mão.


Que temporada incrível. Everwood preenche um espaço em nossos corações que nenhuma série atual consegue. Nosso próximo encontro acontece em três semanas, no dia 20 de junho, quando comentaremos com vocês o terceiro ano.

Claro que essa maratona só tem graça se você curtir com a gente! Então registra o que você está achando (ou o que achou quando viu!). Vamos adorar conversar um pouco sobre a série com vocês. Até breve!


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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