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Penny Dreadful – 3×06 No Beast So Fierce

Por: em 8 de junho de 2016

Penny Dreadful – 3×06 No Beast So Fierce

Por: em

“My sadness is my own.
I would never give it up.
But I can make you who you were.
And you think that would be kindness? I have suffered long and hard to be who I am.
I want my scars to show.”

O trecho do diálogo de Lily com Frankenstein reforça a ideia de que cada um de nós é resultado das escolhas e decisões tomadas ao longo da vida. São elas que determinam o rumo e o modo de olhar particular do indivíduo. Assim, em uma espécie de enfrentamento pessoal contra os demônios que afligem o íntimo de cada um dos personagens de Penny Dreadful, a série retoma as ações que acontecem simultaneamente na Londres vitoriana e no lar dos Talbot. Mais que isso, introduz a chegada de uma nova personagem à trama e com ela um pouco mais sobre o misterioso e fascinante Drácula.

No Beast So Fierce quebra a forma como a história vinha sendo contada até aqui, se compararmos os últimos dois episódios da série, e talvez por isso permita que eu tome a liberdade de dividir minha resenha em blocos.

 

Ethan, Sir Malcolm, Hecate e Kaetenay
Se o início da temporada dava claros sinais de que a história de Ethan seria destrinchada ao longo dos episódios da série. Aparentemente, no que compete à relação conflituosa entre Chandler e seu pai, tudo parece ter se resolvido em um único episódio. Tanto, que a chegada de Rusk à casa dos Talbots serviu apenas para compor a estranha mesa do jantar oferecido pelo pai de Ethan.

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Na realidade, a permanência de Ethan junto a seu pai só ajudava a alimentar ainda mais a ira do pistoleiro. Dando indícios de que a qualquer momento veríamos Chandler abraçar seu lado obscuro, se afastando da profecia antiga e do caminho traçado pelo Guardião de Deus. Mas se para muitos dos telespectadores o sacrifício de Hecate pode ter sido em vão, vale lembrar que Penny Dreadful sempre foi bom em amarrar as pontas soltas do roteiro. E se não foi desta vez que vimos o Lupus Dei mudar de lado, o reencontro com Brona, agora Lily, pode fazer com que isso aconteça.

Mas enquanto isto não passa de teoria da cabeça do autor aqui, é importante lembrar que mesmo diante dos fortes indícios e oportunidades de abdicar da própria humanidade, Ethan conseguiu – com a ajuda de Sir Malcolm – entender que é preciso aprender a conviver com a culpa e o remorso, reflexos de ter sido responsável pela morte da própria família. Porém, agora com a morte do pai nada mais prende Ethan aos EUA. Possibilitando o retorno da dupla à Londres e provavelmente para o resgate de Vanessa. A incógnita que permanece é se o apache seguiria com eles para o outro lado do oceano já que, aparentemente, o objetivo de “salvar” Chandler fora realizado com sucesso.

 

John Clare
Desde a exibição de A Blade of Grass é impossível não dizer que a empatia do publico pelo homem que viria a se tornar a Criatura de Frankenstein aumentou consideravelmente. Ainda mais pra mim que sempre considerei a caminhada de de John rumo à construção de sua nova humanidade, um dos pontos altos da série. Lembrando que por vários momentos coube a ele grandes diálogos, responsáveis por questionar a crueldade do próprio ser humano.

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As lembranças da vida anterior do misterioso cuidador de Vanessa, já que seu verdadeiro nome ainda permanece em segredo, traz com elas – mais uma vez – a dor de ser temido e rejeitado. Porém, agora a rejeição acontece aos olhos do próprio filho. Situação semelhante ao do incompreendido, Mostro do livro de Mary Shelley que só queria entender porque alguém teria sido capaz de criá-lo apenas para sofrer nas mãos dos homens, já que nunca foi aceito e nunca encontrou companhia para suportar os vieses da nova vida.

E ainda que Mr. Clare não tenha cruzado novamente com Ives, a frustração e a dor de John podem fazer com que os caminhos entre eles se cruzem muito em breve.

 

Lily, Dorian, Justine e Frankenstein
A fixação de Victor em tomar Lily de volta pra si fez com que o cientista ousasse sequestrar sua eterna amada. O que ele não contava é que a casa de Lily, ou melhor, de Dorian tem funcionado como uma espécie de centro de treinamento para as mulheres, que como ela quando Brona, sofrem com as mais diversas formas de abusos e submissão por parte dos homens. E se é através de Justine que Lily consegue transferir seu lado humano, vivenciado no anseio da jovem por vigança. Este mesmo apreço não tem acontecido sob os olhos de Dorian Gray.

A construção de Justine como um modelo a ser seguido pelas mulheres que estão sendo acolhidas por Lily, na verdade começa a demonstrar o surgimento de um problema entre esta e Dorian. Já que eles, imortais, antes estavam acima do bem e do mal. E logo Dorian, não acostumado a ter suas vontades negadas, pode vir a se aliar a Victor – que agora lhe deve um favor – como uma espécie de punição à figura que Lily pode estar se transformando. Correspondendo à característica mais básica do personagem, que não podemos nos esquecer, sempre viu nas pessoas uma forma de entretenimento dado seus milhares de anos já vividos. Carregando consigo anos de abuso diante de homens e mulheres que serviam para tirá-lo do tédio.

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O fato de Lily citar Ethan não é por acaso, o que reforçaria a teoria de que em breve os dois devem se encontrar em Londres. E pode ser a partir deste encontro que muita coisa mude na trama, já que o Lupus Dei é a representação do único homem capaz de ter amado Brona sem usá-la. O que pode aumentar ainda mais o ciúme de Dorian por Lily. Ou representar um ponto fraco na estratégia de vingança prometida por ela, para por fim a opressão dos homens sobre as mulheres.

E mesmo com o aviso de Lily de que é para Frankenstein desaparecer. O médico, que cada dia mais demonstra ter como único sentido de vida sua obsessão por Lily, provavelmente tentará mais uma vez recriar o que foi deixado bem claro, nunca passou de uma forma de abuso e alienação da parte dele. Já que Lily nunca fora feliz como “prima” de Victor. Levando Frankenstein a talvez demonstrar seu lado “monstro” já que nos diálogos entre ele e seu amigo Jekyll é ele quem se demonstrado mais sombrio e menos humano.

 

Vanessa, Seward, Drácula
A despedida de Lyle da trama – um dos pouco a ter contato com Vanessa – traz um dos diálogos mais carinhosos do episódio e serve para introduzir uma nova aliada à causa de Vanessa, Catriona Hartdegen.

Catriona, que carrega o sobrenome do famoso personagem do romance de ficção cientifica de H.G.Wells, A Máquina do Tempo, surge como uma especialista em tanatologia, ou seja, uma estudiosa que analisa as causas e fenômenos relacionados à morte. E é ela quem apresenta um pouco do que se conhece historicamente a respeito de Drácula, como sua origem romena ou o significado de seu nome, por exemplo. Além de referências histórias que narram passagens do pai dos vampiros pelos séculos, contrariando a ideia de que ele na verdade é apenas um mito.

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O que elas não sabem é que Drácula na verdade é Alexander Sweet e que a sugestão dada por Catriona, para que Ives buscasse estar sempre na companhia de alguém querido por ela, levou Vanessa aos braços do grande vilão da temporada. O que torna muito mais real a chance de vermos Vanessa se entregando para Drácula – mesmo sem que ela tenha o mínimo de conhecimento sobre isto. Ou será que fui apenas eu quem esperou para ver se algo aconteceria enquanto Ives e Sweet transavam no museu?

O fato é que, diferente das outras vezes, Vanessa não se sentiu abraçada pelo mal ou capaz de se perder como acontecera com ela na primeira noite com Dorian. Pelo contrário, Ives era ali um misto de dor, carinho e felicidade. O que e explicaria as lágrimas de Vanessa, que nunca esteve tão sozinha desde o desaparecimento de Ethan e Sir Malcolm. E se considerarmos o aviso de Catriona, de que a estratégia de Drácula é isolar e enfraquecer sua presa, pode ser que Sweet intervenha em breve para evitar uma possível reaproximação entre Ives e Ethan – caso este volte já no próximo episódio para Londres.

E ainda que Seward tenha aparecido pouco neste episódio, a participação da médica demonstrou a construção da intimidade criada entre ela e Vanessa. Sendo Seward quem sugere à Vanessa que se dê uma nova chance e deixe que Alexander possa conhecê-la melhor.

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Como eu disse no inicio do texto, tudo na vida é resultado das cicatrizes criadas ao longo das escolhas e decisões tomadas. E que no caso de Vanessa podem significar a salvação ou a redenção para o mal e os encantos de Drácula. Que antes de mais nada tem sido capaz de tocar Ives de forma mais intensa ao permitir com que ela acredite ter controle da situação e do envolvimento entre Vanessa e Sweet, até então tido apenas como um simples cavalheiro responsável pela curadoria do Zoológico.


Infelizmente a temporada atual de Penny Dreadful é mais curta, faltando apenas mais três episódios para o seu fim. E aí, o que tem achado dos rumos que a série está tomando? Quais são suas teorias? Acredita que veremos Ethan e Vanessa juntos ainda nessa temporada? Não deixa de comentar suas impressões aqui embaixo e até a próxima review.


Marcel Sampar

Paulista que puxa o erre pra falar, PHD em Análise do Drama pelas novelas mexicanas reprisadas no SBT e designer de homens palito. Com sérios problemas em se definir por aqui - sim, esta já é minha terceira tentativa em menos de um mês - mas que um dia chega lá!

Rio Preto/SP

Série Favorita: Sex and the City

Não assiste de jeito nenhum: Teen Wolf

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