Marés, correntes, ondas, vento. Cada uma apresentando seus próprios riscos. Nenhuma pode ser ignorada. O pequeno erro julgado pode ser o erro do qual você nunca irá se recuperar. Mas um bom marinheiro não luta contra esses elementos. Um bom marinheiro trabalha com eles, utilizando-os a seu favor. Enquanto outros podem se perder para sempre à deriva, partindo em vários pedaços, ele sempre chega em casa em segurança.
Oops. O discurso do Dexter no final do episódio poderia ter sido o desfecho perfeito pro episódio, mas qual seria a graça de levantar tanto o ego do protagonista sem nada de muito diferente pra esquentar o episódio que vem? Todas essas metáforas e frases de efeito que colocavam o Dexter no pedestal de assassino perfeito caíram por água abaixo. E com a maré parada – como diz o título do episódio – as chances do sentimento de culpa de Dexter irem embora rapidamente são bem menores do que o serial killer desejaria.
A questão de se matar um inocente, porém, não foi exclusividade de “Slack Tide”. No início da terceira temporada a bola já havia sido jogada, mas claro que em circustâncias bem diferentes: além da morte do irmão de Miguel Prado ter sido por legítima defesa, no final das contas o cara ainda tinha alguma culpa no cartório que, de certa forma, livraria o Dexter do trauma de ter matado um inocente. Já no caso de Jonathan Farrow, não vem ao caso até que ponto o fotógrafo tinha algum envolvimento ou não com os crimes de seu assistente. A única coisa que importa agora é a dimensão que o erro de Dexter vai tomar em relação à busca pelo Trinity Killer – esse sim importantíssimo, e que a cada episódio me deixa com mais e mais vontade de conhecer melhor seu comportamento lunático.
No atropelamento do bambi, por exemplo, qual o sentido daquele medo todo de matar o animal? A impressão que fica é que cada vez mais as teorias de que não foi o Arthur Mitchell que atirou no Lundy e na Deb são verdadeiras. O que, por enquanto, é algo que eu não gostaria de ver acontecendo. Pra mim, Dexter sempre foi excepcional em desenvolver personagens, conduzir histórias, etc, etc, mas a série nunca conseguiu me prender muito com as surpresas que vira e mexe acabam acontecendo. Na primeira temporada foi a identidade do Ice Truck Killer. Na segunda temporada foi a culpa do Bay Harbor Butcher cair em cima do Doakes. Na terceira temporada foi a pegadinha do porta-malas com a despedida de solteiro. Na quarta temporada, eu torço pra que a maré corra no sentido contrário e que, de fato, tenha sido o Trinity que disparou os tiros.
Ainda sobre Mitchell, fiquei muito, muito curioso com a construção do caixão. Estranhamente, a primeira coisa que me passou pela cabeça quando eu vi o objeto montado foi que o Trinity construiu o caixão pra si mesmo. Diferente das outras temporadas, eu acharia beeem interessante se fosse o próprio Arthur que montasse todo um ritual pro seu próprio suicídio, em vez do Dexter tentar, tentar e acabar conseguindo matar o cara nos últimos episódios. Mudar é bom às vezes.
Nas outras subtramas do episódio, ainda teve o Quinn começando a correr atrás do Dexter – o que aconteceu de maneira bem devagar. Se nos próximos dois episódios nada de tão importante acontecer entre os dois, acho bem provável que isso acabe se tornando assunto pra quinta temporada. Quanto à Deb, apesar de eu ter gostado dela ter conseguido a permissão, mesmo que indiretamente, pra investigar o caso do Trinity Killer, me decepcionei um pouco com a investigação dela sobre o passado de Harry. Parece que os roteiristas se arrependeram dessa história e acabaram a abandonando sem levá-la a lugar algum. A única coisa boa foi a cena do Dexter destruindo os arquivos da Laura Moser. “I can’t let her be cut up again” foi genial. Pode até ser que a foto guardada na gaveta tenha sido a deixa pra que a história não fosse encerrada de vez, mas…
Pro episódio que vem eu nem falo nada, porque a promo mostrou as coisas esquentando TANTO, que eu fico com medo de levantar demais as minhas expectativas. Se bem que a temporada tá se provando eficaz demais em conseguir deixar feliz até os fãs mais chatos. E eu tava quase me tornando um deles.
P.S.: Como as cenas do Dexter montando as suas mortes são perfeitas. O lance dos flashes na hora de capturar o Farrow e a própria morte em si foram lindas demais. Sempre são.
P.S. 2: Quero saber o preço da conta de luz no apartamento do Dex-mas-agora-da-Deb. Alguém mais reparou na quantidade de lâmpadas que ela ia acendendo enquanto conversava com o irmão?
P.S. 3: Créditos pra equipe Psicopatas/DarkSide pela tradução do trecho ali no começo do post.
