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O inventor das risadas enlatadas na TV

Por: em 16 de março de 2017

O inventor das risadas enlatadas na TV

Por: em

A gente costuma associar as “risadas enlatadas” das séries de comédia aos anos 1980 e 1990 – e, realmente, várias sitcoms daquela época usavam os risos artificiais para pontuar as piadas do roteiro. Mas as mais recentes The Big Bang Theory, How I Met Your Mother, 2 Broke GirlsMom comprovam que essa cultura vai longe. A ferramenta, conhecida em inglês como laugh tracks (confira o glossário ao final da página!), tem uma função nobre: fazer você se sentir mais à vontade para rir.

Antes de existir rádio e televisão, as pessoas só assistiam a shows de comédia, dança e teatro ao vivo. Era uma experiência em grupo. Quando as ondas do rádio chegaram às residências, essa experiência ficou mais solitária. Os produtores de rádio (e depois da TV) tiveram a ideia de criar faixas de risada para fazer companhia aos espectadores, como se estivessem numa plateia lotada. Estamos falando de séries como I Love Lucy, ainda em 1950 e pouco:

O primeiro passo foi levar um público, de carne e osso, para o estúdio. Mas havia um probleminha: geralmente, uma cena precisava ser filmada várias vezes até chegar no take ideal. A plateia, que ouvia a mesma piada repetidamente, ria em intensidades diferentes a cada vez – mais forte ou mais suave. Na hora de editar o episódio, um engenheiro de som ficava responsável por equalizar as risadas e deixá-las no mesmo nível. Na CBS da década de 1950, esse funcionário era Charles Douglass. A técnica também é capaz de excluir as risadas mais esquisitonas, como essa aqui, que deixaram escapar na plateia de Friends:

Charles Douglass era um visionário. Com todo o know-how do áudio, ele inventou uma máquina, batizada de Laff Box (foto abaixo), que colecionava sons que as pessoas emitiam durante as comédias: risos, gemidos, gritos, aplausos etc. Os produtores perceberam a oportunidade de economia e conveniência: bastava cancelar as plateias e contratar Douglass para inserir as faixas de risada nos episódios. Ele era considerado um artista e sabia exatamente onde encaixar qual padrão de risada (alto, baixo, feminino ou masculino), conseguindo até deixar uma piada boba mais propensa à graça.

Douglass estabeleceu um monopólio da comédia em Hollywood e, entre 1950 e 1970, carregava sua invenção para todos os estúdios que o chamavam. Há quem diga que essas interferências sonoras subestimam a inteligência do espectador, mas o engenheiro estava apenas usando a psicologia a favor de seu trabalho – e voltamos àquela história de “uma experiência em grupo pode deixar o riso mais confortável” e, consequentemente, aumentar o vínculo do espectador com o seriado.

A questão é válida: será que a gente acharia tanta graça de uma cena sem laugh track? Alguém fez esse teste no YouTube, com um trecho de The Big Bang Theory. A sitcom, embora tenha toda a parafernalha de Charles Douglass disponível num computador, ainda aposta em estúdio com plateia de verdade.

As risadas enlatadas, quando usadas com estratégia e moderação, podem jogar a favor da série e potencializar o talento dos roteiristas de comédia. De brinde, ainda provocam nostalgia nos fãs de décadas passadas. Vivemos um momento tão individualista, com cada pessoa trancada em seu próprio universo particular, que essa ferramenta é uma boa companhia para as almas carentes. Como ninguém inventou “faixas de choro”, pra gente se sentir abraçado enquanto assiste This Is Us ou faz maratona de Parenthood? Tá aí uma ideia.

Glossário

  • Laugh tracks = faixas de risada;
  • Canned laugh = risada enlatada;
  • Laff box (laugh box) = caixa de risada, inventada por Charles Douglass.

Alice Reis

Jornalista que não bebe café, mas vai ao Central Perk com frequência. Gostaria de viver em todas as séries filmadas em Nova York.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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