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Orange is the New Black – 3×13 Trust no Bitch (Season Finale)

Por: em 15 de agosto de 2015

Orange is the New Black – 3×13 Trust no Bitch (Season Finale)

Por: em

A terceira temporada de Orange is the New Black veio confirmar que a série de Jenji Kohan está cada vez melhor. Através de episódios bastante politizados e discussões importantes a respeito do cotidiano carcerário, o roteiro conseguiu desenvolver e apresentar personagens ainda mais complexas, explorando tanto as suas fragilidades e traumas, quanto a força e as nuances de cada uma. O resultado de tudo isso apareceu nesta season finale, que deixou suspenso o futuro das detentas e dos guardas, além de ter apresentado um tom de libertação que sintetizou a grande mensagem de OITNB em 2015: não seja invisível.

boo-doggett

Trust no bitch começa com a clássica exibição de filmes, enquanto Doggett e Boo discutiam sobre a tentativa frustrada de executar o plano de vingança contra Donuts. “Não somos estupradoras o bastante”, justifica Pennsatucky, diante da indignação de Boo, sobre a incapacidade de revidar o abuso que sofreu. A amizade inesperada e completamente improvável entre as duas possibilitou um bocado de discussões importantes, colocando lado a lado personalidades opostas – se por um lado, Doggett reage com submissão frente aos abusos, Big Boo sempre manteve uma postura ativa de resistência e enfrentamento. Ao contrário do que o senso comum diz, mulheres podem sim ser amigas e se apoiarem. Até as mais diferentes. Mas não é porque não se tornaram estupradoras que elas permitiriam que a situação continuasse! Doggett simula um ataque epilético e com isso consegue escapar da função de dirigir o furgão. O problema é que sua substituta é Maritza. Alguém avisa a menina, pelo amor de deus?

Depois de encontrar Soso desmaiada na biblioteca, Poussey interrompe a sessão de cinema de Crazy Eyes e Taystee para pedir socorro. Por sorte, as pílulas que ela ingeriu não eram letais, mas a tentativa de suicídio de Brooke foi consequência de uma série de falhas: da religião, do respeito ao próximo, dos conselheiros e dos médicos. Ela chegou até aquele ponto por causa da segregação racial em Litchfield, do péssimo trabalho de Healy como conselheiro e da desatenção do sistema prisional à saúde daquelas que estão sob tutela. Mas depois do susto e de dois anos tentando encontrar seu lugar ali, Soso acaba acolhida por Poussey e as demais negras, rompendo uma grande barreira cultural – “Blasian is beautiful”, resume Poussey, defendendo a aproximação da solitária Soso ao seu grupo.

E por falar em romper barreiras culturais, a missão de Black Cindy em se converter ao judaísmo também tem lá sua beleza. O objetivo da conversão a princípio era apenas conservar o benefício judeu a uma comida bem melhor do que a mistura disforme oferecida pela prisão. Mas o que era pra ser apenas mais uma artimanha para garantir um almoço melhor, tornou-se um momento de libertação. Ao contrário daquele horror que assistimos em Comic Sans, Trust no Bitch mostrou um flashback realmente importante da pequena Cindy, oprimida pela rígida conduta cristã imposta pelo pai. Apesar do jeitão folgado e malandro, a personagem levou a conversão a sério, e encarou o novo estilo de vida como uma negação do modelo de comportamento e da fé que lhe foram impostos no passado. Nada de céu, inferno ou algum salvador. “E se você fizer algo de errado, você mesmo tem que se virar” é assim que Cindy, ou melhor, Tova, mostra seus conhecimentos sobre o judaísmo para o rabino… e, pensando bem, parece bastante com lógica de sobrevivência em Litchfield.

piper badass

Se virar, é o que Chapman tem tentado fazer desde que entrou na prisão federal. A personalidade difícil de Piper, que beira o egoísmo e a falta de noção, faz com que a personagem apresente suas piores nuances a cada temporada – e nesse sentido Taylor Schilling merece muito reconhecimento. A terceira temporada prometeu um triângulo amoroso entre Piper, Alex e Stella, o que não aconteceu exatamente, já que Vause soube lidar muito bem com a tentativa de Chapman em ser a ditadora benevolente de Litchfield. Amedrontada com as ameaças do lado de fora, a season finale não foi muito esperançosa pra Alex, que se deparou com Aydin, novo guarda e um dos capangas de Kubra, dentro da prisão. No fim das contas, a paranoia não era tão infundada assim.

Se as coisas ficaram ruins para Alex, também não foram muito animadoras para Stella, enviada direto para a segurança máxima depois de Piper a denunciar por contrabando. A denúncia foi na verdade uma vingança, já que a tatuada roubou todo o dinheiro do negócio lucrativo das calcinhas da loira. Piper levou à máxima “Trust no bitch” às últimas consequências, e pra quem achou que ela iria pegar leve com seu novo caso amoroso, ela surpreendeu e mostrou que seu nome do meio deve ser “Falsy Anne”. Depois de Flaca, Stella foi o alvo da ambição de Piper para conseguir uma grana extra e se impor no ambiente hostil e competitivo de Litchfield. Chapman termina a terceira temporada em uma posição mais confortável, apesar de convencer pouco nesse papel de bandidona traficante de calcinhas usadas – até quando ela conseguirá sustentar esse pequeno império?

As tramas de Norma e dos guardas tiveram um ponto de encontro inusitado neste encerramento. O staff da prisão decidiu entrar em greve justamente no dia em que a cerca do campo seria trocada! Santa Norma vê as portas abertas para a liberdade – ou para o lago – e leva junto com ela não só as seguidoras de sua religião maluca, mas todas aquelas que estavam por perto. O resultado disso foi uma cena linda, divertida, um dos raros momentos de integração entre todas as presas com um clima bem mais amigável que o da tempestade que atingiu a prisão na temporada passada. Os pequenos flashes de liberdade, a aproximação sutil de Poussey e Soso e Suzanne e a Domingas, a conclusão da conversão de Cindy e a alegria de elas estarem ali, juntas, sem pensar muito no que viria depois. Um final bonito, porém agridoce, já que era impossível não pensar e lamentar por Sophia presa na solitária por causa da transfobia de algumas daquelas mulheres.

finale

Algumas observações:

– Será que o romance de Suzanne vai para frente? Vai ser muito interessante ver como ela se comporta em um relacionamento

– Healy é mesmo um fracasso, mas pelo menos alguma russa reconhece suas boas intenções.

– Danny foi meio bundão a temporada inteira, mas no final até que conseguiu meu respeito encarando o pai. Já o Caputo eu quero que se ferre mesmo.

– Judy King is the new Red?

– Já dá pra fazer um spin-off com a turma da segurança máxima, heim? Stella, Nicky, Miss Claudette… quem aí assistiria?

-Pra quem ainda tinha dúvidas sobre Piper perder o posto de protagonista: ela não teve nenhum flashback nesta temporada, nem no da Alex ela apareceu. Que fase.

– Aliás, uma loira vingativa com uma tatuagem de infinito. Já vi isso em algum lugar?

– Daya acabou ficando sem a filha de qualquer jeito. Era melhor ter deixado a menina com a mãe do bigode, poxa.

– O casamento de Morello foi muito fofo, mas levando em consideração o histórico amoroso da doidinha, acho que vem cilada por ai!

Gostou da terceira temporada? Você pode conferir mais detalhes sobre ela aqui no blog, e também sobre os personagens que se destacaram – positiva ou negativamente. Deixe seu comentário e até a próxima!


Natasha Mastrangelo

Historiadora e feminista por natureza. Meio Frances Ha, meio Kat Stratford. Não vive sem queijo, batata e Toddynho.

Rio de Janeiro

Série Favorita: Skins

Não assiste de jeito nenhum: Arrow

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