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Penny Dreadful – 3×04 A Blade of Grass

Por: em 24 de maio de 2016

Penny Dreadful – 3×04 A Blade of Grass

Por: em

Seja verdadeira. Nunca esqueça quem você é.

Tocante e intenso, os desdobramentos da sessão de hipnose de Vanessa Ives garantem um dos melhores episódios já entregues até hoje pela narrativa de Penny Dreadful.

A busca por respostas leva Vanessa de volta aos tempos em que habitou uma cela nas dependências da clínica Banning. A capacidade de seguir em uma frequência que oscila entre passado e presente, graças à hipnose, obriga Ives a reviver as dores e o sofrimento vivenciado por ela ao longo dos meses em que estivera trancada na cela acolchoada da clínica do Dr. Banning, um homem com pensamento voltado à ciência e que via na fé de Vanessa um claro sinal de esquizofrenia. E se a surpreendente descoberta de que John Clare fizera parte do seu passado, como o único rosto com quem Ives teve contato durante todo este período, pudesse nos induzir a falsa ideia de que ela talvez tivesse alguma relação direta com a morte do homem que um dia viria a se tornar o Monstro de Frankenstein. A evolução do roteiro dá claros sinais de que tudo ali servia a um grande objetivo, revelar à Vanessa a verdadeira identidade do mal que a tem espreitado de perto, o grande monstro da série, Drácula.

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A Blade of Grass emociona ao se apoiar na construção e no aprofundamento da relação entre Ives e John, demonstrando a humanidade e bondade que um dia fizeram parte da essência do homem antes da Criatura. O que explicaria também a empatia nata sentida por Clare, já transformado, ao se deparar com Vanessa cuidando dos doentes lá na segunda temporada. E se no passado foi John o grande responsável por manter o que restava da sanidade de Vanessa, a inversão de papéis no presente já demonstra que existirá uma importante participação de Ives no processo de retomada das lembranças do Monstro de Frankenstein. Não por acaso, o homem que se autodenominava rude e mediano, avesso à poesia. Viu sua humanidade resurgir pelas mesmas palavras que um dia usara para dar forças ao trágico período de Vanessa.

A cada batida da porta era possível compreender que estávamos chegando cada vez mais perto da verdadeira raiz dos problemas. Mais que mera passagem de tempo, as cenas representavam a busca de Vanessa e Seward pela origem de todos os traumas vividos por Ives. E, assim como no processo terapêutico, alguns enfrentamentos podem ser mais sutis que outros. Porém, adentrar a mente nunca se mostra um processo linear ou simplista. Enquanto tudo parecia tornar a sanidade de Vanessa algo cada vez mais improvável, dada sua perda da noção temporal e o isolamento social. O papel de John servia justamente para mantê-la no limiar entre razão e loucura. Ora para trazer um pouco de conforto e de alguma forma resgatar a jovem abandonada à própria sorte que existia ali, ora pra representar o mal encarnado naquele que buscava por conquistar a alma da moça tocada pelo demônio, Lúcifer.

A cena em que John tenta trazer à Ives um pouco de dignidade ao penteá-la e maquiá-la pra mim foi uma das mais belas já apresentadas pela série. Seja pela incrível interpretação de Eva Green que domina a atenção toda pra si, ou pela forma encontrada pelo roteiro ao reproduzir a ideia principal do episódio, e fator fundamental para que Vanessa resurgisse disposta a enfrentar e nomear o responsável por toda sua desgraça, Drácula. O caminhar de Ives em busca de suas dores, exige a ela muito mais que comprometido ou força de vontade. Cabendo à Seward a figura de apoio de Vanessa, que em meio à dificuldade da paciente invoca o posicionamento que Joan Clayton teria usado se estivesse ali ao lado de Ives. Seward reforça a grande chave para que Vanessa consiga voltar da hipnose: seja verdadeira. Não abrir mão das convicções e do verdadeiro eu é o que fazem de Ives tão especial.

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O retorno em busca da compreensão do que foi dito na casa dos espelhos levam Vanessa a ficar novamente de frente a Lúcifer. E de pensávamos que a profecia explanada pelo discípulo de Drácula na sala dos espelhos se dirigia ao seu mestre e John Clare, o encontro na realidade retratava a disputa entre os irmãos pela alma, sangue e corpo de Vanessa. A diferença é que, uma vez revisitada uma situação é preciso compreender que tudo agora é diferente. A passividade e fragilidade da Vanessa de outrora agora dá lugar à jogada inteligente para conseguir finalmente o nome do Mestre dos vampiros e confrontá-lo a partir agora, de igual para igual.

As ameaças à vida e a tudo o que cerca Ives, tanto por Lúcifer quanto por Drácula, apenas aumenta a ira de Vanessa que a partir de agora – depois de ter derrotado o primeiro – sabe contra quem deverá se preparar. O problema, porém, é que ainda assim ela está longe de compreender que Drácula é na verdade Alexander Sweet. No entanto, o diálogo com Jonh Clare, não por acaso, retoma o mesmo pensamento de Clayton e é justamente por meio desta mensagem que somos capazes de compreender o verdadeiro significado do título do episódio. A Blade of Grass que representaria a pequenez de Vanessa diante da imensidão da vida, ou das forças sombrias e da constante interferência dos irmãos das trevas, hoje serve como caminho não só para fortalecimento da batalha de Ives contra Drácula, como também para demonstrar a retomada da fé da personagem e da força que sempre existiu em Vanessa ao nunca sucumbir aos anseios de deixar de ser autêntica, e abandonar a sua própria verdade mesmo quando tudo parecia perdido.


E aí, o que achou do episódio desta semana? Ansioso pra chegada do próximo? Então aproveita e dá uma olhada na Promo aqui embaixo enquanto comenta suas impressões sobre A Blade of Grass. Nos vemos na próxima review!


Marcel Sampar

Paulista que puxa o erre pra falar, PHD em Análise do Drama pelas novelas mexicanas reprisadas no SBT e designer de homens palito. Com sérios problemas em se definir por aqui - sim, esta já é minha terceira tentativa em menos de um mês - mas que um dia chega lá!

Rio Preto/SP

Série Favorita: Sex and the City

Não assiste de jeito nenhum: Teen Wolf

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