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Touch

Por: em 29 de janeiro de 2012

Touch

Por: em

 

 

“A proporção é sempre a mesma. 1 para 1618 repetidamente. Padrões se escondem bem debaixo dos nossos olhos, só é preciso saber onde procurar. Sete bilhões, oitenta milhões e 360 mil pessoas e poucos de nós conseguem enxergar as ligações. Hoje enviaremos 300 bilhões de emails, 19 bilhões de mensagens de texto e, ainda assim, nos sentiremos sós. Uma pessoa comum dirá 2250 palavras para 7,4 bilhões de pessoas. Estas palavras serão usadas para magoar ou curar a dor? Há um antigo mito chinês sobe o Fio Vermelho do Destino. Diz que os deuses prendem um fio vermelho no tornozelo de cada um de nós e o conectam a todas as pessoas cujas vidas estamos destinados a tocar. Este fio pode esticar-se ou emaranhar-se, mas nunca irá partir.”

E nos encontramos mais uma vez com uma série criada por Tim Kring. Foi ele que depois de uma primeira temporada bem escrita e programada, nos entregou um show mal feito, chato e sem a qualidade com a que tínhamos acostumado. Heroes escreveu uma história de muito sofrimento para os fãs que acompanharam a saga daqueles heróis até o final, portanto é inevitável que fiquemos com o pé atrás quando vemos seu nome envolvido em uma produção. E mesmo assim, mesmo com todas as ressalvas que precisam existir, Touch fez um piloto redondo, com um roteiro bem escrito e personagens interessantes demais. O modo como foram desenvolvidas as conexões entre os desconhecidos personagens foi muito boa e foi inevitável lembrar da já cancelada Heroes.

Kring apostou mais uma vez em contar histórias diferentes que em algum momento se conectariam, exatamente como foi da última vez só que com um pano de fundo complemente diferente. Fato é que ele soube como fazer essas conexões funcionarem e parecem possíveis aos olhos do espectador, que ansiava para saber como todos aqueles cujos rostos foram apresentados logo no início do piloto poderiam estar relacionados. A série se inicia com o discurso de um garoto que só fala com a sua mente – discurso este muito legal – começando a desenvolver assim o plano principal dessa trama. Jacob tem 11 anos e é autista, doença de nome muito comum, mas que poucos realmente conhecem a fundo o que acontece de verdade com a pessoa que sofre da mesma. A série decide explorar um viés diferente, fazendo com que a doença seja o ponto chave para desenvolver uma relação entre pai-filho-sociedade, de modo que o segundo consiga beneficiar o terceiro por meio da sua inteligência diferenciada, determinada pela abstenção ao mundo exterior. E tudo isso é realizado pelas mão de um pai desesperado que busca através de todas essas conexões loucas que tem de descobrir, fazer aquela que a mais interessa – conectar-se com seu filho.

Martin, interpretado muito bem por Kiefer Sutherland – que quebra com nossa imagem Jack Bauer finalmente, apesar de que demorei para desassociar essa imagem dele e olha que eu nem via 24 horas – é um homem ferido pelo passado. Fracassado em sua profissão, perdera a mulher no fatídico 11 de setembro e não consegue lidar bem com os problemas da doença traz. Por muito, pensei que o personagem seria frio, distante de toda aquela situação, mas com o passar do episódio piloto, conhecemos mais do seu desespero por estar mais perto da única família que lhe restara, um desespero chamado solidão. É nesse panorama que conhecemos Clea, a assistente social que acaba metida no meio dessa trama entre pai e filho e, apesar de resistir no começo, acaba se entregando aos pensamentos de Martin, ajudando-o nessa estranha malha de acontecimentos que seu filho é capaz de prever.

Eu confesso que adoro observar essas conexões malucas, então achei sensacional o modo como foram apresentadas e desenvolvidas todas essas tramas. Desde o bombeiro que tinha tentado salvar a mulher de Martin até a aspirante a cantora, tudo funcionou diretietinho, regado inclusive a momentos bastante emocionantes, como a hora em que o empresário vê as fotos de sua filha falecida nos telões de Hong Kong ou o desespero por ajudar a família, que leva o garoto afegão a aceitar ser um homem bomba em troca de um fogão para a prosperidade de seus pais. Gostei também da relação matemática de Fibonacci aparecer como uma justificativa plausível para os fatos que o garoto previa e como determinante na forma que Jacob tinha para se comunicar com o mundo exterior.

Mas brilhante mesmo foi a cena final entre o menino e pai, que por um segundo ilude o espectador de que a conexão entre eles estava feita – e no fundo, estava – só não da maneira que era esperada. Jake nunca será o filho que Martin deseja e precisa, mas será o garoto especial que consegue dentro do seu mundo mostrar os fatos que interferem no nosso e, finalmente, eles estavam unidos, não em contato, mas sim em pensamento. Martin conseguia agora conversar com seu filho sem palavras e isso é uma relação absurdamente interessante de se assistir.

Apesar do ótimo piloto, ainda tenho meus temores quanto a série. Não consegui definir quem seriam os personagens que vão permanecer conosco e realmente espero que a série não se desenvolva no modo ‘caso da semana’. Sim, Jake vê os fatos de algum jeito e precisa contá-los, mas deve haver um modo mais interessante deles nos mostrarem essa história. Quero muito que a relação de Martin e Jacob seja mostrada de maneira pertinente e considerando as limitações que o autismo gera na pessoa. E, acima de tudo, Kring precisa tomar cuidado com o quão cansativas podem se tornar essas relações malucas que ele deseja contar em cada um dos episódios. Ademais, tivemos uma excelente estréia, com audiência boa e com as expectativas lá em cima. Touch pode ser um sucesso ou um tremendo fracasso, o que só depende de como a trama irá caminhar daqui para a frente. Estamos todos conectados uns aos outros por fios que se emaranham, se enroscam, mas nunca se desfazem – só temos que esperar até nossas vidas se tocarem.

P.S.: Só eu, ou vocês que são fãs de Lost também se ligaram no fato do menino se chamar Jacob e o ator que viveu o MIB estar presente no episódio? Achei estranhamente bizarro!

P.S.2: Próximo episódio irá ao ar somente no dia 19 de março.


Leandro Lemella

Caiçara, viciado em cultura pop e uns papo bobo. No mundo das séries, vai do fútil ao complicado, passando por comédias com risada de fundo e dramas heroicos mal compreendidos.

Santos/SP

Série Favorita: Arrow

Não assiste de jeito nenhum: The Walking Dead

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