Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Damages – 4×02 I’ve Done Way Too Much For This Girl

Por: em 31 de julho de 2011

Damages – 4×02 I’ve Done Way Too Much For This Girl

Por: em

Damages sabe ser excelente e estarrecedora, mas nem sempre o é.  Nem todos os episódios têm a intensidade de suas season finales. Por muitas vezes acompanhá-la é um exercício de paciência, e quando ela não nos entrega o que queremos, temos que confiar nos roteiristas e esperar que tudo faça sentido em seu clímax, entendendo que momentos assim são importantes para a construção da trama e serão mais fáceis de se digerir quando analisarmos a temporada como um todo, e I’ve Done Way Too Much For This Girl foi um deles: as transformações nas personalidades das protagonistas fizeram-se mais sensíveis e o tom da temporada foi estabelecido neste episódio redondinho, mas levemente insatisfatório.

Tivemos um episódio praticamente livre de flashforwards, o que não é novidade no seriado: Flight’s at 11:08, que é para mim o pior episódio da terceira temporada, foi nos mesmos moldes. Ao contrário do último, I’ve Done… felizmente não está entre os piores da série: considerando-se a estrutura de Damages, a presença de episódios menos empolgantes durante a temporada é não só compreensível, mas necessária. E quando consideramos algumas de suas cenas, dizer que este episódio foi um pouco morno é quase reclamar de barriga cheia.

A maior contribuição de I’ve… para o caso da temporada foi a manipulação de Chris, o personagem-chave da temporada. A execução do plano de Boorman teve aquele brilhantismo cruel e irônico que é comum na série (um muçulmano sendo torturado por um americano que queria obrigá-lo a mentir é de um cinismo sádico que eu não imagino dando certo em nenhum outro drama no ar na televisão americana) e a atuação de Baker carrega mais ainda a atmosfera sombria da situação. O envolvimento de A.C. na armadilha não é exatamente surpreendente, mas diz muito sobre o caráter da High Star. Um segredo que exige traições e crimes hediondos para ser encobertado promete ser poderoso.

Mas o ponto alto do episódio veio, novamente, da interação entre Patty e Ellen. Para conseguir o apoio da firma de sua mentora, Ellen jogou feito gente grande. É cedo para dizer se Patty caiu de fato no golpe, mas esta farsa teve grande significado para a personagem de Byrne: para executá-la, Ellen precisou arquitetar, dissimular, enganar. Em nenhuma temporada anterior ela havia ido tão longe, e a moça frágil que olhava para Patty com admiração e temor mostra-se hoje uma experiente manipuladora, valendo-se de métodos sujos e bem planejadas trapaças para alcançar objetivos pessoais (ou alguém acredita que a briga contra a High Star seja para ajudar Chris?). Na cena, Ellen diz a Patty que não é como ela. Eu não tenho tanta certeza disso.

As sessões de Patty com o psicólogo foram inegavelmente divertidas, mas espero que não sirvam sempre como alívio cômico (apesar de adorar o humor ácido da série). Há muito potencial dramático ali, e não acredito que os roteiristas vão desperdiçá-lo. Fisher Stevens faz sua estreia de maneira irretocável, transmitindo ao telespectador o quão frustante é ter uma paciente tão cheia de possibilidades mas que se fecha tanto, sempre inferiorizando-o com sarcasmo. As duas frases contrastantes de Patty; a que dá nome ao episódio (dita durante uma sessão) e aquela dita na conversa com Ellen ao fim do episódio (“eu devo isto a você“) mostram a força do relacionamento das duas e a plurilateralidade da personagem, que pode render muito mais do que alguns momentos de constrangimento dentro da sala de seu psicólogo.

O episódio foi bem mais que mediano, mas teve seus problemas. Algumas explicações e atitudes me pareceram forçadas, especialmente da parte de Patty. A personagem nunca se limitou ao arquétipo de vilã, portanto decisões criativas como colocá-la quebrando o nariz do porteiro, tratando a neta como um cão e dizendo “eu cuidei disto pessoalmente” com olhares de Cruela de Vil não fazem muito sentido. Felizmente, a atuação de Close elimina qualquer risco de charlatanismo. A relação das protagonistas também me pareceu estranha na cena em que as duas planejam uma noite de brincadeiras infantis enquanto tomam café juntas: simplesmente não se encaixa com tudo o que a série mostrou até hoje. A ingenuidade seletiva de Chris também irrita: o personagem altera momentos de paranoia com demonstrações de confiança cega, de acordo com o que se encaixa mais nos planos dos roteiristas. Já tivemos tramas trabalhadas com mais cuidado na série.

Além disso, até agora pontas interessantíssimas deixadas pela terceira temporada, como o envolvimento da irmã de Ellen com drogas, o aborto e os distúrbios de Patty e a adoção de Ellen, estão sendo completamente ignoradas, enquanto screentime é gasto com tramas que nenhum fã reclamaria se fossem deixadas no passado. A storyline da busca por Michael é a menos promissora das temporadas mais recentes da série. O personagem não costuma render bons momentos, e a relação de Patty com sua neta é interessante o suficiente para se sustentar sem ele e justificar a saída do personagem. Ver a advogada lidando com o sumiço de seu filho como uma ameaça à sua vida e não uma preocupação materna é muito mais “Damages“. Mas a equipe criativa da série merece crédito, e eu não acredito que os pequenos deslizes cometidos no episódio se tornarão recorrentes, e tenho esperanças de ver as tramas da temporada anterior serem retomadas em breve.

Mesmo para quem já está acostumado com o ritmo de Damages, episódios assim, que só servem para firmar as bases da temporada, deixam um gosto amargo. Queremos ser satisfeitos de maneira imediata, que cada episódio seja isoladamente avassalador, mas Damages não é assim. Se fosse, suas conclusões não seriam tão apoteóticas. Fazem parte da construção de uma temporada sólida episódios que sozinhos não exercem grande impacto, mas é missão dos mesmos entregar cenas relevantes para a fixação da personalidade dos personagens, da atmosfera da trama e de outros elementos que compõem a série, e I’ve… soube fazer isso muito bem, mantendo acesa nossa curiosidade acerca do caso da temporada.

Leia a review do episódio anterior

Assista ao promo do próximo episódio

 

 

 


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

×