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Primeiras Impressões: Filhos da Pátria

Por: em 5 de agosto de 2017

Primeiras Impressões: Filhos da Pátria

Por: em

Corrupção em órgãos públicos. Funcionários públicos que se corrompem. Machismo. Preconceito racial. Misoginia. Os temas são tão atuais que parecem se tratar de uma série que se passa nos dias de hoje, certo? Para nossa tristeza, errado. Filhos da Pátria, nova aposta da Globo que estreia em meados de setembro (já disponível na íntegra para assinantes da Globoplay), retrata o Brasil pós independência. Mais precisamente, um dia após a independência do país ser proclamada. Antes de iniciar, um aviso do mestre Nelson Rodrigues: “Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos.” Guardem essa frase no coração.

Divulgação/Globo

O roteiro escrito por Bruno Mazzeo vai mostrar, através da história de uma típica família de classe média do século XIX, situações bem próximas da nossa realidade. O momento não poderia ser mais propício para suscitar reflexões acerca de tais temas. Apesar do tom de comédia, não dá pra não sentir um aperto no peito quando percebemos que séculos se passaram e as grandes questões sociais que incitam discursos de ódio, a violência e o preconceito em si permanecem as mesmas. Por outro lado, é sempre pertinente e oportuno termos a chance, mesmo que a partir de uma situação cômica, de refletir sobre nós mesmos.

O elenco estelar, que traz nomes como Alexandre Nero, Fernanda Torres (Tapas e Beijos), Matheus Nachtergaele (Zé do Caixão), Jessica Ellen (Justiça), Johnny Massaro, Letícia Isnard, Serjão Loroza (A Diarista), entre outros, está entrosado, afiado e nada caricato, num texto leve e fluído que se apropriou da linguagem contemporânea para inserir até mesmo bordões dos tempos atuais no século XIX, devidamente adaptados, é claro. É maravilhoso ouvir, na voz da melhor costureira local (e possível prostituta) Madame Dechiré, um conselho à jovem Catarina Bulhosa (Lara Tremouroux), filha de Geraldo (Nero) e Maria Teresa (Fernanda Torres): “Sua anágua, suas regras”.

Reprodução/Globo

Em linhas gerais, o que o piloto nos apresentou foi o clã dos Bulhosa, cujo patriarca Geraldo é funcionário do Paço Imperial e cuida da correspondência entre Brasil e Portugal. A história começa com o anúncio da independência do país e as repercussões que essa nova fase implicará na vida de todos. Bulhosa fica em pânico, pois sua função dependia exclusivamente da relação entre os dois países. Com muito medo da ameaça de se ver desempregado, acaba se rendendo às chantagens do seu colega Pacheco (Nachtergaele) e mesmo a contragosto e apavorado, pratica sua primeira atividade ilícita.

Ainda na família, veremos o conflito entre Maria Teresa e Catarina. A mãe, interesseira e vaidosa, cujo maior sonho é fazer parte da alta sociedade, só pensa em casar a filha com um homem rico. Mas a menina, leitora voraz e feminista, não tem na cabeça planos sequer parecidos. O filho Geraldinho é um idealista sem qualquer ideal, analfabeto por opção e cujo maior passatempo é encontrar causas nas quais se engajar, mesmo que não saiba nada sobre elas.

E se falta perspicácia e um mínimo de objetivo no moço, sobra na escrava Lucélia, que muito esperta e antenada, já junta seu próprio dinheiro para comprar sua alforria e aproveita as aulas de leitura do filho do patrão para se alfabetizar. Ela é daquelas que vê o copo sempre metade mais cheio e exatamente por isso até tenta convencer seu irmão Zé Gomes (Flávio Bauraqui) e seu colega Domingos (Loroza) a fazer o mesmo, mas o primeiro prefere se fingir de aleijado e o segundo, desiludido com o sistema escravocrata, não tem mais qualquer esperança na vida. “Aposto que daqui a 200 anos, o preto ainda vai continuar servindo o branco e morando num quartinho de fundo de quintal.” Essa diferença acerca das percepções e expectativas sobre a vida promete render excelentes reflexões.

Reprodução/Globo

Pelo que foi apresentado, deu pra perceber que a série vai explorar, aliada a importantes questões sociais ligadas à minorias, a iniciação na vida corrupta e consequente ascensão social do patriarca. A mãe provavelmente pouco se importará com isso, mas pode ser que Bulhosa enfrente problemas com os filhos e talvez com Lucélia, com quem tem ótima relação.

O tom informal do roteiro, mistura termos e expressões atuais à vocabulários de época e isso confere graça ao texto. O que a princípio me causou certo estranhamento, acabou ficando mais normal à medida que era incorporado à ótima trilha sonora, que reúne sucessos de Bezerra da Silva e Roberta Sá, entre outros. Mantendo o padrão Globo de qualidade (não podemos negar que a emissora arrasa nas produções de época!), figurinos e cenários, ao lado do elenco, são um dos pontos altos do seriado.

O pequeno pecado, na minha opinião, talvez esteja na pouca graça do piloto. Com um humor mais contido, que não provoca risos escancarados, o que deu pra sentir foi simpatia pelo história, que explora situações batidas e que, talvez por isso, precise de mais esforço do roteiro para fazer realmente rir. O enredo e elenco têm sim bastante potencial para isso. Resta saber se serão melhor aproveitados para que o seriado consiga sair do lugar comum, cair nas graças do público e se destacar da forma que merece.

E vocês, já assistiram ao piloto? O que acharam? Contem pra gente!


Renata Carneiro

Jornalista, amante de filmes e literalmente, apaixonada por séries. Não recusa: viagem, saidinha com amigos, um curso novo de atualização/aprendizado em qualquer coisa legal. Ama: família, amigos, a vida e seus desdobramentos muitas vezes tão loucos Tem preguiça: mimimi

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Two and a half Men

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