Depois do alucinante Sundown, Preacher colocou o pé no acelerador e em He Gone fez um episódio voltado para o psicológico de seus personagens, em especial Jesse e Tulipa.
“Até o fim do mundo” define muito a devoção e o amor que eles já mostraram sentir um pelo outro, especialmente Tulipa, que está disposta a mover mundos e fundos para ter novamente Jesse ao seu lado. Os maiores flashbacks da infância dos dois não nos forneceram exatamente muitas informações novas, mas reforçaram o laço entre a dupla e nos mostraram que isso não é algo dos dias atuais. Tulipa e Jesse estão juntos desde criança e se não são ainda mais ligados, é por causa do pai de Custer. Mas a separação forçada a que eles foram impostos não muda o fato de que Jesse parece ter sido a primeira pessoa a estar ali para Tulipa quando ninguém mais estava e isso, no fim do dia, é o que realmente importa.
Todas as cenas dos dois crianças passam esse sentimento: O do nascimento de uma ligação pura, bonita, descompromissada e que surgiu do encontro de duas almas aparentemente perdidas no mundo e que se (re) conheceram. Jesse não tinha a mãe, sua relação com o pai não era das melhores e, naquele momento, tudo o que ele tinha para se apoiar era Tulipa – e vice versa. É bem triste o momento em que o pequeno Custer descobre que o pai a mandou embora e, em um impulso, reza para que o pai seja levado ao inferno.
Este pequeno detalhe é significativo por explicar muito do sentimento de culpa que Jesse possui hoje. Não é nada fácil para uma criança que rezou para que seu pai vá ao inferno vê-lo sendo assassinado na sua frente, enquanto escuta que será um homem bom. Isso de fato tem um pouco de influencia no modo como Jesse encara com uma certa austeridade o fato de ter mandado Eugene pro inferno. Não é a primeira vez que isso acontece e ele já está quase entorpecido. Claro que ele se importa com Eugene, mas na sua versão da história, ele não é tão inocente assim e talvez mereça o inferno. A propósito, não comprei muito bem essa história de que o rapaz quase matou Tracy e se matou por não saber lidar com um ‘não’. Talvez tenha mais nessa história que ainda é desconhecido ao todos, mas em nada isso parece casar com a personalidade que conhecemos do rapaz até então.
E, falando em personalidade, Jesse estava irritantemente mais egoísta do que nunca. Por mais que agora saibamos que ele carrega consigo a culpa de talvez se achar responsável pela morte do pai, nada justifica o modo babaca como ele tem agido com Tulipa, às vezes Emily e, agora, Cassidy, uma das poucas pessoas no mundo que parecem se importar genuinamente com ele. Já dá pra perceber que o vampiro (ironicamente) tem um dos maiores corações da série e sua preocupação com Jesse e o que a Genesis tem feito com ele são totalmente desprovidas de segundas intenções. Tulipa está certa em fazer o paralelo com passado ao acusar Jesse de abandonar Cassidy da mesma forma que o pai dele a abandonou apenas porque eles dois ‘não se encaixavam’ em um determinado padrão a ser seguido.
O “confronto” entre os dois sobre Eugene, quando Cassidy assume de vez o papel de melhor amigo e tenta colocar um pouco de razão e consciência na cabeça de Jesse, é maravilhoso. Mesmo sabendo que seus poderes não vem de Deus, o pastor continua se sentindo alguma entidade divina e se sente habilitado para julgar qual pecado é maior que o outro, quem deve e não deve ir pro inferno e apto a decidir o que as pessoas devem ou não fazer, o que, além de arrogante, é bastante babaca. Não ficou claro se depois de ouvir umas verdades do vampiro e vê-lo queimando no sol por alguns segundos para tentar convencê-lo do quão idiota ele estava sendo, alguma coisa mudou em Jesse. Pela cena da cozinha com Tulipa em seguida e a negativa ante a acusação de abandono, diria que não. Mas ele parece disposto a tentar trazer Eugene de volta.
E isso certamente deve aproximar ainda mais os já próximos Tulipa e Cassidy. Além do sentimento que estão construindo, os dois agora tem em comum a preocupação com Jesse e o fato de estarem desgostosos com os caminhos que ele vem tomando – embora Cassidy saiba da Genesis e Tulipa não. Inclusive, manter o segredo do pastor consigo é mais uma prova do quanto ele é leal ao amigo e valoriza o laço que eles estão (estavam?) construindo pouco a pouco. Estou bem curioso para saber qual foi a atitude do pastor com o institor de incêndio e onde o vampiro está. Os dois representam nesse momento a contramão de Emily, cada vez mais apaixonada e cobrindo Jesse no caso do desaparecimento de Eugene.
E, pra completar o inferno astral de Custer, ele ainda vai precisar lidar com Odin e a prova definitiva de que a Genesis não é absoluta e que não é o fato de mandar alguém servir a Deus que vai torna-la uma boa pessoa. O resultado não foi o que o pastor esperava e Quincannon voltou para cobrar as terras que lhe foram prometidas. Quando Jesse se recusa a seguir em frente com o acordo, fica claro que Odin vai exigir sua parte por meio da força bruta. E isso, mostrado na cena final, faz com que o episódio de semana que vem seja ainda mais esperado.
Faltando só 3 episódios para o season finale agora, é um pouco arriscado que Preacher tenha decidido privilegiar o psicológico ao invés da ação, mas é a da AMC que estamos falando, então não é nenhuma surpresa -e, pessoalmente, nenhum pouco incômodo.
E você, o que tem achado? Deixe seu comentário e nos vemos semana que vem!
