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Maratona The O.C. – 4ª temporada

Por: em 31 de janeiro de 2017

Maratona The O.C. – 4ª temporada

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Os roteiristas de The O.C. provavelmente imaginaram que ninguém assistiria à quarta temporada. Que poderiam pirar na batatinha, fazer o que quisessem, e ninguém ficaria sabendo. Ah, mas nós vimos tudo. O drama com que estávamos acostumados ficou para trás junto com Marissa. Foi substituído por um tom cômico e irreverente – quase uma sitcom, se me permitem a comparação. Eu nunca diria que personagens caricatos, como Che, teriam espaço na trama.

Eles também aproveitaram para abusar dos flashbacks – que já estavam virando tendência desde a temporada anterior – e inserir aquelas loucurinhas de “sei lá quantas horas antes” ou “tantos meses depois”, que acompanhamos atualmente em How To Get Away With Murder. Ainda criaram um episódio inteiro com universo paralelo, antes mesmo de sonharmos que Stranger Things existiria, e outro com uma pegada de horror, depois de um terremoto que abalou Newport. Logo no primeiro episódio, há uma narração bem estilo The Mindy Project, em que Seth grava um recado para Summer e aproveita para nos atualizar sobre os demais personagens.

Tivemos uma elipse temporal e avançamos cinco meses na história. Ainda bem, porque ninguém queria cutucar a ferida da última temporada e ver a sequência da morte de Marissa. Pudemos pescar informações, aqui e ali, e descobrir que houve um funeral, ao qual Ryan se recusou a ir, e que Volchok estava desaparecido desde o acidente. Também encaramos a dor dos personagens com a ausência da garota. Foi triste ver Julie e Ryan tão abatidos e longe da realidade, como se estivessem dopados.

Ryan abandonou a família Cohen, foi trabalhar num bar e morar num quartinho sujo, nos fundos da espelunca. À noite, entrava no ringue para lutar contra marmanjos e ganhar um trocado extra. O plot foi uma grande sacada, já que Ryan precisaria extravasar a ira que sentia por Volchok e alimentar seu instinto de guerrilha. Julie continuava casada com Neil, mas vivia solitária em seus pensamentos e tentando se manter ocupada com afazeres domésticos, ignorando o marido e Kaitlin. Mas, como sempre, a mulher tinha um plano: convencer Ryan a se vingar e matar Volchok. Graças a um detetive particular, Julie descobriu o paradeiro do rapaz no México. A cena em que Ryan e Julie se encontram no cemitério, próximo ao túmulo de Marissa, para fechar o acordo, é um dos momentos mais emocionantes da série. Melinda Clarke é um escândalo no papel de Julie.

Seth, Sandy e Kirsten descobrem que Ryan está atrás de Volchok e, felizmente, conseguem impedir um desastre – isto é, que ele novamente bote sua vida em jogo para defender a honra de Marissa, embora ela já tenha morrido. Volchok é preso. A família Cohen custa a perdoar Julie por fazer Ryan correr esse risco. E eu, como sempre, não consigo ficar contra Julie: simplesmente encaro a TV e, silenciosamente, aguardo a cena seguinte. Ah, mais um item para o top “cenas em que eu chorei”, se alguém estiver fazendo uma listinha: Julie pede a Ryan para falar sobre Marissa, na casa da piscina. Passa o lencinho, por favor.

É hora de superar o luto e seguir adiante com a série, porque já foram três episódios de sofrimento e a gente precisa segurar a audiência. Marissa não fez falta na série (e a Netflix poderia trocar a thumbnail para a gente não ficar olhando para a garota sempre que assistir, né?). Ryan voltou para o lar dos Cohen. De repente, Julie recuperou a diva manipuladora que nós tanto idolatramos, sacou tudo sobre o adultério de Neil, expulsou o homem de casa e ainda manteve a mansão para si. A terapia relâmpago de Summer, que se curou em apenas uma semana, talvez tenha sido aquele momento constrangedor em que The O.C. definitivamente virou uma sitcom.

Summer é “o jovem Sandy Cohen”, como ele mesmo se orgulha em dizer. Uma ativista social que, a princípio, encontrou no meio-ambiente uma desculpa para escapar dos problemas de casa, mas percebeu que seria possível depilar as pernas, ter um cartaz de O Diabo Veste Prada no dormitório e, por mais que pareça incoerente, ainda cuidar da natureza. Eu só queria que ela não fosse tão “paz e amor” a ponto de perdoar Che por ter causado sua expulsão de Brown. Primeiro, isso é simplesmente inaceitável – ponto unânime. Segundo, ele é o personagem mais sem graça da série e não precisava participar de nove episódios. Não importa que seja interpretado pelo Chris Pratt.

Mas Summer precisava sair de Brown pelo bem da série. A gente sabe o que aconteceu com Girls, quando Hannah se mudou para Iowa. Chatíssimo. E, cá pra nós, foi uma delícia ver o time de divas Summer, Julie, Kaitlin e Taylor dividirem a mesma casa. Eu queria uma vaga naquela república poderosa.

Também teve Chris Brown, que provavelmente foi uma ferramenta de elenco para subir a audiência. Afinal, em 2007, quando a temporada foi exibida originalmente, o rapper era uma febre e deve ter arrancado vários “awww” do público ao vê-lo fazer papel de geek na TV. Mesmo que ele não saiba atuar, serviu para atrair atenção para o plot da Kaitlin, que finalmente se apaixona por alguém da idade dela. A caçula da família Cooper não tinha muitos amigos – além de Eric e Brad, irmãos de Luke, o que foi uma boa sacada para ressuscitar personagens antigos – e só queria saber de homens mais velhos. O professor de tênis foi um deles.

Spencer nos mostrou que Julie continua a mesma pessoa que, algumas temporadas atrás, dormiu com Luke. Apesar de amar as filhas (e preferir a Marissa à Kaitlin, concordam?), Julie compete com suas garotas. O pai de Spencer, Gordon “the Bullit”, representa alguém que Kaitlin finalmente enxerga como uma figura paterna – e não como um namorado em potencial. Por isso, ela quer tanto que Julie se case com ele. E também pelo dinheiro, é claro. Embora Julie queira agradar Kaitlin, ela parece ter encontrado o amor verdadeiro em outro lugar.

Ela gosta mesmo é do pai do Ryan. Neste momento, tive certeza de que os roteiristas queriam testar se havia alguém assistindo à série. Não é possível. Sempre tivemos a pior impressão de Frank, o único Atwood que ainda não havíamos conhecido, e ele consegue roubar o coração de Julie. Logo dela. E ainda engravidá-la. E desaparecer. Não consegui levar a sério o episódio em que Kaitlin, Ryan e Taylor brincam de Operação Cupido com o casal.

Taylor (ou Pêssego) era tudo que o Ryan precisava desde a primeira temporada. Chegou tarde, mas está em tempo. A garota é cultíssima, tem facilidade para desvendar a quietude de Ryan, e não precisa que ele seja seu salvador. Tudo de que Taylor realmente precisa são três palavrinhas mágicas, que preenchem seu coração carente com segurança. Sabemos que Ryan tem uma dificuldade astronômica para se declarar, enquanto Henri-Michel, o ex-marido francês, escreve livros e poemas para a Pêssego. Mas Ryan consegue dizer a Taylor como se sente, e o processo para ele perceber como gosta da Taylor – com os sonhos eróticos – é genial.

Flashbacks

Seth foi terrível na temporada anterior – um desvio de caráter meio Rory Gilmore, no revival de Gilmore Girls -, mas voltou a me conquistar agora. Este período sabático, antes de entrar para a faculdade de design e viver em Providence, serviu para Seth amadurecer seu relacionamento com Summer – em vez de casar repentinamente – e perceber que a garota merecia ser feliz longe dele. Num dos flashbacks, acompanhamos o momento em que Seth se apaixona por Summer, quando ela lê o poema da sereia para a turma.

Já conhecíamos a história do poema desde a primeira temporada, mas, desta vez, tivemos um plot twist sensacional: foi Taylor quem escreveu o poema. Seth começa a questionar seu amor pela namorada e Kirsten – que parece o Hitch: Conselheiro Amoroso nesta temporada, provavelmente inspirada pelo novo business NewMatch – o aconselha a esquecer a Summer da fantasia. Ele deve pensar na verdadeira Summer. E vamos combinar que essa Summer é demais.

E tem mais flashback. Vimos a história de Kirsten e seus relacionamentos com Jimmy e Sandy. Como já aconteceu em outras temporadas, podemos traçar aqui uma comparação com situações de Gossip Girl. A cena me lembrou o episódio em que conhecemos o passado de Lily, mãe da Serena – que também serviu como piloto de spin-off para uma série que nunca existiu. A proposta aqui não seria fazer um spin-off com a Kiki, mas o clima e a estética dos episódios foram muito similares. Não posso deixar de notar como o sorriso do Sandy era encantador. O pessoal do casting fez um bom trabalho com este flashback a fim de capturar a essência do jovem “Peter Gallagher“.

Universo Paralelo

Este é o momento de comparar a série com Friends – quem se lembra do episódio The One That Could’ve Been? O relacionamento de Kirsten e Jimmy também veio à tona no sétimo episódio – The Chrismukk-huh? Na trama, ainda beirando o estilo pastelão, Ryan e Taylor caem da escada, entram em coma e vão parar num universo paralelo, onde eles não existem. Este episódio me deixou com um sentimento estranho. A proposta é interessante – provar como Ryan foi responsável pela sanidade da família Cohen e o equilíbrio da comunidade de Newport -, mas também fico pensando que poderia ser um especial à parte, em vez de integrar a grade regular da série.

Sem Ryan, Seth seria um bobo e nunca teria falado com Summer. Ela viraria uma Newpsie fútil, noiva do cafajeste Che, que tem um caso com… ahm, Julie, que é casada com Sandy. Sandy e Kirsten teriam se divorciado. Sandy se candidataria a prefeito de Newport; Kirsten, esposa de Jimmy, continuaria infeliz no Newport Group.

Kaitlin é super inteligente e estuda em Berkeley; Marissa teria morrido de overdose em Tijuana, o que significa que Ryan salvou sua vida – pelo menos por mais três anos, até ela morrer no acidente. Outra informação, que aparece sutilmente num cartaz, é que Johnny estaria vivo e seria um astro do surfe – certamente porque nunca teria conhecido Marissa e Ryan, se apaixonado, subido na pedra e caído.

A parte engraçada é que, no outro universo, Taylor seria um rapaz.

Os verdadeiros Ryan e Taylor só poderiam sair deste universo paralelo quando consertassem os problemas. É como um quebra-cabeças que precisaria ser organizado. Taylor falou umas verdades para Veronica e conseguiu voltar ao mundo real. Ryan teve de reunir todos os cônjuges na ordem correta para acordar do coma. Para os fãs de Stranger Things: ainda não temos sinais da Barb do lado de lá.

A fim de entrar no clima sobrenatural, California tocou num tom diferente neste episódio. Confira a versão especial:

Final

É o tipo de final cafona e feliz que satisfaz os telespectadores. Aquele último capítulo de novela, com casamentos e gente grávida. Depois de quatro anos de golpe do baú, Julie decide ficar solteira, conquista o diploma da graduação e tem o desafio de criar um menino (o filho que, simbolicamente, substitui Marissa). A mansão dos Cohen foi destruída pelo terremoto. Sandy e Kirsten vão para Berkeley, exatamente na mesma casa onde viveram os anos mais alegres de suas vidas, e ele se torna professor universitário. Nosso ship favorito tem uma nova garotinha para preencher o ninho vazio. Aposto que, se fizessem um revival hoje, o pequeno Cooper-Atwood já estaria galanteando Sophie Rose Cohen. E, por falar em Sophie, o nome certamente foi em homenagem à Nana Cohen, que deve ter falecido desde que a vimos pela última vez na série.

A vidente estava certa: existia um George e, embora a trama tenha nos levado a duvidar sobre o casal “Sethummer”, G.E.O.R.G.E. é uma ONG onde Summer se realiza profissionalmente. A poderosa Summer também acata ao pedido dos shippers de plantão e se torna a Sra. Seth Cohen.

Vá salvar o mundo, Summer Roberts.

Não temos certeza se Ryan e Taylor ainda estão juntos, mas a olhadela durante o casamento sugere que há romance no ar. Ryan se forma em Berkeley e, aparentemente, é um arquiteto bem sucedido. Ele vê um garoto na rua, sente nostalgia de sua juventude incerta, e lhe oferece ajuda. Ryan é o novo Sandy Cohen do pedaço.

A gente fala mal do desfecho de Gilmore Girls: Um Ano Para Recordar (ou talvez eu fale mal), mas, no fundo, gosta de um adeus piegas e todo aquele papo de “ciclo da vida”.

 


Agradeço a participação de todos os leitores e maratonistas ao longo desses meses. Que experiência incrível, rever uma série que marcou minha adolescência, depois de 10 anos.

Deixe sua dica: qual série você quer acompanhar junto com o Apaixonados por Séries na próxima maratona?


Alice Reis

Jornalista que não bebe café, mas vai ao Central Perk com frequência. Gostaria de viver em todas as séries filmadas em Nova York.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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