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Narcocultura e narcoseries

Por: em 27 de agosto de 2015

Narcocultura e narcoseries

Por: em

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Negro y Azul, sétimo episódio da segunda temporada de Breaking Bad traz uma sequência no mínimo interessante: The Ballad of Heisenberg. Exibido em abril de 2009 lá na TV norte-americana pela AMC, já mostrava seu olhar avançado. Tive a oportunidade de assistir a série só seis anos depois, mas ainda sim, essa sequência me causou certo estranhamento e repulsa. Por que alguma banda ou conjunto se dedicaria à musicalizar os feitos de um criminoso? A música em questão tem um termo próprio: narcorrido.

Aí você me pergunta o que é um narcorrido. E eu respondo: narcorrido são canções, geralmente em ritmos latinos, cantadas em espanhol, que contam os feitos dos narcotraficantes, feitos quase sempre baseados em fatos reais. Mais do que uma apologia ao crime eles são sintomáticos, produtos do meio no qual estão inseridos. O narcotráfico não existe por causa dos narcorridos e sim o inverso: os narcorridos são apenas uma das inúmeras produções vindas desse universo e dessa sociedade em particular, espalhada pela América Latina de língua espanhola (Brasil mais uma vez é suis generis aqui).

Mas eu já me adiantei: é preciso falar antes do que é, de fato, a narcocultura. A problemática do consumo e venda de drogas é um problema global. O consumo de drogas é uma realidade com suas diversas implicações. A produção de drogas também é uma realidade, um problema que atinge primordialmente países com baixo desenvolvimento econômico e social.

O narcotráfico e a narcocultura são modos de acessar a modernidade. A cultura do tráfico se entranhou na Colômbia e alcançou os países vizinhos. Se, no começo dos anos 80 as drogas eram marginalizadas e vistas amplamente como ruins, elas sofreram uma mudança de significados: alcançaram políticos, jogadores de futebol e celebridades, em níveis diferentes.  Políticos eram comprados por traficantes e os olimpianos se rendiam ao luxo e prazer causado pelas substâncias entorpecentes. E o que era um problema local tornou-se global: as drogas chegaram (principalmente a cocaína) aos Estados Unidos.

A cultura do tráfico não está ligada somente à produção e comercialização da droga: a cultura do tráfico abarca uma enorme quantidade de significados e sentidos. Nas sociedades pobres o tráfico poderia significar uma moeda de barganha, amarga, mas com efeitos eficaz: alcançar o sonho americano de riqueza e prosperidade. A riqueza e prosperidade se materializam através das posses de terras, carros, armamentos, homens (quase como soldados), mulheres (quase como objetos), palacetes. A cultura é a da ostentação, da riqueza.

Wagner Moura

Mas como em toda cultura ou sociedade, essa também tem suas estratificações. A grande divisão dentro da narcocultura é aquela entre os cargos ocupados por esses trabalhadores: existem os chefes, os grandes nomes, que costumam ser mais velhos e organizam os cartéis. São respeitados e lembram o imaginário do mafioso. No lado fraco da corda estão os sicários, os peões do tabuleiro. São eles que cumprem os serviços sujos que podem incluir venda de drogas, assassinatos e morte; as mulheres são os objetos cobiçados: de preferência novas, morenas, virgens e com grandes peitos. O sexo é a moeda que as jovens pobres e desesperadas em mudar de condição de vida usam para alcançar ascensão social.

A partir do governo de Álvaro Uribe (2002 – 2010) o narcotráfico tornou-se um problema de segunda classe. O foco era combater os paramilitares e as guerrilha,s gerando no imaginário popular uma ideia de que ele estava vencido ou era um problema do passado. Superado, o narcotráfico pode ser ficcionalizado. Já existiam livros e canções sobre o tema, agora é era vez também da televisão, funcionando como catarse.

As narconovelas ou narcoseries se distinguem das produções clássicas através de alguns fatores como: a relação com a “verdade documentada” e constante uso de imagens de arquivos ou referências a situações reais; o tom da tragédia anunciada; uma busca estética diferente, incluindo movimentações de câmera e outros aspectos estilísticos (parecidas com a renovação televisiva que pode ser observada nas recentes produções da Globo na faixa das onze e séries no Brasil, só para estabelecer um parâmetro) que se contrapõe à televisão clássica; a linguagem moderna e rápida, aproximada ao cotidiano; e, principalmente, por tematizar tabus da sociedade colombiana.

Só na Colômbia, nos últimos quinze anos, foram mais produzidas quase vinte narcoseries. O sucesso do fenômeno não se restringiu só à terra natal de Pablo Escobar, alcançando os países vizinhos de língua espanhola e gerando parcerias entre a rede norte-americana Telemundo e Espanha. No Brasil, ano passado “Pablo Escobar, senhor do tráfico” foi um grande sucesso, sendo exibida e reprisada pelo canal Globosat+ que atualmente exibe “A Rainha do Crime” (no original La Reina del Sur).

Pablo Escobar

Pablo Escobar

Uma das tendências apontadas no painel da Academia do Emmy Internacional, que aconteceu no Projac no final de junho deste ano, foram as séries hispânicas, novelas com tamanho reduzido, entre 60 e 70 episódios. Muitas dessas produções são as narcoseries. Se o catálogo do Netflix já contava com inúmeras novelas latinas, produzir uma série sobre Pablo Escobar e o tráfico é uma grande e esperta aposta. É abraçar um tema com força global, incluindo diretores locais (José Padilha e Fernando Coimbra) usando um elenco também local (Wagner Moura e Pedro Pascal) e o espanhol de maneira comercial: além de já conhecidos do grande público (Pascal é inclusive famoso por Game of Thrones) a história será estruturada em uma série em 10 episódios.

Pra quem quiser conhecer mais dessas produções colombianas e também não colombianas, segue o top 5 narcoseries:

Sin Tetas no hay paraíso (2006):

A terceira narcoserie colombiana a ser exibida pela TV Caracol (uma das maiores emissoras colombianas) tem um total de 23 episódios. Acompanha a vida de Catalina, uma menina virgem e pobre, que almeja a riqueza e ascender socialmente e encontra um empecilho de maior altura: seus seios. O padrão vigente entre os traficantes da região é seios grandes. Suas amigas se prostituem para esses traficantes e lucram com isso, enquanto ela mesma sonha com essa possibilidade. A série mostra como as escolhas de Catalina irão compor seu destino, conduzindo a um final trágico. O roteiro é adaptado da obra de Gustavo Bolívar que também virou filme e uma série de três temporadas, feita em parceira com a Telemundo. Gustavo se baseou em fatos verídicos para compor essa história. As cirurgias de inclusão de prótese mamária são comuns nas regiões periféricas e em bairros pobres em diversas cidades da Colômbia, onde jovens sonham em tornar-se pré-pagas, prostituas que servem aos caprichos sexuais de traficantes e seus capangas.

Pablo Escobar, El pátron do mal (2009 - 2012):

Também da TV Caracol baseada na vida (e obra) de Pablo Escobar com roteiro baseado em “La Parábola de Pablo”, contou com 74 episódios que foram sucesso na Colômbia e em outros países, incluindo Brasil e EUA. Uma curiosidade é que um dos produtores da série, Guilherme Cano, é filho de um dos muitos mortos por Pablo. Cada episódio custou por volta de 164 mil dólares, com elenco de 1.300 atores e 450 locações. Uma das grandes marcas é o apuro estético e visual, resultando em movimentos de câmera bem cuidados e trabalhos, cenografia buscando verossimilhança com o período histórico retratado e grande inserção de imagens de arquivo.

El Señor de los Cielos (2013):

Atualmente em exibição pela Telemundo, é uma parceria entre a TV Caracol e uma produtora colombiana foi renovada para uma quarta temporada e já contabiliza 244 episódios. Conta a história de Amado Carrillo Fuentes, um dos maiores narcotraficantes mexicanos, responsável pelo controle do Cartel de Juárez.

Las muñecas de la máfia (2009):

Contando com 50 episódios, foi exibida pela TV Caracol e acompanha a rotina de cinco mulheres que, de alguma maneira, se envolveram com o universo narco. Eram pré-pagas e esposas de narcotraficantes, num universo de ostentação e riqueza, no melhor estilo Mulheres Ricas.

La Reina del Sur (2011):
 

Produção conjunta entre Telemundo, a produtora colombiana RTI e pelo canal espanhol Antena 3, teve o custo de 10 milhões de dólares. Totalizando 63 episódios, a trama girava em torno de uma jovem mexicana que namorava um traficante. Após sua morte, ela vai para a Espanha e lá se torna uma das maiores narcotraficantes da região. A série é baseada na história de Sandra Ávila Beltrán, conhecida como a Rainha do Pacífico.


Ansioso pela estreia de Narcos? O Apaixonados por Séries está preparando uma supercobertura da nova série da Netflix. Fique de olho!


Daniel Matos

Ex-gordo, fã de televisão e da Palmirinha.

Belo Horizonte

Série Favorita: The Good Wife

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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