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American Horror Story

Por: em 16 de outubro de 2011

American Horror Story

Por: em

“Existem momentos em que, mesmo sob o olhar sóbrio da razão, o mundo da nossa triste humanidade pode assumir o semblante do Inferno.”

Edgar Allan Poe.

 

 

Muita gente esperava muita coisa do novo projeto da dupla Murphy/Falchuk – e não era para menos. Criadores de hits que são ao mesmo tempo campeões de audiência e figuras carimbadas nas maiores premiações da televisão norte-americana, os produtores prometeram uma série de TV que revolucionaria o terror, algo completamente inédito em termos de teledramaturgia, uma mistura perfeita de entretenimento escapista e drama de qualidade… talvez teria sido mais sábio se eles tivessem se calado. Se American Horror Story não tivesse sido tão alardeada antes de sua estreia, seria mais fácil  relevar alguns de seus escorregões e se divertir com a insana proposta de seus criadores.

O terror é um gênero incômodo. Existe um prazer masoquista em expor-se deliberadamente a algo que fará com que você se sinta mal, em buscar aquela excitação mórbida que toma conta de todo verdadeiro fã do gênero a cada guincho, a cada vulto, a cada gota de sangue. Mas esta sensação incômoda proporcionada pelo terror fictício é parecida com aquela que experienciamos ao andar de montanha russa, proporcionada por distanciamento psicológico (leia mais) – é o “friozinho na barriga“. Mas a sensação incômoda que o piloto de American Horror Story causou em mim não foi nada parecida com isso, foi mais relacionado à completa estranheza: eu simplesmente não consegui entender o que diabos Ryan Murphy tentou fazer aqui. Mas tenho meus palpites.

Acredito que o objetivo dos criadores não é contar uma história de terror, e sim um drama familiar na forma de uma história de terror. Vide a cena em que Vivien descobre a traição de Ben ou as que mostram o bullying sofrido por Violet: situações às quais qualquer família está sujeita mostradas na série sobre uma ótica perturbada, como se fizessem parte de uma narrativa de terror. Os principais temas discutidos pela série – infidelidade masculina, aborto, gravidez, relacionamentos familiares abalados, pessoas psicologicamente instáveis – também são abordados de maneira que remete a produções do gênero – a empregada vista por Ben como uma jovem sexy, Vivien possivelmente grávida do fantasma, Vivien cortando o braço do marido, o paciente adolescente de Ben, e por aí vai. Mais do que contar um drama comum com um pano de fundo sobrenatural, talvez a série esteja utilizando estes elementos de terror como metáforas para compor a trama que realmente quer contar: a da família Harmon.

Aí sim poderíamos dizer que American estaria tentando elevar o gênero a um novo patamar. O problema é que muito do que foi mostrado neste piloto contradiz essa teoria: não parecia haver um propósito naquela bagunça. o primeiro episódio da série foi um desfile de bizarrices, mal explicado, com uma edição confusa e cenas que tentavam desesperadamente causar o espanto – tão desesperadamente que fracassaram. Foram cinquenta minutos de equívocos, exageros e histeria sem sentido. O ritmo era estranho e o episódio todo ficou parecendo um trailer longo demais ou um filme de terror entrecortado. Tanta coisa embasbacante (no mal sentido) acabaram ofuscando os vários méritos do episódio.

O suspense funcionou bastante comigo. Enquanto a série não revelava seus monstros, enquanto o susto estava para acontecer, as coisas iam bem (já o que vinha depois…), e a sonoplastia contribuiu muito para isso – apesar de ter sido excessivamente creepy em alguns momentos. Além disso, as atuações não decepcionaram, apesar da falta de química comum a qualquer início de série, e alguns truques de câmera foram bacanas, bem como outros aspectos técnicos – cenários, fotografia, figurino, maquiagem, efeitos, etc., mas todos em um momento ou outro caíram no mesmo erro da composição sonora.

Por outro lado, o quanto você ficou decepcionado com a série depende muito de quais eram suas expectativas. É inegável que American é uma série curiosa. Murphy garantiu que existe, sim, um sentido dentro de tudo isso e que na season finale tudo ficará mais claro – qualquer fã frustrado de Lost vai pensar que já viu este filme antes, mas vamos ter que esperar para ver. Já existem teorias sobre a série aparecendo pela internet – “os Harmons são fantasmas”, “Ben está morto”, “é tudo um pesadelo”, “a ilha é o paraíso”, “a mansão é em outro plano”, e por aí vai. Este mal começo não significa necessariamente que a temporada inteira seguirá esta linha (os produtores garantiram que nem todo episódio será tão “intenso” quanto o piloto) e essa é definitivamente a estreia mais peculiar da TV americana nos últimos anos – seja isso bom ou ruim. Parar de assistir é que eu não vou.

É impossível tirar conclusões a partir deste piloto, porque a série apresentou-se de maneira muito ambígua. O episódio foi completamente fora do tom e pareceu mais um delírio megalomaníaco do que uma introdução a um microcosmo de medos e transtornos parapsíquicos. Ainda assim, se tivermos um pouco de boa vontade e nos destituirmos de pré-conceitos em relação aos envolvidos na produção, vemos que American ainda pode mostrar-se uma série de qualidade e cumprir o que prometeu sua campanha de divulgação: é fácil deixar-se envolver pelo clima do seriado, que desperta curiosidade graças a sua bizarrice e diversas possibilidades de desenvolvimento.


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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