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Big Love – 5×10 Where Men and Mountains Meet (Series Finale)

Por: em 22 de março de 2011

Big Love – 5×10 Where Men and Mountains Meet (Series Finale)

Por: em

Quando fomos apresentados a Bill, Barb, Nicki e Margie em 2006, rapidamente ficamos sabendo sobre o que a série queria mostrar: o amor imenso entre quatro pessoas. Bill jurava que esse amor era transcendental, genuíno. Hoje, em seu final, Big Love prova que os criadores acreditavam em seu personagem pois mantiveram-se nas crenças de Bill até depois de seu último suspiro.

Não posso mentir. A série não terminou da forma que eu imaginava, como comentei na review do episódio anterior. Porém, apesar dos pesares, Big Love se manteve fiel ao assunto proposto e mostrando um desfecho realmente bonito para seus quatro protagonistas. A mensagem que eles passaram foi simplesmente de que o amor supera tudo e que se for verdadeiro, tanto faz se for entre duas, três, quatro ou mais pessoas, tudo dará certo no final, até se esse final for depois de nossas vidas atuais, como era a crença dos Henrickson. Como disse, apesar de achar que faltou desenvolvimento em outras áreas, a série sempre lidou com Bill e suas esposas e foi com isso que a série terminou. Na verdade, Bill foi o que menos chamou atenção. A glória da série ficou com o amor imenso das três esposas e do poder feminino, ou pelo menos sua busca. Muitos estão apontando que isso ficou ainda mais claro com a música tema da série, God Only Knows, ter sido cantada por uma mulher, nesse caso Natalie Maines de Dixie Chicks, na última cena de Big Love. De fato, não estariam errado querendo mostrar que as mulheres estão sempre lutando e conseguindo lugares até então só ocupados por homens na sociedade atual, tanto que um dos maiores plots dessa temporada final foi a busca de Barb pelo sacerdócio na religião mórmon…mas antes disso, vamos comentar sobre o herói, por vezes vilão, Bill Henrickson.

Visionário!! É a melhor palavra para definir o patriarca da família e protagonista masculino da série. Durante as cinco temporadas acompanhamos Bill querer uma simples coisa: ser aceito. É o que o levou a declarar abertamente ser praticante do casamento pluralista e como nessa finale, abrir um processo sobre a legalização da poligamia nos Estados Unidos. Apesar de cometer erros, Bill sempre divergiu da poligamia praticada em Juniper Creek. Ele nunca abusou de suas esposas e filhos ou corrompeu pessoas. Apesar de certas vezes ter abusado de seu poder como líder de sua igreja, isso sempre aconteceu com bons propósitos e para fins que beneficiariam positivamente sua família e as pessoas de boa moral. A poligamia da família Henrickson é um exemplo saudável da prática, o que não significa que em seu interior não existam diversos problemas e preconceitos a serem enfrentados, como qualquer outro exemplo de pessoas vistas com olhos maldosos pela sociedade. Que fique claro, em nenhum momento estou querendo dizer que sou a favor da legalização da poligamia. Estou comparando Bill a diversos visionários que com seus ideais buscaram seus direitos, como historicamente temos ótimos exemplos com Martin Luther King Jr. (direito dos negros), Harvey Milk (direitos dos homossexuais), Betinho (direito dos portadores de HIV) e Maria da Penha (direito das mulheres vítimas de violência doméstica). Claro, é uma comparação pobre, mas que não deixa de ser real. Como eles, Bill busca aceitação e direitos iguais, afinal, não faz nada que prejudique alguém com a sua visão de poligamia. E em Big Love, o visionário teve o mesmo fim que alguns desses exemplos: morreu em decorrência dos que eram contra sua forma de vida ou que foram afetados por ela.

Caso a série continuasse, ou se isso acontecesse aqui na vida real, Bill ficaria para sempre marcado na história pela sua luta e morte prematura, e seria frequentemente lembrado como um dos pioneiros da ideia, mesmo que a poligamia nunca chegue a ser legalizada. Foi um choque? Com certeza!! Quem imaginaria que Bill acabaria morto no final de Big Love? Mas se olharmos todo seu histórico, isso não só já quase aconteceu, como iria acontecer eventualmente. Bill é um homem que por ser líder e incitar a simpatia e respeito de muitos, ao mesmo tempo ganha a raiva e a vingança de diversas outras pessoas. Para nós, agora órfãos da excelente Big Love, Bill atingiu seu destino final de uma forma inútil (aqui não com o significado de ruim). De todas as pessoas que poderiam querer sua cabeça, Bill levou três tiros (caso queira achar que foi um para cada esposa) do vizinho Carl. Seu casamento andava de mal a pior, mas o que tudo isso tinha a ver com Bill exatamente? Foi Margie que levou Pam aos negócios do Goji Blast; foi ele mesmo que perdeu o emprego…mas foi Bill o culpado de tudo culminando por uma grama cortada. Foi triste, não há como mentir, ver Bill deixando essa vida aos poucos, com os olhares desesperados de suas três esposas. Mas ao mesmo tempo foi lindo Bill pedindo a Barb que lhe desse uma bênção, permitindo a esposa o poder do sacerdócio. Ele já havia percebido que estava no caminho certo na bela cena em que fala para mais de 400 pessoas no domingo de Páscoa e tem uma rápida visão de seus antepassados e de Emma Smith olhando-o com orgulho. Em seu último ato em vida, Bill se transformou e cedeu, sabendo que esse era o caminho da paz, e desde o encontro na igreja entendendo de que, se o mundo passa por reformas, porque não o Princípio e sua visão de poligamia? Ele deixou seu legado, e por mais triste que seja, sua família deu a volta por cima e conseguiu ser feliz como há tempos não era depois da morte do patriarca.

Então veio um flashforward de 11 meses depois. E é aí que os criadores Mark V. Olsen e Will Scheffer mostram que sempre souberem do que a série realmente lidava. Ver Barb como líder da igreja do marido, com o poder do sacerdócio, sendo capaz de batizar o próprio neto (chamado Bill, em homenagem ao avô) foi mais do que um presente para nós, foi uma vitória para a personagem. Sua família inteira a aceita como detentora do sacerdócio e inclusive Sarah vem com mais frequência aprender com os ensinamentos da mãe. Por mais rápido que tenha sido, ver Amanda Seyfried novamente foi fantástico, ainda mais com Aaron Paul como Scott, agora pai de um lindo bebê. Ben, apesar de amar o pai com todas as forças, encontrou no casamento monogâmico a felicidade, casando-se com Heather, agora oficialmente parte da família. Antes do flashforward, Margie e Bill já haviam conversado sobre as viagens que ela queria fazer, e até mesmo pediu para Nicki apoiar a irmã-esposa. O desfecho da personagem foi o que mais gostei, talvez porque Margie sempre foi minha esposa preferida. Como comentei, ela era muito jovem para poder decidir o que queria da vida. Com a morte de Bill, Margie encontrou um meio termo e soube equilibrar suas paixões…passa três meses viajando e ajudando pessoas ao redor do mundo, e então volta para ficar com a família que ela ama, aqueles que estarão sempre em primeiro lugar em seu coração.

Nicki não deixou de ser ela mesma, e isso foi o mais certo a fazer. Mesmo sofrendo com a ausência de Margie, a personagem continua disfarçando e até colocando a culpa em Barb, falando que é ela quem sente saudades. Mas a evolução de Nicki desde que a conhecemos é algo notável. Chloë Sevigny deu tantas facetas para essa personagem que será sempre a mais lembrada de Big Love. A cena em que Nicki admite para Barb que é uma pessoa ruim, sem um pingo de simpatia e que se sente sozinha é uma das mais bonitas da personagem em toda a série, finalmente mostrando quem é e pedindo ajuda. O legal foi ver que mesmo com a família já de pé, Nicki é quem mais sofre com a falta do marido, sendo a mais abalada depois do batismo, porque sabemos que ela sempre foi a mais apegada a Bill. Podemos atribuir a possível prisão do patriarca como o motivo pelas mudanças. As três esposas pararam e pensaram: “e agora, o que faremos sem Bill?” E com isso, Nicki decidiu ser uma pessoa melhor, porque notou que iria precisar da ajuda dos outros, e assim a personagem evoluiu, como na cena com Barb e quando conversa com Cara Lynn, em um dos raros momentos que Nicki foi 100% sincera, mostrando o amor pela filha, que deixou de lado o romance com o professor.

Mal sabiam as três que nada mais precisavam além do que elas mesmas para seguirem juntas e continuando a fantástica família que têm. Não posso deixar de comentar a cena em que Barb compra um carro novo e ela, Margie e Nicki saem para dar uma volta. Facilmente, uma das cenas mais lindas da série, retratando o amor de uma pela outra com simples olhares, tirando o fato, claro, de que era uma das últimas vezes que veríamos as três. Quando Barb diz para Sarah que Bill foi o responsável por tudo o que aconteceu, não estava mentindo. Ele criou aquela família e cultivou o amor entre todos eles, mas precisou morrer para que os desejos de suas esposas e até dos filhos fossem possíveis e assim todos puderam ser feliz. Se ele continuasse na história, talvez Barb nunca conseguisse o poder do sacerdócio; Margie nunca viajasse, Ben nunca tivesse seguido um casamento monogâmico, Nicki nunca tivesse se aberto e possibilitado sua evolução. Então Barb disse a verdade. Tudo aquilo 11 meses depois só foi possível devido a Bill, seus atos em vida, seu amor e sua morte. A série terminar com um abraço apertado cheio de amor entre as três esposas com o espírito de Bill assistindo a cena é…lindo, e não encontro outra palavra para isso.

Como já comentei, Big Love foi uma série de altos e baixos. Os baixos começaram mesmo na 4ª temporada e continuaram por essa 5ª, mas que teve um saldo muito mais positivo do que sua antecessora. O que aconteceu com Joey e Wanda? O irmão que Bill tanto amava nem sequer foi mencionado. E Teenie? Não poderia ter aparecido na cena final com Sarah? Don, apesar de presente desde o piloto, não mostraram o que aconteceu com o melhor amigo de Bill. Adaleen talvez teve o final mais sem graça da série, tentando cegamente livrar o filho da cadeia. Mas e quanto a Juniper Creek? O cenário mais famoso e controverso da série foi deixado para trás nessa finale. Não sabemos quem virou profeta depois de Alby e se a comunidade foi limpa e cresce bem depois da reforma de Bill. Tudo isso representa pouca coisa perto do que a série realmente deveria mostrar no seu final – e que fez muito bem como comentei acima – mas um encerramento rápido e pequeno para essas questões que foram partes importantes na série durante cinco temporadas seria interessante.

Outro desfecho, também triste, mas não menos belo foi o de Lois e Frank. A história de ter demência devido a herpes passada por Frank não é o melhor que Grace Zabriskie pode fazer, mas a atriz deu show e conseguiu que nos importássemos com sua trama durante a temporada. Frank, outro personagem que evoluiu, passou de odiado para um homem querido e que se importava com a esposa, além, de uma pessoa de palavra. Frank cumpriu o que prometeu e deu fim a vida de Lois quando a doença estava no limite e ela só conseguia se lembrar do filho. Há um que de alívio ver a personagem fechando os olhos, deitada aconchegadamente nos braços de Frank, pois sabemos que assim Lois morreu em paz.

É muito difícil para um viciado em série dizer adeus para um show que o conquistou e lhe trouxe tanta alegria durante vários anos. Há quase um ano me despedia de Lost; mês passado foi a vez de Friday Night Lights e agora Big Love. São séries como Big Love que marcam a história da TV com seus temas polêmicos retratados de forma tão realista e dramática, interpretada por um elenco que sabe o que faz. Com uma premissa de uma família polígama, a série abordou como a religião pode moldar uma sociedade e de que tudo dará certo se o amor é verdadeiro. Será triste não ter mais episódios com a família Henrickson, mas a jornada realmente valeu a pena. Muito obrigado a quem acompanhou as reviews. Agora só nos resta ver tudo de novo, e clichês a parte, god only knows what I’d be without you.


Caio Mello

São Bento do Sul – SC

Série Favorita: Lost

Não assiste de jeito nenhum: Séries policiais

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