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O impacto de Making a Murderer

Por: em 15 de janeiro de 2016

O impacto de Making a Murderer

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Precisamos falar sobre Making a Murderer! Disponibilizada em dezembro no Netflix, embora talvez seja a série mais falada atualmente nos Estados Unidos, por aqui ainda não caiu nas graças do povo (se é que posso chamar de “graça” a fixação com essa narrativa).

Afinal, qual o motivo do fuzuê? Bom, se você não está familiarizado com a história, aqui vai um resumo. Dirigida por Moira Demos e Laura Ricciardi, Making a Murderer é uma série documental, de 10 episódios de 60 minutos cada, que conta a história de Steven Avery. Steven era um jovem da pequena cidade de Manitowoc, Wisconsin, quando foi condenado pelo estupro de Penny Beerntsen. O detalhe: ele não cometeu o crime e ficou preso por 18 anos, até que um exame de DNA o exonerou. Isso já é explorado – à exaustão – logo no primeiro episódio e ficamos com a dúvida: o que será falado nos nove episódios restantes?

Steven Avery - Mugshot

Antes de entrarmos na parte mais inquietante da história, é preciso explorar o início de tudo. A família Avery nunca foi bem vista na cidade, donos de um grande ferro-velho e envolvidos em algumas confusões, seus membros fogem ao padrão esperado por aquela comunidade. Na adolescência Steven já havia sido condenado por roubo e maus-tratos a animais. Não era um santo (mas também não era um estuprador). Quando Penny Beerntsen é violentada, a polícia de Manitowoc decide, independente de provas, que o culpado é Steven. Eles ignoram qualquer pista que possa indicar que ele seja inocente – inclusive a confissão do autor do crime, cuja culpa é comprovada após a exoneração de Steven. Só isso já é motivo para revolta, né? Fique firme aí.

Dezoito anos após sua condenação, Steven é solto e vira um símbolo que representa o que há de errado com o sistema judiciário americano. Todos amam Steven! Ele passa a dar entrevistas a torto e a direito, participa de eventos ao lado do governador e outras autoridades, e um projeto de lei pensado para prevenir condenações equivocadas leva seu nome (the Avery Bill). Mas aí Steven resolve abrir um processo milionário ($36 mi) contra o condado de Manitowoc e diversos oficiais envolvidos em sua prisão. Como não foi apenas um caso de erro, tendo ficado claro que houve má fé da polícia e da promotoria, a seguradora não cobriria a quantia pedida por Steven – caso ele ganhasse a ação – e aí, meu caro, começa a sujeira. Se a seguradora não cobriria, esse dinheiro sairia do bolso de quem? Dos réus do processo. Os mesmos que armaram para Steve. Os mesmos que ignoraram sua inocência (lembra que o autor do crime havia confessado?).

Teresa Halbach

Então a fotógrafa Teresa Halbach, vista pela última vez no ferro-velho dos Avery onde ela foi fotografar um carro para um anúncio (de venda), é assassinada e Steven é acusado pelo crime. O que acontece a partir daí é inacreditável. Se fosse uma série ou um filme ficcional, diria que estavam apelando, que a história era forçada, fantasiosa, e que no “mundo real” isso nunca aconteceria. Mas é real e aconteceu. Provas plantadas, apelações negadas sem fundamento, coerção de testemunha menor de idade e a lista de absurdos continua.

O momento mais desesperador, na minha opinião, é o interrogatório (ilegal) do sobrinho de Steven. Brendan Dassey era um adolescente com séria deficiência cognitiva, que não fazia ideia do que estava fazendo ali. Ele é coagido a confessar um crime que não cometeu: teria, segundo os policiais, ajudado Steven a violentar, matar e desfazer-se do corpo de Teresa. O interrogatório está no documentário e é uma das coisas mais absurdas e tristes que já assisti.

Bom, Steven é condenado à prisão perpétua sem direito à condicional e assim permanece até hoje. Nesse último dia 12, Steven pediu mais uma vez a anulação de seu julgamento. Ele alega que o júri estava propenso a condená-lo e que a polícia havia plantado provas que o incriminaram. O que irá acontecer daqui para frente não sabemos, mas precisamos falar sobre isso, não?

Steven Avery

É difícil manter-se imparcial ao assistir ao documentário. A maioria que assiste bate o martelo: é inocente. Obviamente, não sabemos se Steven cometeu ou não o assassinato. As evidências parecem apontar para sua inocência, mas não são provas cabais. O fato de ter havido uma grande conspiração para condená-lo da primeira vez, pelo estupro, somado à questão da indenização que Steven pedia, e que não seria coberta pela seguradora, parecem ser motivos suficientes para uma nova armação.

Muito tem sido questionado sobre o motivo dessa comoção geral. Por que ficamos revoltados? Sinceramente, acho bem doentio esse tipo de questionamento. Precisa-se de motivos? O sujeito não foi condenado erroneamente, como infelizmente pode acontecer, e sim armaram para ele. As autoridades armaram, em todas as esferas – não só a polícia. E, pelo que tudo indica, armaram duas vezes! O mínimo de empatia é suficiente para deixar qualquer um agoniado, para dizer o mínimo. A sensação de impotência vem naturalmente, e quem gosta de sentir-se impotente?

Vale lembrar que o caso de Steven não é uma exceção e, dentro de um sistema judiciário polêmico como o dos EUA,  deve ocorrer com muito mais frequência do que se tem notícia. A diferença é que a sua história foi transformada em um documentário, uma produção muito bem feita, com uma bela montagem. Esse documentário foi disponibilizado no Netflix, para o mundo todo assistir. Receber esse tratamento foi, provavelmente, o motivo de tamanha comoção e de tantas pessoas terem assistido e se emocionado.

Talvez seja a oportunidade de unir forças para consertar, na medida do possível, a injustiça que ele sofreu, mas não só a dele. Podemos ter empatia pelos Avery e também torcer para que Making a Murderer vire uma série fixa, dando voz a outras pessoas na mesma situação de Steven. Não seria justo para todos? Eu acho que sim.

Não deixe de comentar, preciso debater essa série com alguém! 😛


Fernanda Faria

Adora fazer nada, mas faz tudo ao mesmo tempo. Viciada em séries de tudo quanto é tipo, guarda um espacinho maior no coração para as de temática transgressora. Precisa de uma bela pitada de humor pra viver.

São Paulo - SP

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Supernatural

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