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Primeiras Impressões: Feud: Bette and Joan

Por: em 8 de março de 2017

Primeiras Impressões: Feud: Bette and Joan

Por: em

Um Feud (rixa, em tradução livre) é um argumento que existe há muito tempo entre duas pessoas ou grupos e que causa muita raiva ou violência. É com essa premissa que Ryan Murphy inicia sua nova série antológica, narrando as grandes batalhas de egos entre personalidades de diversos campos, mas que tiveram algo em comum, a atenção exacerbada da mídia.

A primeira temporada é centrada na inimizade entre Bette Davis e Joan Crawford, que tomou proporções bíblicas durante as filmagens do clássico filme O que terá acontecido a Baby Jane?.

Murphy é fã de Bette Davis e teve oportunidade de entrevistar a atriz meses antes de sua morte. O que seria uma entrevista de 20 minutos se estendeu por mais de 04 horas. Um dos temas que o deixou mais interessados foi que, ao perguntar sobre Joan Crawford, Davis deixou claro o quanto odiava a atriz, mas deixava escapar que a admirava por ser tão profissional. É com essa dicotomia de sentimentos em mente que Murphy começou a desenvolver os planos para a série, com base em um roteiro original para filme chamado Best Actress, escrito por Jaffe Cohen e Michael Zam.

O episódio piloto foca nos acontecimentos que antecedem ao inicio das filmagens, nos situando no momento pessoal da vida das atrizes que, agora na casa dos 50 anos, não conseguiam mais trabalhos frequentes ou, quando conseguiam, eram papeis sem importância ou em teatros (nada perto do glamour de Hollywood). Desesperada e a beira de um colapso financeiro, Joan Crawford (Jessica Lange) inicia a busca de um trabalho que faça jus ao seu talento e grandeza. É então que encontra o livro O que terá acontecido a Baby Jane?, do autor Henry Farrell.

Para quem não assistiu ao clássico, Baby Jane conta a história de uma atriz infantil que, após perder o sucesso pela falta de talento, começa a perder controle de suas faculdades mentais e, para se vingar de sua irmã Blanche, que também era atriz, mas essa sim possuía real talento e brilho, a atropela e a deixa em uma cadeira de rodas. O resto do filme é um jogo mental de cárcere privado e sobrevivência, para ver quem (ou se alguém) sairá viva da mansão.

Pelo plot do filme, fica claro que são necessárias 02 atrizes de peso. Obviamente Joan será Blanche, a irmã com talento para interpretação, mas ela precisa de alguém que não tenha medo de se atrever e se entregar ao personificar a irmã insana. Não há ninguém melhor em Hollywood do que Bette Davis (Susan Sarandon) para essa tarefa. Mesmo com algumas rusgas no passado, ambas percebem que esse é o momento ideal para trabalharem juntas pela primeira vez, não apenas pela situação em que se encontram (com oportunidades praticamente nulas de trabalho), como por terem um roteiro inovador para o período que pode abrir portar jamais sonhadas. Mas, será que essas mulheres com egos tão inflados conseguirão ficar tanto tempo juntas sem se odiarem mortalmente?

Feud é uma série extremamente detalhista em sua produção. Cada cenário foi projetado para ser o mais parecido o possível com os originais da época, com a equipe tendo o cuidado de consultar o decorador original de Joan Crawford para recriar os detalhes de seu quarto. O figurino está divino, não apenas nos vestidos, mas nas cores que são característicos da época. A trilha sonora é uma delícia de ouvir, desde os sucessos do rádio da época, até a música instrumental totalmente característica. Nós já começamos a entrar no clima pela abertura feita em desenhos bem estilizados, em uma vibe bem A Feiticeira.

Mas não adianta ter uma ambientação perfeita se as atuações não estiverem a altura, e nesse quesito, talento é o que não falta. Jessica Lange está maravilhosa com sua Joan Crawford, nos mostrando toda sua aparente futilidade, mas clara preocupação com a sua carreira. Os momentos em que vemos Joan percebendo pela primeira vez os sinais do tempo na tela são tocantes e fáceis de se identificar. A Bette Davis de Susan Sarandon está no ponto certo, desde os maneirismos físicos como sua voz bem específica estão representados de maneira respeitosa e crível, conseguindo escapar da caricatura que poderia cair se exagerasse nas cores.

A série ainda possui outros grandes nomes de Hollywood, como Alfred Molina, que interpreta Robert Aldrich, diretor do filme; Stanley Tucci é Jack L. Warner, dono dos Estúdios Warner; Jackie Hoffman é Mamacita, fiel criada de Joan Crawford; Judy Davis é Hedda Hopper, uma repórter de fofocas. Além disso, temos participações especiais de Catherine Zeta-Jones e Kathy Bates como atrizes amigas de Bette e Joan que foram convidadas a participar de um documentário estilo E! True Hollywood Story.

É interessante notarmos que mais da metade do elenco são mulheres e, em sua maioria, com mais de 40 anos. Além disso, metade dos episódios serão dirigidos por mulheres (entre elas, Helen Hunt). Murphy acredita que é necessário incentivar e amentar a presença de mulheres em posições de produção na televisão e cinema, por isso, formou a Half Foundation com esse intuito. Feud é a terceira série que se beneficia de tal projeto, após American Horror Story e American Crime Story.

Apesar de a trama tratar da inimizade entre 02 mulheres, devemos perceber o contexto em que ela está inserida. A indústria de Hollywood sempre foi muito sexista e misógina, ainda mais na década de 60. Ao mesmo tempo em que nos entretemos ao ver essas grandes personalidades se engalfinhando, Murphy nos mostra, de forma discreta, como a indústria influencia e até mesmo apoia tal comportamento, de modo a controlá-las e fazer mais dinheiro. Enquanto Bette e Joan destilam veneno entre si, nós testemunhamos como elas não passam de vítimas de um sistema opressor e que só funciona para servir ao homem branco que está no poder.

A série estreou com uma boa audiência, a maior do canal FX na semana, com 2,26 milhões assistindo ao vivo. Para comparação, Fargo estreou com 2,66 milhões, enquanto Legion, que foi considerada um tremendo sucesso, estreou com 1,6 milhões. Feud não teve muito público jovem assistindo, o que significa que a serie conseguiu trazer uma nova leva de espectadores para o canal, o que pode trazer novas oportunidades para expandir o catálogo de shows para territórios ainda não explorados.

Resumindo, Feud está uma delícia de assistir e está tão bem escrita que pode ser apreciada em vários níveis. Para quem quer apenas ser divertir, temos uma incrível história entre 02 celebridades que se odeiam e farão de tudo para se destruir. Quem gosta de entender como funcionada a máquina de Hollywood, vai vivenciar os bastidores daquela época com fidelidade. Quem é militante, poderá observar e estudar todos os momentos de sexismo e misoginia e traçar um paralelo com a nossa realidade atual. Não importa o que você busque, tenho certeza que vai sair satisfeito no final!

Aproveito para ouvir a delicinha que é o soundtrack desse episódio. Já compra uns moveis tons pastel e se transporte para a década de 60 por alguns instantes:


O que você achou da premiere de Feud: Bette and Joan? Deixe suas opiniões nos comentários!

E de brinde, a incrível abertura da primeira temporada:


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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