Para nós, literalmente Apaixonados por Séries, é extremamente gratificante quando no meio de um número nem um pouco saudável de séries em nossas grades damos de cara com uma ou outra que possuem um ”Q” a mais, se diferindo e destacando das demais, seja, pela qualidade impressionante, histórias cativantes, elenco competente e entrosado, roteiro e direção alinhados em todos os sentidos, dispostos a apresentar uma trama real e impactante para o público. E foi este sentimento que The Book of Negroes despertou em mim, fazendo-me sentir extremamente sortuda por ter dado uma chance a esta minissérie que por estas terras, infelizmente, obteve pouco sucesso e repercussão.

Numa breve síntese, The Book of Negroes é originalmente uma obra literária que teve o seu roteiro adaptado para a televisão, se passa em meados dos anos 1700 e acompanha a história da vida de Aminata Diallo (Aunjuane Ellis), que quando ainda criança é capturada de sua terra terra natal, uma tribo no continente africano, e transportada para Carolina do Sul em uma América do Norte ainda colonizada pela coroa britânica, onde é vendida como escrava; demonstrando astúcia e inteligência desde o início, Aminata aprende a ler e a escrever, se desenvolvendo em meio a percalços e dificuldades até se tornar uma das figuras importantes que contribuíram com a coroa britânica durante a Revolução Americana. Mais informações em: The Book of Negroes – Vale Cada Minuto!

Apesar de se caracterizar como uma obra ficcional, a mesma se baseia em um documento real britânico intitulado ”The Book of Negroes” (O Livro dos Negros/Pretos) onde se registrava as informações dos escravos que na guerra contribuíram de algum modo com o lado britânico, e como recompensa ganharam liberdade e terras na Nova Escócia no país do Canadá. A personagem principal, que narra a sua história em três fases, na infância, adulta e idosa, não existiu propriamente, Aminata é inspirada em homens e mulheres com histórias semelhantes documentadas, se tornando a personificação de uma realidade vergonhosa na história do mundo: os atos desumanos de inferiorização aos negroides, a retirada forçada e massacrante de suas tripos e aldeias originárias, animalização, compra, venda e exploração do homem pelo próprio homem, enfim, o livro e posteriormente a minissérie evidenciam e descrevem este período de forma magistral e inteligente, ao ponto de se caracterizar como uma obra obra de valor histórico.

O livro/minissérie não se limita somente a temática da escravidão, mas também nos marcos históricos ocorridos naquele mesmo período em enfoque, exemplo, como esta população segregada foi afetada pelos acontecimentos da Guerra da Independência dos Estados Unidos, ou Revolução Americana, as suas contribuições e consequências sofridas num período conturbado que durou quase dez anos e terminou com a independência das treze colônias da Grã-Bretanha, que veio a se tornar o que hoje conhecemos como Estados Unidos da América.

Nos termos ficcionais, Aminata, escrava fugitiva adulta já calejada pela vida e separada do seu grande amor, e como já demonstrava ainda na infância, dotada de inteligência, articulação e garra invejada pelo povo livre tem um papel ainda mais fundamental neste período. a mesma é incumbida a tarefa do supracitado registro no The Book of Negroes, isto, em troca da possibilidade de segurança do marido que lutava na guerra; Aminata manejou e acalmou os humores de uma fundamentada desconfiança e descrédito da população contra a coroa britânica.

A emocionante e instigante narrativa retratada em The Book of Negroes é compilada em seis episódios, o que a define como uma minissérie, o show transcende o status de uma rotineira série dramática, os olhos mais sensíveis enxergam que estamos diante de uma obra de real valor histórico! Uma trama extremamente verdadeira, que nos auxilia a compreender melhor a dimensão do período da escravatura, assim como, preencher lacunas sobre o mesmo, tudo isso aos olhos de uma personagem acometida por grande parte dos horrores daquela época, que enfrenta tudo isso com uma coragem e força surpreendente.