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Enlightened

Por: em 15 de outubro de 2011

Enlightened

Por: em

 

 

A proposta é conhecida, mas interessante. A execução e o futuro são preocupantes.

Enlightened é a nova comédia da HBO. Só isso já é motivo de levar viciados em séries a assistirem pelo menos esse piloto. Afinal, a emissora nos apresentou – e continua trazendo – algumas das melhores séries da história da TV. Com um elenco conhecido, como Laura Dern, Luke Wilson e Diane Ladd, Enlightened conta a história de uma mulher que reavalia sua vida após uma crise emocional.

Isso não é novo, certo? Um dos exemplos mais recentes é The Big C, que traz uma mulher diagnosticada com câncer em estágio avançado e que tenta mudar sua vida para melhor. E assim como essa comédia do canal Showtime, Enlightened não faz rir. É uma dramédia, pendendo mais para o drama. O fato é que esse episódio piloto não é de todo ruim. Ele apresenta a história de Amy Jellicoe de forma totalmente melancólica. Existe um sentimento de tristeza durante toda a meia hora, com alguns momentos de tentativas de felicidade, mas que ficam apenas nisso. Essa proposta – intencional ou não – foi o que mais me fez gostar da série, pois a vida é assim mesmo. Não é na primeira tentativa que nossa vida muda e, do nada, somos felizes e todas as tristezas passaram para trás.

O fato é que pessoas felizes demais, irritam. Por mais que eu ache lindo – e sinto até inveja – de quem realmente atinge a paz espiritual, o mundo não é lugar fácil. Acho sim que as diversas barreiras que são colocadas no nosso caminho devem ser ultrapassadas e vistas como ela realmente são: percalços. Não se deve deixar abater. Mas existe alguém feliz e em paz 100% do tempo? Quando vemos exemplos assim na televisão ou até na nossa vida particular, por vezes soa falso, pedante e se nos deixarmos levar, podemos até nos sentir inferiores. Falando por mim, acho praticamente impossível isso acontecer o tempo todo, mas 90% do tempo? Ok. Aí somos humanos que sofremos com os problemas, mas que conseguimos arrumar a bagunça e deixá-los para trás.

Isso, o piloto de Enlightened fez de forma fantástica, não posso mentir. Começamos com Amy, uma executiva que acaba tendo um caso com o chefe. Todos descobrem e ela é forçada a ser demitida do departamento que trabalha após o affair. Como o chefe não está nem aí – e até tira sarro da dor e Amy – e as fofocas se espalham rápido, ela tem uma crise emocional na frente de todos de seu departamento. Assim, Amy é enviada para uma clínica de reabilitação no Havaí, onde reavalia sua vida, encontra a paz espiritual com meditação e livros de auto-ajuda, e volta para a cidade, pronta para encarar a vida de forma mais positiva e arrumar os erros do passado.

Aí a série faz um bom trabalho. O tempo de Amy no Havaí é mostrado rapidamente, mas cenários e fotografia excelentes ajudaram a passar uma imagem de paz para o telespectador. E sabemos que isso realmente acontece com quem tem força de vontade o suficiente ao ser enviada para um local desses. Porém, tudo pode parecer o mais lindo possível, mas quando acontece o retorno para a vida real, a coisa fica complicada. A primeira imagem de Amy pós Havaí é dirigindo seu carro no meio de um tráfego infernal, tentando se comunicar com o chefe com quem teve um caso, para que eles conversem. Laura Dern faz um excelente trabalho como Amy. Pois por mais que ela tente fixar no positivo, o mundo não é assim.

E o que comentei mais acima realmente acontece. A mãe de Amy – interpretada pela ótima Diane Ladd, mãe de Laura Dern na vida real – vê a filha com olhos desconfiados. Ela acredita que Amy precisa de medicamentos para controlar sua ansiedade e problemas emocionais. Ela não acredita em uma mudança radical e nem quer ter tempo para escutar o que Amy aprendeu no Havaí – muito menos quando se trata de consertar o relacionamento das duas. O verdade é que a série faz um bom trabalho com a personagem de Helen. O relacionamento com a filha não é bom, e ela nunca voltou a encontrar paz após a morte do marido.

O mesmo acontece com o ex-marido de Amy, interpretado pelo famoso Luke Wilson. Levi é viciado em drogas, principalmente cocaína, e aparentemente leva uma vida sem obrigações. Ao ver que a paz pode ser encontrada com força de vontade, Amy quer ajudar o ex-marido, mas Levi ri – sim, ele tira sarro – de tudo que Amy diz ter passado e encontrado no Havaí. Quando ela pensa que consegue ajudar, emprestando até um livro de auto-ajuda para Levi, ele pergunta se ela quer usar droga. Amy não sabe, ou não percebeu ainda, é que o mundo não vai mudar com ela, muito menos as pessoas. É uma luta interior, e não será fácil.

O piloto consegue mostrar que mesmo Amy sabe que não mudou totalmente. Pode usar roupas que condizem com a nova forma de vida; sorrir e agradecer o tempo todo, mas a vida está aí e ela precisa ser esperta. A maneira como ela consegue o emprego de volta, e como tenta conversar com o ex-amante, provam que Amy está apenas no começo de uma longa jornada. A pergunta é: essa jornada valerá a pena?

Esse piloto, com todo o tom melancólico não conseguiu passar o que realmente queria. Não sorri, não me emocionei…foi meia hora de cenas mornas que não conseguiram explicar realmente o caminho que a série quer trilhar. Pode ser simpática, mas esse tom apresentado no piloto pode cansar rapidamente se continuar persistindo durante a temporada. Apesar de gostar e como os pontos foram explorados, não senti nada assistindo Enlightened e a falta de uma storyarc para a temporada complica tudo mais ainda. Verei mais alguns episódios para ver se a série consegue encontrar um caminho, pois é errado demais desperdiçar um elenco como esse.


Caio Mello

São Bento do Sul – SC

Série Favorita: Lost

Não assiste de jeito nenhum: Séries policiais

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