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Maratona Gilmore Girls – 1ª temporada

Por: em 12 de agosto de 2016

Maratona Gilmore Girls – 1ª temporada

Por: em

Acho muito bom você estar em dia e ter acabado a primeira temporada da nossa maratona de Gilmore Girls, porque depois eu não quero ninguém aqui reclamando que não deu tempo de assistir tudo antes do revival que a Netflix está aprontando para novembro!

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Pois bem, cheguei ontem ao final desse primeiro ano e tenho a sensação de conhecer essas personagens há muito tempo, comprovando o poder que a série tem de envolver o espectador na vida das garotas Gilmore, com todos problemas e positividades que a rotina pode ter. Esse é um tipo de série que a gente quase não encontra mais. Aquela coisa bucólica, sem grandes eventos, mas que mesmo assim te prende a atenção. Diante disso, tenho que comentar que, em alguns poucos momentos, achei a narrativa um pouco mais lenta do que estou acostumado, mas nada que me fizesse dormir como Game of Thrones (fiquem tranquilos). Mas essa talvez seja a única ressalva que tenho com esta leva de episódios.

Os personagens são quase todos muito bem trabalhados, tendo espaço inclusive para o destaque de alguns coadjuvantes que roubam atenção. Stars Hollow, em si, é uma grande personagem, com todo seu cenário aconchegante e personas tão marcantes, como a dançarina Patty, a vizinha Babette ou o estranho Kirk, que aparecem aqui e ali, dando aquela temperada com toques de humor que a série faz muito bem. E quando me falaram que as Gilmore falavam rápido, eu achei que era um exagero – só que não foi. Quando estão juntas, é quase impossível pegar o canhão de referências a cada diálogo, o que, particularmente, acredito ser um dos maiores charmes da série. Já que estamos abordando toda uma temporada, acho que vale darmos uma destrinchada em alguns tópicos mais relevantes e o resto a gente puxa discussões pelos comentários, pode ser? Então vamos lá!

 

As garotas Gilmore

Sem dúvida alguma, a dinâmica da série é totalmente dependente da interação entre Lorelai e Rory, que é riquíssima. Mais do que mãe e filha, elas são amigas de verdade e passam isso a cada cena que compartilham. Gosto muito da maneira que os episódios vão construindo isso na nossa frente, com Rory contando sobre seu primeiro beijo, Lor falando de namorados e as duas partilhando de coisas que amam/odeiam. Nessa relação que as duas firmaram entre si devido a dificuldade que passaram pelas escolhas de Lorelai, acabou se criando uma cumplicidade tamanha que sufoca. Achei bastante cômico quando Lor decide chamar Dean para ver um filme em sua casa, um ato bastante impensado para uma mãe que deseja proteger a filha.

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Em tempos onde o empoderamento ainda não era uma pauta tão rotineira, a série se apropria de um universo feminino autossuficiente e bastante ciente das dificuldades que a sociedade acaba impondo para quem decide (ou é levado) por esse caminho. E se falamos delas, temos que falar da casa disfuncional que vivem (gente, a Lane entra lá do nada, aparece berrando uma música no quarto e todo mundo acha normal) e da relação de amor que ambas nutrem pelo café, outro dos personagens menores que a trama acaba explorando. Sobre a primeira colocação, talvez seja uma questão de acostumar. São muitas as séries que mostram como o acesso a casas americanas é fácil, principalmente pela porta dos fundos, mas não consigo deixar de achar um pouco bizarro. Já a segunda, só consigo declarar que depois que iniciei essa maratona, elevei meu vício de café para um outro nível, claramente influenciado pela necessidade que as duas tem de tomar a bebida quente para se sentirem vivas.

Ainda que falemos dessa relação linda que as duas tem, acho importante que as tratemos separadamente também. Comecemos por Rory. Não tive um amor a primeira vista pela personagem, acho importante ressaltar isso. Quando olhei para a cara dela, achei que faria um tipinho mimada e chata, o que é completamente o oposto de tudo que ela representa. Mesmo assim, levei um tempo para me acostumar, talvez pela inexperiência da própria atriz que estava iniciando sua carreira e aprendia ao mesmo tempo que atuava. Seus momentos mais interessantes acontecem em Chilton, quando é retirada completamente da sua zona de conforto. Gosto muito dos seus momentos com Paris, quando podemos ver uma Rory um pouco mais ácida e menos paspalhona. Uma das coisas mais especiais da personagem ao meu ver é sua relação de amor com os livros, levando-os sempre consigo, seja qual for a ocasião – vale inclusive levar livro para comemoração de aniversário de 3 meses de namoro.

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Já Lor, eu amo muito. Acho que muito disso vem de conhecer o trabalho de Lauren Graham lá de Parenthood (onde eu já amava), mas sua personagem é cativante demais. Irônica na medida certa, ela consegue transformar os piores momentos em coisas ainda mais horríveis, me tirando boas risadas enquanto via os episódios. Quando perto de sua mãe, ela parece se transformar em uma máquina de defesa, o que acaba sendo compreensível devido ao histórico das duas. É legal ver que, mesmo agindo como uma grande amiga da filha, ela sempre se coloca no seu papel de mãe quando necessário e se faz presente em momentos cruciais. Sua amizade com Sookie é uma das coisas mais fofas e me diverti demais no episódio que ela sai com o primo do verdureiro só para agradar a amiga – e é xingada de pé-grande para baixo. Enfim, são muitas as qualidade que me fazem amá-la, então espero que vocês façam o mesmo. Não consigo lidar com gente que não gosta dos mesmos personagens que eu.

 

Alguns romances

Me falaram que shipar nessa série era uma missão em um nível que eu não conhecia e agora eu entendi porque. Considerando que a série foi exibida no começo dos anos 2000, os tempos eram outros e tudo tinha um timing bem diferente de agora, onde vivemos a era do imediatismo. Então, dá um abraço aqui e vem torcer comigo para Lor e Luke ficarem juntos, vai!

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Eles passaram a temporada inteira como amigos, o que foi bem positivo para construir um relacionamento aos poucos e ir desenvolvendo-o em amor, sem grandes pressas. E a grande ironia é que o grande ponto de virada nisso tudo veio por meio de Emily, uma das maiores torcedoras do casal. Alertando a filha de que sentia alguma coisa diferente ali, ela acabou abrindo a mente de Lor para as possibilidades, o que deixa tudo bem confuso, principalmente quando consideramos a reta final da temporada – até porque Lorelai passa o primeiro ano inteiro indo e voltando com Max Medina, que, por acaso, também é professor da Rory. Vamos as verdades? Acho Max sem sal e sem açúcar, fazendo desse relacionamento um desgaste bem desnecessário para quem está assistindo. Foram 21 episódios em um vai e vem absurdo, para os dois terminarem com um pedido de casamento no ar? Além da briga de ego masculino que fomos capazes de presenciar, é interessante ver que tudo só acontece para contrapor o posicionamento de Luke diante da situação, que finalmente percebe não gostar de Lor somente como amiga. O que eu espero da próxima temporada? Max bem longe. Muito longe mesmo, assim não tenho nem com o me preocupar.

Agora um momentinho para levantar um pouco de raiva dos leitores: por um breve, bem breve mesmo, momento, eu shipei Lorelai com Christopher, pai de Rory. Acho que todo o lance da história dos dois adolescentes que se deixaram levar, tudo que partilharam juntos, acabou me conquistando, mesmo que brevemente – além do carisma do personagem, que é bem alto. Mas quando seu cartão não passa e ele pede que a filha minta, tudo isso passou. É inadmissível um cara ter uma atitude dessas, comprovando que todo o pé atrás que todo mundo tem com ele, realmente tem um bom motivo. Durante o episódio que participa, fiquei bem em dúvida sobre a possibilidade dele se tornar recorrente, o que acabou não acontecendo – ainda bem!

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Querem polêmica? Então vamos lá. Primeira coisa: eu sei que rola toda uma briguinha para saber quem é o melhor par da Rory. Só que na linha temporal que a série segue, somente Dean aparece durante o primeiro ano, o que faz dele o único que posso comentar (tem Tristin também, vivido por Chad Michael Murray em uma atuação bem decente, diferente de tudo que já vi ele fazendo – mas não vale muito a pena comentar, né). Assim, eu não morro de amores pelo personagem. Talvez o momento que eu mais tenha simpatizado foi quando ele armou tudo para o aniversário de 3 meses, incluindo um carro (estamos aceitando amor sincero que dê carros de presente) e disse o malfadado “eu te amo” que acabou colocando um obstáculo na sua relação com a menina. Mas é quase que só isso. No resto do tempo sou bem indiferente e odeio quando ele tem alguns pensamentos machistas retrógrados, como a mulher do lar que vai estar o esperando com o jantar pronto sempre que chegar do trabalho – essa sequência me incomoda demais e achei muito que Rory ia ser um pouco mais dura ou sarcástica na crítica, mas tudo que ela fez foi satisfazer um desejo do namorado.

 

Emily e Richard

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Eu odiei os dois de cara. Os únicos personagens que odiei mais foram os pais de Christopher, mas não tem nem comparação. A questão é que somos apresentados a Emily e Richard de uma maneira muito forte no sentido de obrigação familiar. Em troca de visitas da filha e da neta, eles se propunham a pagar pela educação de Rory. Isso era ridículo e eu não conseguia aceitar que alguém se vendia a esse ponto. Aos poucos, as camadas mais escondidas de Emily foram aparecendo e, por trás do muito rancor que carrega pela partida da filha (o que dificilmente passará do dia para noite), conseguimos ver uma mulher que teve de ser forte para conseguir lidar com o escândalo de ter uma filha grávida na adolescência e que agora luta para estar mais perto delas novamente.

Isso é claramente notado quando a mãe de Richard vem a cidade e oferece liberar parte dos seus fundos para que Rory pagasse seus estudos. Acho que é o momento em que vimos Emily mais vulnerável, atormentada pela possibilidade de que, sem a obrigação dos jantares semanais, não veria mais a filha e a neta. Outro dos seus grandes momentos é quando Richard sofre um acidente vascular e acaba no hospital preocupando a todos. A maneira que lida com aquilo de forma tão pura e forte chega a ser admirável. E mesmo para uma mulher que a primeira vista podemos julgar fria e fútil, percebemos as palavras de desespero diante do medo da solidão: ela realmente ama seu marido e aquela é a maneira que  ela encontrou de demonstrar o que sente, não cabendo a nenhum de nós julgar. Outro momento interessantíssimo seu é quando visita Stars Hollow e negocia com a mãe de Lane. Espero demais que a série volte a investir na relação, seria super legal.

 

Alguns outros comentários

  • Eu amo demais o mal humor do Michel. Sério, quero tanto que ele comece a aparecer mais daqui para frente que até dou uma sofridinha pensando que ele pode ficar de lado para sempre.
  • Luke sou eu na vida, sempre querendo acabar com as graça de todo mundo quando inventam coisas que não fazem o menor sentido, tipo ficar embaixo de neve para homenagear uma tradição da cidade.
  • Lane é uma personagem incrível e tão maluquinha. Gosto da maneira que ela e Rory se contrapõe e se complementam. Acho demais também como ela é um oposto de tudo que a cultura asiática prega, mais uma maneira que a série tem de quebrar alguns paradigmas nossos.
  • Paris querida, tira esse bico da cara que vai deixar marca de expressão. A participação da personagem, mesmo sendo bem “constante” é tímida, com poucas tramas trabalhadas. Ela é claramente o tipo de rival que vai se tornar amiga em algum momento, o que já quase aconteceu várias vezes, sempre interrompido por influências externas.
  • Não consigo definir um melhor episódio para esse primeiro ano, mas fico entre o aniversário da Rory lá no comecinho da temporada ou o episódio que ela faz três meses de namoro com Dean. Tá, talvez eu também goste bastante do retorno de Christopher.
  • A série leva tão a sério suas personagens femininas que os homens praticamente só orbitam em volta das suas histórias, o que é maravilhoso.
  • Mais café, por favor.

 


E esse foi nosso primeiro ponto de parada. Nosso próximo encontro acontece no dia 28/08. Estarei esperando você por aqui – agora mandem ver nos comentários que eu estou ansioso para falar mais do que isso tudo que já falei!

 


Leandro Lemella

Caiçara, viciado em cultura pop e uns papo bobo. No mundo das séries, vai do fútil ao complicado, passando por comédias com risada de fundo e dramas heroicos mal compreendidos.

Santos/SP

Série Favorita: Arrow

Não assiste de jeito nenhum: The Walking Dead

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