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O fim de Penny Dreadful e o atual medo de encerramentos

Por: em 24 de junho de 2016

O fim de Penny Dreadful e o atual medo de encerramentos

Por: em

Há poucos dias a internet surpreendeu aos fãs de Penny Dreadful após divulgar o vídeo feito pelo criador da série, John Logan, e notas afirmando que a série encerrava sua história junta a sua terceira temporada. Acompanhada da surpreendente revelação, viu-se também crescer o número de pessoas em busca de explicações que pudessem de certa maneira justificar o fim da série, confortando àqueles pegos de surpresa. E mesmo que eu tenha sido um destes, na realidade todo o buzz em torno da declaração de Logan de que a história foi pensada para durar apenas três anos, trouxe uma questão que há um bom tempo tem me incomodado: a de que ninguém mais parece estar pronto para lidar com encerramentos e finais.

Se duvida desta minha afirmação peço gentilmente que pense na quantidade de continuações que vêm tomando semanalmente as salas de cinema pelo mundo. O que antes parecia funcionar como recurso inovador ou saudosista, hoje mais parece uma obrigação por parte da indústria cinematográfica. Uma forma de prolongar as minas de ouro de arrecadação, insistindo em colher ainda os louros do que um dia fora uma ideia original. Onde a palavra de ordem parece ser a de que nada é tão ruim que não possa ganhar uma sequência. Se a história é tão boa a ponto de garantir o sucesso? Bom, isso já é outros quinhentos. Mas deixemos o mundo dos filmes pra depois e vamos nos ater aos das séries.

A possibilidade de contar uma história através de dez, treze, ou até mesmo vinte e quatro episódios, permite que a equipe criativa por trás da ideia tenha um pouco mais de liberdade para alinhar os rumos que a narrativa irá tomar. E ainda que muitas das séries tenham um custo de produção bem menor que às criadas para a sétima arte, hoje o universo das séries também é feita de superproduções capazes de criar uma grande base de fãs, como é o caso da série produzida pela HBO, Game of Thrones. Fãs que, de modo mais generalista, assumem o compromisso de acompanhar semanalmente seus personagens preferidos.

A identificação é tamanha que, inúmeros são, hoje, os canais para que fãs dos mais diferentes tipos e séries possam interagir trocar experiências, teorias e até mesmo questionar os rumos para onde a história está se dirigindo. É esta mesma vontade que dá vida a milhares de blogs destinados a cobrir o universo das séries. O problema é que, mesmo que a audiência seja um dos fatores principais para determinar a continuidade de um projeto ou não na televisão, ela não pode ser determinante na hora de decretar o tempo de vida de cada um das produções.

Enquanto os filmes têm suas partes I, II, III – ou no caso dos filmes do Jason muito mais que isso – as séries trazem suas histórias divididas por temporadas, que quase sempre se referem a um ano de trabalho. Temporadas que permitem o encerramento de histórias paralelas, criação de arcos apenas para prender a atenção do expectador por um tempo, ou para funcionar muitas vezes como medidor de emoções daquele mesmo público que um dia foi cativado logo nos primeiros episódios da série. O problema é que esta paixão parece gerar por vezes, e ao longo prazo, o sentimento quase doentio de posse por parte desse expectador. A ponto de muitas vezes – no caso de produções da TV aberta, por exemplo -, alterar a ideia original de uma série após ficar tanto anos no ar, como é o caso de The Vampire Diaries ou Grey’s Anatomy.

Como eu disse, existem inúmeras séries que estão no ar há anos. E entre altos e baixos, não existe aqui uma cartilha a ser seguida para determinar o sucesso ou o fracasso. Nem muito menos quantos anos seriam ideais para cada produção. Tudo, na verdade depende da ideia original, de um bom planejamento e, principalmente, da capacidade criativa de saber avaliar quando é hora de encerrar um projeto e dar vazão às novas ideias.

Os índices de audiências, as pesquisas de opinião pública, o comportamento nas redes sociais, o número de fãs, likes, shares, comentários, e outros inúmeros índices, tudo isso, serve para traçar o comportamento e as estratégias de uma série. Avaliando também quais as melhores formas de falar com o público específico, etc. No entanto, manter a fidelidade deste espectador é que parece ser a grande questão, afinal de contas, a cada dia surgem novas produções dispostas a entreter e criar uma fatia de público pra chamar de sua. E se lá no inicio a relação série x fã é feita só amores, ao longo dos anos e – dependendo – das tentativas, o comprometimento entre os dois pode ir mudando a ponto daquele que um dia foi seu maior apoiador ser o que reza para ver o fim da série. Uma espécie de ato de misericórdia, quase sempre aplicado àquela série que lá no ciclo de vida do produto das aulas de Marketing, diria que está no mais absoluto declínio. Porém, aqui quem decide isso, mesmo que indiretamente ainda é o expectador.

Talvez a grande questão tenha a ver com o reflexo de uma sociedade que tem sido moldada para não aprender a lidar com as frustrações. Que renega a importância que as decepções no macro cenário das relações pessoais. Afinal de contas, ainda que muito se negue enxergar o papel social desempenhado pelas produções de televisão, muitas vezes esta é uma das poucas fontes de referencia do expectador, usuário.

O problema de séries criadas para durar um tempo determinado é que, a escolha de quando se deve encerrar o projeto não mais depende do expectador. Logo ele já tão acostumado ao multi papel de: encantado, defensor, decepcionado e carrasco. Tudo, além da força onipresente da audiência, não mais é decidido por ele. Pulando, portanto, a preparação do “corpo” que no mundo das séries ganharia o nome de: salvação da produção por outro canal, petições on-line ou até crowdfunding.

Aqui a decisão já foi tomada e cabe ao público o papel que realmente é dele, o de expectador. A mudança de comportamento em que, cada vez mais o consumo é dirigido e direcionado um a um funciona sim, para inúmeros outros exemplos. Mas em se tratando de uma obra criativa o mais acertado é que se respeite a ideia original e a proposta de seu verdadeiro dono, o criador.

Isso não quer dizer que você fã não pode se indignar com a forma como sua série favorita foi concluída. A questão aqui é justamente esta. Entender e respeitar que como tudo na vida, as coisas têm começo, meio e fim. E nessa de insistirmos, quase sempre, na atitude egoísta de manter as coisas numa linha de sobrevida. Na realidade, só faz com que se perca a beleza que apenas os encerramentos podem proporcionar.

Sofrer por isso seria o mesmo que se eu concluísse meu texto sem usar ponto final, mas com…


Marcel Sampar

Paulista que puxa o erre pra falar, PHD em Análise do Drama pelas novelas mexicanas reprisadas no SBT e designer de homens palito. Com sérios problemas em se definir por aqui - sim, esta já é minha terceira tentativa em menos de um mês - mas que um dia chega lá!

Rio Preto/SP

Série Favorita: Sex and the City

Não assiste de jeito nenhum: Teen Wolf

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