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Maratona The O.C. – 1ª temporada

Por: em 15 de novembro de 2016

Maratona The O.C. – 1ª temporada

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Temos muito o que conversar. Parece que vivemos uma eternidade desde a última vez em que nos encontramos. Talvez o tema mais óbvio para começar a debater The O.C. seja o romance teen – para mim, esse tema sempre foi o suficiente quando eu era teen. No início da temporada, os diálogos adolescentes dificilmente abordavam outro assunto. Devo admitir que, assim como a Anna, fiquei exausta de ouvir o Seth falar da Summer sem parar – embora eu shippe o casal eternamente. Mas a série tem outras nuances que merecem nossa atenção e que, por vezes, podem passar batidas pelos olhares desapercebidos do público. Vamos falar de tudo isso.

Já no primeiro episódio – também conhecido como “um dos melhores pilotos que eu já vi” –, há roubo de carro, prisão, alcoolismo, violência física e verbal, crime do colarinho branco e cocaína. E a gente assiste, se identifica e acha fofo. Porque, ainda que tenha tudo isso, a série vai muito além: The O.C. vasculha os sentimentos mais frágeis dos personagens e os expõe para o telespectador, como num diário aberto. O mérito é de diretores, roteiristas, elenco e até maquiadores (quem também ficou besta com a transformação no rosto da Summer, que envelhece uns cinco anos e acompanha o desenvolvimento de sua personalidade ao longo da temporada?).

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A história começa em Chino, na Califórnia, quando o irmão mais velho de Ryan o convence a roubar um carro. Trey é preso, mas Ryan – ainda menor de idade, com 17 anos – segue para o encontro do defensor público Sandy Cohen. Com poucas palavras e um olhar matador, Ryan insiste em passar a imagem de bad boy e diz frases como: “De onde eu venho, sonhar não faz de você alguém inteligente; mas saber que os sonhos não se tornarão realidade, sim”. Ainda assim, por trás daquele capuz – que saiu de um videoclipe do Eminem –, há um doce garoto que, digamos, nasceu na família errada. Sabemos que a mãe é alcóolatra, o pai está na prisão e o irmão torna-se um jovem marginal.

Sem coragem de deixá-lo para trás, abandonado, Sandy leva Ryan para casa: uma mansão na sofisticada Newport Beach. A transição estética entre Chino e Newport é maravilhosa. A imagem pobre, com baixa saturação, dá lugar ao verde vibrante dos campos de golfe e ao bronzeado dos surfistas. Esse contraste volta à tona sempre que visitamos Chino e funciona perfeitamente para distanciar as duas realidades, ainda que em nosso inconsciente.

A mulher de Sandy, Kirsten, é milionária e filha do homem mais poderoso da região. O filho do casal, Seth, tem 16 anos e parece o clichê do jovem geek, que cultiva uma paixão platônica por Summer, a garota popular da escola. Summer é melhor amiga de Marissa, vizinha de Sandy, Kirsten, Seth e agora Ryan. Senta, que lá vem história.

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Logo no primeiro momento de Ryan em Orange County (O.C., na forma curta), ele conhece Marissa, por quem se apaixona à primeira vista – para a satisfação dos corações famintos por romance, que só tinham visto tragédia até agora. Mas Marissa Cooper é a pior coisa que poderia acontecer ao Ryan. Eu explico: Ryan se envolve em brigas por ela e até perde a chance de se matricular em Harbor para ajudá-la a fugir do hospital. E o que ganha em troca? Nada. Marissa traz memórias de uma vida que Ryan tenta esquecer e impede que nosso garoto seja feliz.

Ela se sente deslocada da sociedade. Tenho uma novidade para vocês: todo mundo ali se sente assim. Marissa pode até receber um bônus, considerando algumas situações bem azarentas (pai fraudulento, mãe aparentemente megera, namorado desinibido). Mas, para mim, esses dramas não justificam as besteiras que ela faz. Roubar um relógio no shopping, levar garrafa de vodca para eventos chiques… Quando pensamos que a overdose de analgésicos em Tijuana é o fundo do poço, Oliver aparece para dizer que o buraco é mais embaixo.

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Eu já odiei o Oliver. Com todas as minhas forças. No entanto, hoje, revendo e percebendo como a Marissa é uma desgraça na vida do Ryan, comecei a rezar para a Netflix ter criado uma edição especial em que Marissa foge para Paris com o Oliver. Não aconteceu. Ryan continua chegando a tempo na festa de Réveillon, bem na hora em que Marissa se prepara para beijar Oliver e celebrar o ano novo (quem faria isso, gente?).

Essa cena mexeu demais com meu “antes” e “depois” como telespectadora de The O.C. Me lembro de torcer desesperadamente para que Ryan pudesse encontrar a Marissa na festa. Hoje, embora tenha rezado para a Netflix deletar a cena, continuo achando o suspense excelente. Embalados pela contagem regressiva para meia-noite e a canção Dice, de Finley Quaye, vemos Ryan apressado, escadas acima. Enquanto isso, Summer e Anna percebem que prefeririam estar com Seth. E Sandy “trapaceia” na brincadeira do swing para ficar com Kirsten. Desta vez, me peguei sorrindo feito boba para o trecho do casal mais coroa. Sandy é o homem dos sonhos. Acho que envelheci, sei lá.

A amizade quase colorida entre Marissa e Oliver foi o bastante para abalar o namoro com Ryan. Marissa conheceu Oliver na sala de espera do psiquiatra e se identificou logo com ele – outro adolescente que passou por traumas como o dela. Sintonia imediata. Ryan é um ímã de confusão e já sacou que o Oliver causaria problemas. Tentou alertar Marissa sobre o novo amigo, mas a garota não deu bola. Ponto para o Ryan. Zero para a Marissa, que jogou o namorado nos braços de Theresa. Adoro a rima entre o nome das duas. É tão poético e irônico. Marissa, Theresa, Theresa, Marissa.

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Sempre tive um pé atrás com a Theresa, mas nunca soube entender por quê. Já deixei claro que não shippo Ryan e Marissa, então não poderia ser isso. Vamos analisar: em teoria, Theresa parece perfeita. Faz Ryan sorrir como poucas vezes nessa temporada; são amigos de infância, primeiro amor da adolescência. A garota pode até soar agressiva em sua primeira aparição, quando Ryan e Marissa vão a Chino, no Dia de Ação de Graças, e batem na porta dela para procurar por Arturo. Mas tem toda razão: Ryan deixou tudo para trás, sem se despedir. Nós, espectadores, que acompanhamos o cotidiano de Newport, sequer pensamos por esse lado. Então, afinal, por que diabos eu não gosto da Theresa?

Até que caiu a ficha: meu problema é com a atriz, que parece muito mais velha do que Ryan (embora Navi Rawat tenha nascido em 1977 e Ben McKenzie, 1978). Não consigo crer nela como adolescente e fico com a sensação de que ela está se aproveitando do garoto (flashbacks do relacionamento desregulado entre Julie e Luke). É uma pena: a personagem de Theresa teria muito potencial, especialmente com aquela bomba no final da temporada.

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O relacionamento mais admirável do Ryan é a fraternidade e cumplicidade com Seth. Eles formam uma dupla equilibrada entre razão e emoção. Apesar de terem personalidades e experiências de vida bem distintas, os irmãos postiços se entendem e se respeitam. O diálogo em que Seth pergunta se Ryan ainda é virgem retrata bem isso: Ryan começa a contar nos dedos para lembrar quantas garotas já levou para a cama; Seth, incrédulo, faz uma piada qualquer. Assunto encerrado.

Seth é um personagem muito complexo. A princípio, parece infantil e anti-social – o que não deixa de ser verdade. No episódio piloto, Marissa o descreve como alguém que “se acha melhor do que os outros” – também faz sentido. Eu acho que ele é um dos poucos habitantes de Newport que não se importa com status. Puxou ao pai. Seth fala pelos cotovelos e tem agilidade para fazer piadas inteligentes. Ele não é tímido – simplesmente não liga para as futilidades da vida em Newport.

A paixão dele por Summer pode parecer superficial, mas veja bem: Seth não se apaixonou pela Marissa, cujos interesses nós pouco conhecemos. Ele gosta da Summer: a garota que escreve poemas sobre sereias, lê Forbes, compra remédios para a madrasta, tem um cavalo de brinquedo no quarto, assiste The Valley, sabe a música de abertura de Golden Girls, e estuda as tradições judaicas para impressionar a vovó Cohen. Apesar de Summer lutar para se encaixar no perfil de Orange County, Seth percebe a profundidade da garota. O amadurecimento do casal é tão bem desenvolvido na série, que me emociona.

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Confiança, Cohen.

Tudo de que Seth precisava era um empurrãozinho – e aí entram Ryan e Anna, seus anjos da guarda. Eu gosto da Anna. Talvez porque, apesar de ela ser a primeira namorada do Seth e atrasar todo o romance oficial com a Summer, sempre soubemos que Seth terminaria junto da Summer. É como se a série cochichasse em nossos ouvidos: “Pode shippar Seth e Summer, vai ficar tudo bem, só estamos te enrolando para aumentar a audiência.” É isso que The O.C. faz com a coitada da Anna: joga a garota na friendzone e cria um episódio inteiro em que Seth e Anna se vestem iguaizinhos e fazem tudo parecido, como gêmeos. É ótimo. Como a própria Anna diz: impossível competir com a garota por quem Seth é apaixonado desde seus 10 anos.

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Como já falei, nossos personagens são carentes. Aprendem, desde criança, que O.C. é uma comunidade pequena e competitiva, onde não existe aquele papo: “Falem mal, mas falem de mim”. Publicidade ruim não é uma opção em Newport Beach. As pessoas precisam gostar de você. O desfecho do 12º episódio deixa isso claro, quando todos descobrem a orientação sexual do pai do Luke, o que destrói sua reputação e sua família. É lindo ver como a amizade entre os protagonistas adolescentes da série se fortalece nos momentos mais sofridos.

Apesar de Luke ter histórico violento e expressar suas emoções intensamente através de sexo a brigas (leia-se: deu porrada em Ryan e Seth e traiu a Marissa), há possibilidade de ele se redimir e ser aceito pelo grupo. Nesse sentido, Luke e Ryan são bastante parecidos e conseguem enxergar essa semelhança no outro. Não à toa, se apaixonam pela mesma garota.

Vale lembrar que todo esse dengo, no vídeo, foi anterior ao affair escandaloso de Luke e Julie. Ainda assim, não consigo ver nenhum dos dois como vilão. Julie é uma das minhas personagens favoritas. De todos os tempos. E a frase de Jimmy para Marissa me faz admirá-la ainda mais:

Sua mãe tem que acordar, todo dia, e ser Julie Cooper.

“Ser Julie Cooper” não é para qualquer um – e somente os olhos poderosos da atriz Melinda Clarke poderiam interpretá-la tão bem na TV.

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Apesar de toda a postura, Julie é exatamente como a maioria dos demais personagens de Newport: carente e faz de tudo pela “sobrevivência” social. Ela morre de ciúmes de Marissa, Kirsten e Hailey.

Podemos dizer que Marissa leva a vida de “menina rica” com que Julie sempre sonhou em seus tempos mirins e, assim, Julie não aceita que a filha seja diferente do que planejou. O marido, Jimmy, ainda tem sentimentos pela Kirsten: “Ou você acha que é coincidência nós morarmos na casa ao lado?,” ela admite. Hailey, irmã de Kirsten, assim como Marissa, é o alter-ego de Julie – jovem, bonita, aventureira e patrocinada pela riqueza do pai. Resultado: Julie se separa de Jimmy, tem um affair com Luke, e se casa com o afortunado (e secretamente falido) Caleb Nichol, pai de Kirsten e Hailey. Hailey começa um romance com Jimmy. Todo mundo sai feliz.

Esse troca-troca conjugal se encerra na mesa de jantar, em que Caleb anuncia a união das famílias Cohen, Cooper e Nichol.

 

Outras observações

  • Repararam na reação deslumbrada da pequena Kaitlin, irmã quase invisível da Marissa, quando Luke vai encontrar Julie e ela abre a porta? “Mãe, peraí, a gente está conversando.” Gravem isso. Vai ser importante para as próximas temporadas.
  • A paródia que eles criam dentro da própria série é genial. The Valley, programa favorito da Summer, aponta todos os “defeitos” que nós, telespectadores e críticos, poderíamos ver em The O.C. Um exemplo é a idade do elenco (alô, Theresa). O ídolo da Summer, na TV, parece mais velho do que o personagem. Seth justifica: “É Hollywood!”
  • Adoro quando eles repetem frases-chave em diferentes momentos do episódio. O roteiro fica tão redondinho e aconchegante.
  • Gabrielle, a namorada do Caleb que conhecemos logo no início da temporada, é uma grande filósofa. Ela diz para o Ryan: “Eu daria tudo para ficar assim, tão miserável. Pelo que me lembro, isso significa estar apaixonado”.
  • E quando a Summer fala que “Caleb Nichol é o Donald Trump do oeste”? Presidente Nichol já!
  • Todo meu amor pelo episódio de Chrismukkah.
  • Luke, no show de rock, gritando para a banda Rooney, que ele nem conhece. Sem palavras para aquela cena. Sempre morro de rir.
  • Bonnie Somerville é a atriz que faz Rachel – a colega de trabalho que paquera o Sandy – e já participou de Friends. Ela era Mona, namorada do Ross. E o nome “Rachel” foi coincidência? Duvido.
  • Toda vez que aparecia cena de surfe, no meio da paisagem de Newport, eu procurava ver se achava o Sandy. Vai que eles resolvem esconder um Easter Egg no oceano?
  • Tenho uma teoria de que Jimmy fazia bico como passeador de cachorro. É a única explicação para o Golden Retriever que só aparece, convenientemente, sempre que Jimmy está andando na rua e encontra Kirsten.
  • A trilha sonora de The O.C. é fantástica. Se quiser ouvir mais, clique aqui para ver nossos posts especiais com toda a música da série.

 

Consegui me comportar, emocionalmente, durante toda a temporada. Tudo bem, os olhos encheram d’água aqui e ali, mas o season finale acabou comigo. Não me lembrava que a Theresa engravidava e o Ryan ia embora – e ainda botava o mesmo capuz do Eminem com que chegou em Newport. Chorei mais do que a Kirsten. E, se tivesse um barco, ia velejar igual ao Seth – que segue o exemplo de Ryan e deixa tudo para trás.

 


A caixinha de comentários está aberta: o que vocês acharam do primeiro ano de The O.C.? Prontos para a segunda temporada? Nosso próximo encontro é dia 15 de dezembro!


Alice Reis

Jornalista que não bebe café, mas vai ao Central Perk com frequência. Gostaria de viver em todas as séries filmadas em Nova York.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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