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Outsiders

Por: em 30 de janeiro de 2016

Outsiders

Por: em

Spoiler Free!

Este texto não contém spoilers,

leia à vontade.

A WGN America estreou, no dia 26 de janeiro, o drama Outsiders. Criada por Peter Mattei, a série traz no elenco nomes como o de David Morse, Joe Anderson, Ryan Hurst e Thomas M. Wright.

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Indo direto ao ponto: Outsiders é uma série pretensiosa. Isso não é necessariamente ruim. Em menos de 10 minutos do piloto, já é possível perceber que a intenção ali era a de criar algo diferente, ousado, mas que seguisse a cartilha conservadora de direção, edição e fotografia que costumam seguir as séries premiadas pela crítica. Mas será que funcionou?

A série mostra o dia a dia do clã Farrell, uma família grande e excêntrica que vive sob as suas próprias regras, se relacionando apenas seus próprios membros e isolados numa montanha da Virginia. Dois pontos trazem o conflito do primeiro episódio: uma ordem de desapropriação do terreno em que vivem – local que esconde uma fortuna em minas de carvão – e a transição na liderança do clã.

Lembram daqueles filmes dos anos 80 e 90 que misturavam animação com pessoas de verdade? Uma Cilada para Roger Rabit, Space Jam e O Fantástico Mundo de Bob? A sensação de assistir ao piloto de Outsiders é algo nessa pegada. Parece que você oscila o tempo inteiro entre o “mundo real”, representado pela polícia, pelos investidores do carvão e até por uma caixa de supermercado, e um mundo de fantasia, no qual estão quase todos os Farrell.

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Isso acontece porque nós vivemos em uma sociedade com regras pré-estabelecidas, códigos de comportamento e símbolos que fazem parte de uma cultura comum, mesmo com todas as diferenças políticas, religiosas e legais que existem entre os países. O clã dos Farrell escapa completamente desses signos e parece viver em um tempo diferente do resto de nós. Eles não usam dinheiro, não respeitam leis, não sabem ler, não possuem documentos e vivem e aparentam ser como personagens de uma trama medieval, envoltos em misticismo, costumes peculiares e nas suas próprias articulações micropolíticas.

É um conceito ousado, mas que para funcionar, precisaria… bem… funcionar. E, pelo menos no piloto, o clã dos Farrell não foi a coisa mais atraente do mundo. Eles são pessoas teoricamente livres, mas não vendem essa ideia. O espectador não se sente confortável com aquele ambiente, não tem vontade de fazer parte daquele mundo, e isso seria fundamental para a proposta da série e para que a gente quisesse entender melhor a mitologia e a organização social daquele povo. O núcleo que mais atrai a atenção é o de fora da montanha, da sociedade “comum”, e isso qualquer outro programa tem também.

O ponto de equilíbrio entre os dois mundos é Asa Farrell, um “desertor” do clã que passou quase uma década vivendo entre “nós”, não suportou as correntes do mundo fora da montanha e voltou para casa. Aliás, parece ter sido salvo da morte pela família de alguma forma. Ele sabe ler, tem uma postura e um visual mais modernos e é tratado como um forasteiro pelos forasteiros. Existe uma profecia de que ele deve ser o novo líder do clã, o que faz com que sua presença seja particularmente indesejada por Big Foster, o herdeiro presumido da matriarca.

Paradoxalmente, o que prende o espectador é o lado místico da trama. Como disse, apesar do núcleo do mundo exterior ser mais interessante que os Farrell, é algo muito comum e não particularmente atrativo. Mas os mistérios sobrenaturais envolvendo os lobos, o vinho  e as profecias acertam em cheio a curiosidade do público e te fazem querer voltar para ver qual é o próximo passo ali. O piloto nos deixa com aquela sensação de O Labirinto do Fauno e As Aventuras de Pi, em que você não consegue ter certeza de que as coisas existiram de fato ou se são fruto do imaginário dos personagens.

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A série também exige um pouquinho de estômago, e não tem medo de usar a violência como fio condutor de algumas situações – uma das cenas, inclusive, lembra muito um fato marcante de Game of Thrones – mas, pelo menos por enquanto, não parece ser uma daquelas produções em que escorre sangue da tela.

Outsiders é, surpreendentemente, uma aposta certa para quem gosta de séries medievais ou de fantasia, mesmo ambientada nos dias de hoje. No mais, ainda não é possível dizer se a pretensão do roteiro vai dar em algo muito bom ou cair no esquecimento logo. Já conferiu? Ficou curioso? Deixe seu comentário!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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