Eu não gosto de escrever reviews de primeiras impressões. “Por quê?” Você me pergunta. Porque as chances de eu não gostar da série são enormes e meu texto será sempre sincero. Resultado? Muitas vezes recebo comentários “agradáveis” falando que eu não entendi o episódio, ou que estava de mau humor… Afinal, se uma mulher não gostou de alguma coisa é porque ou não entendeu ou estava de TPM, certo? Mas, pelo menos dessa vez, não corro esse risco.
Pra começo de conversa, me arrisco a dizer que This is Us é o melhor piloto que vi em anos. Isso quer dizer que teremos uma grande série pela frente? Só o futuro dirá, mas uma coisa é certa: o primeiro episódio da série é tão bonito e “redondo” que poderia ser um filme, sem tirar nem por. Ok, talvez acrescentando mais 1 hora, mas vocês entenderam o conceito.
O episódio começa com um verbete do Wikipedia:
O ser humano compartilha seu aniversário com mais de 18 milhões de pessoas. Não há evidência de que compartilhar o mesmo aniversário crie algum tipo de link comportamental entre essas pessoas.
E como o ser humano é um bicho sugestionável, é quase impossível ler isso e não acreditar que a série terá esse mote. Sense8 novamente? Muito pelo contrário. Mas vamos ao que realmente interessa: os personagens.
Jack e Rebecca
É difícil não gostar dos dois logo de cara, principalmente de Jack, que nos é apresentado com uma certa inversão de papéis. Como não amar uma série que começa com o bumbum de um homem ao invés do de uma mulher como manda o clichê? Interpretado por Milo Ventimiglia (Gilmore Girls) , com um visual lumberjack vintage, Jack é um cara otimista, resiliente e apaixonado pela família, que está crescendo exponencialmente. De Rebecca ainda não sabemos muito, já que a personagem começa o episódio entrando em trabalho de parto. Mas quem lembra do clássico de Sessão da Tarde com Mandy Moore, Um Amor para Recordar, já deve imaginar que a escolha da atriz não foi à toa, e podemos esperar muitas lágrimas desse casal.
1. Kate
Não é comum ver uma atriz gorda protagonizando uma série, no caso, Chrissy Metz. A gente conta nos dedos os momentos em que isso acontece (Mike and Molly, My Mad Fat Diary, Drop Dead Diva) e é revigorante ver que This Is Us não vai tratar Kate como um personagem unidimensional. Sim, ela vai lutar para entrar nos padrões da sociedade, mas Kate também parece ser muito mais do que isso. O início da sua relação com Toby foi uma delícia de acompanhar e só resta torcer pro seu pretendente continuar na série, mesmo que ela não queira namorar godos agora.
2. Kevin
Kevin (Justin Hartley) talvez seja o personagem mais difícil de se criar empatia. Não é tão fácil sentir pena do sujeito com trinta e poucos anos, branco, hetero, rico, que tem tudo na vida e ainda reclama. Mas se colocar no lugar do outro é sempre um bom exercício, e a série tenta nos lembrar disso. Quem assistiu The Newsroom certamente lembrou de Will McAvoy com a explosão de Kevin e qualquer série/filme/espirro de Aaron Sorkin é sempre uma ótima referência.
3. Randall
É engraçado que o tom cômico do episódio tenha sido dado pelo encontro de um cara que foi abandonado quando recém-nascido com o pai que o largou na porta de um Corpo de Bombeiros. Uma direção diferente teria tornado o encontro dos dois melodramático demais e pesado a mão em um piloto que, mesmo sendo de um seriado de drama, tem uma pegada “feel good“. Por ora, ainda sabemos pouco sobre a família de Randall (Sterling K. Brown), mas já temos duas novas crianças para amar (ou odiar, nunca se sabe).
No final das contas, This is Us é um prato cheio pra quem gosta de um bom drama, com sensibilidade e sem exageros (estou falando de você, Grey’s Anatomy). E, embora todo mundo já tenha feito essa comparação, vale lembrar: se você morre de saudades dos Braverman (Parenthood), This Is Us com certeza é a melhor aposta da fall season.
Se você não viu o episódio ainda, esse texto termina aqui pra você e cuidado com os spoilers nos comentários também. Se você já viu, siga para o parágrafo seguinte por sua conta e risco. Contém MUITOS spoilers:
Quem já conferiu o piloto sabe: o formato desse post não foi em vão, como também não foi em vão o fato dos personagens não terem tido seus sobrenomes revelados. This is Us vai contar a história de Jack, Rebecca e seus trigêmeos e esse sim é o real fator comum entre todos os personagens, não o aniversário, como os cinco primeiros segundos do episódio tentam nos fazer acreditar.
E se alguém disser que sacou o final do episódio antes da revelação, vou duvidar com a mesma intensidade que duvidei de quem jura de pé junto que sabia que Bruce Willis era um fantasma (O Sexto Sentido). Em certa altura do piloto, cheguei a desconfiar que a linha temporal de Jack e Rebecca fosse outra, mas tirei isso da cabeça em 1 segundo e jamais imaginei que os dois poderiam ser pais dos trigêmeos.
Claro, ajuda o fato da moda ser circular e o visual de Jack ser tão comum hoje em dia, principalmente em grandes metrópoles, em sujeitos segurando copos de Starbucks. Tão comum que, em janeiro (janeiro!), a Mandy Moore compartilhou no Instagram uma foto dos dois a caráter, prontos para as gravações e ninguém desconfiou de nada.
Desde já, o momento em que o policial acende o cigarro no meio do hospital é uma das minhas revelações favoritas de grandes surpresas. Afinal, quem acenderia um cigarro em um hospital em 2016, não é mesmo?
Mas o melhor é: por mais que tenha sido muito bacana só descobrirmos a verdadeira relação entre os três no final do episódio, ela não interfere na dinâmica da série. As surpresas provavelmente acabaram aí, e isso não é negativo. Agora todas as cartas estão na mesa e poderemos acompanhar a história dessa família de cabo a rabo.
O único defeito desse primeiro episódio? Não veio junto com a temporada completa pra gente maratonar.
