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Dexter – 8×12 Remember the Monsters? (Series Finale)

Por: em 25 de setembro de 2013

Dexter – 8×12 Remember the Monsters? (Series Finale)

Por: em

É isto. Dexter acabou. Foi difícil, e ainda é, colocar no papel tudo o que sentimos no último domingo, talvez por isto a demora para esta review.

Para uma série cercada por várias polêmicas que embalaram suas últimas temporadas (que questionavam, principalmente, a qualidade do roteiro), Dexter não poderia fugir de mais um episódio de gosto duvidoso. Foi controverso, com falhas abruptas e… triste. Triste porque, além de julgarmos que merecíamos um final melhor, e por acompanhar os dramáticos desfechos da família Morgan, é o final de uma série que a maioria dos telespectadores aprendeu a amar e odiar, na mesma intensidade, e que, mesmo nos momentos ruins, era difícil resistir a assistir ao próximo episódio. Queremos colocar no papel as nossas angústias e frustrações pelo fim da história do nosso serial killer, mas também coletar os cacos que podem ser reaproveitados, e elogiados, deste episódio que teve um final tão destrutivo e expor, dessa maneira, os dois lados: O positivo e o negativo.

Harrison-Dexter-Series Finale

Todo o problema que envolve o final da premiada série da Showtime é a falta de uma conclusão coerente para esta história que é contada há oito anos. Sempre esperamos pelo momento em que Dexter finalmente seria exposto para a sociedade, mesmo que fosse depois de morto, e isto nunca aconteceu. Talvez este sentimento dê o tom da decepção que sentimos quando vimos um silencioso MCH barbudo na cena final. A humanização do personagem, que sempre foi defendida por boa parte dos fãs e pelos roteiristas, talvez tenha sido a grande vilã das falhas imperdoáveis que Dexter veio cometendo desde a 4ª temporada. Quando, em Monkey in a Box, ele decide deixar Saxon vivo e partir para uma nova vida com Hannah e Harrison, uma contradição foi criada. Ao mesmo tempo em que é coerente com esse novo Dexter que ele não mate Saxon e o deixe ser pego pela polícia, é complicado aceitar que ele tenha deixado vivo um cara que ameaçou diretamente sua irmã, sua mulher e seu filho.

O problema de Remember the Monsters? não está reduzido aos desfechos encontrados para as histórias, mas encontra-se ligado, muito mais, ao modo como estes foram conduzidos. É um episódio anticlímax, com flashbacks inseridos forçosamente tentando criar nostalgia (coisa que não é conseguida pelos outros detalhes também nada sutis, como um caminhão de gelo que lembra o ITK) e que apresenta algumas falhas de condução que não podem ser esquecidas. Também é um episódio que não é justo nem com a série da qual ele faz parte nem com o público que tanto esperou por este desfecho.

O que assistimos em pouco mais de 50 minutos é a velha repetição de um ciclo. Dexter descobre que algo que fez deu errado, decide que precisa finalmente se livrar do big bad da temporada e o faz. O adendo aqui era o estado terminal de Deb. E na execução do ato final, erros amadores saltam aos olhos – erros ligados diretamente a construção de personagens como Dexter, Quinn, Batista e outros.

A morte do Saxon é, talvez, um dos pontos mais falhos aqui.

Dexter-Saxon-series finale

Tudo nessa trama grita pro erro desde que ela apareceu, é fato, mas é complicado aceitar que o Saxon decida invadir um hospital onde está internada uma tenente da polícia de Miami para matá-la. Ele é um psicopata, seus gestos são frios e calculados, não impulsivos, como este. Mesma impulsividade que leva Dexter a procurá-lo na prisão e matá-lo. Impulsividade que não é boa. Que soa estranha demais. Matar Saxon diante das câmeras, após uma fraca simulação de provocação, não é aceitável devido ao alto risco que isso podia trazer e não existem argumentos de que Dexter estava perdido ou surtado que justifiquem um ato tão estúpido desses. É complicado entender também que Quinn e Batista – especialmente este último -, agentes da lei e que tentam ao máximo fazer o que é certo, de certa forma, acobertem Dexter pela morte. O episódio não deixa exatamente claro se os dois realmente perceberam que Dexter não o matou em legítima defesa e, honestamente, fica complicado também imaginar o que seria mais aceitável: Eles não terem percebido ou terem deixado o amigo livre por isso.

O tiro dado em Debra no final do episódio passado mudou o Dex. Ver a irmã em cima de uma cama de hospital acionou um old-new-Dexter. Um que é dominado novamente pelo passageiro sombrio, mas que sofre isso por sentir – o que é uma grande ironia. A questão principal aqui é a regressão que isso traz. Assistimos, já há algumas temporadas, a humanização de Dex como personagem, a sua “evolução” (coroada com os atos estúpidos do episódio passado) e quando, aqui, ele decide simplesmente deixar Hannah e Harrison embarcarem porque sente que precisa se acertar com Saxon, todo o percurso dos últimos episódios vai pro lixo. Foi uma jornada perdida. Desperdício de tempo e falta de planejamento de roteiro.

Roteiro que também falha por suas soluções planas e por ignorar outros personagens.

É claro que o foco aqui deveria ser Deb e Dex, mas depois de uma temporada envolvendo a reconstrução da história da tenente e de Quinn, não dá pra entender a ausência de uma cena de despedida. Mais uma vez, tudo que foi construído na temporada parece inútil aqui. Talvez seja esse o grande problema de Remember the Monsters?. É um episódio que parece ter sido escrito quase que isoladamente, sem uma consulta prévia ao que tinha sido feito anteriormente. É audacioso dos roteiristas agirem assim e isso chega a ser até mesmo insultante ao seu espectador.

Pra não citar também a confusão criada pela tempestade usada como desculpa idiota pra que o Dexter entre no quarto da Deb, desligue os aparelhos e saia com seu corpo na maca sem que ninguém note nada (e, mesmo com Saxon preso/morto, não é verossímil que nenhum policial estivesse de guarda ali no momento). Da mesma forma que não dá pra conceber Elway ser informado que Hannah está em um ônibus com Harrison e, além de aparecer lá sozinho por causa de uma recompensa, decidir singelamente esperar até a próxima parada para que eles desçam, sabendo o quão traiçoeira Hannah é.

Deb e Dexter Series Finale

Ok, em um final onde tantas falhas não passaram desapercebidas, e onde pudemos perceber que os roteiristas precisavam de mais tempo para não correr com as histórias, Dexter teve sim algumas conclusões coerentes.

Talvez a decisão mais acertada deste fraco episódio final tenha sido a esperada morte de Debra. A irmã de Dex sempre foi a que sofreu as consequências da vida dupla do analista forense, e desde o final da 6ª temporada, nunca mais foi a mesma. Vimos Deb passando por cima de ideais e condutas que ela nunca abriria mão em nome do egoismo e egocentrismo de seu irmão. Como ela mesma disse: “I fucked up a lot, maybe I deserved to die.” Não é que ela merecia morrer, mas Dexter precisava sentir, pela última vez, a consequência de seus atos impensados. Dex não aprendeu a lição com Trinity ao perder Rita, e por isto perdeu Deb para Saxon.

O plot da morte de Debra trouxe também outro desfecho positivo, e fiel, às temporadas anteriores: ao desconectar Deb dos aparelhos no hospital (apesar da maneira inverossímil que isto tenha acontecido) Dexter acatou o pedido da irmã, lá na terceira temporada, quando ele oferece a Camille um bolo letal. Deb pediu ao irmão que a matasse caso ela ficasse presa a um leito de hospital em algum momento de sua vida. Se ele fez isto por Camille, porque não fazer por Debra? Acho sensato que, já que humanizaram o serial killer, a morte de sua irmã seja tão dura e irremediável para Dex, afinal, Deb sempre foi o lado sensível e humano de Dexter, muito mais do que Rita, Vogel, Hannah, Harry, Harrison e Camille jamais foram. Por isto torna-se fácil entender que o serial killer queira buscar o isolamento total na cena final do episódio: sem Debra ele jamais chegaria onde chegou.

Contudo, mais uma vez, o episódio peca na execução de tal ideia. Não seria ideal, mas se queriam mostrar que, sem Deb, Dexter não seria nada, a morte seria a melhor saída. Claro que deveriam ter pensado em outra maneira que não fosse o suicídio – porque por mais sozinho que ele queira ficar, ele tem um filho e não daria pra aceitar MESMO que ele se matasse -, mas poucas coisas poderiam ser piores que do que ver Dexter reduzido a um cortador de lenhas com barba estilo Wolverine, sozinho e isolado em algum lugar distante, sem que ao menos fique claro que rumos ele tomou. Deixou de ser serial killer? Ou continua matando?

Os produtores falaram que o final da série seria aberto. Mas não tanto.

Cena final Dexter

No olhar vazio de Dexter e nas mãos dadas de Hannah e Harrison na Argentina nas últimas cenas, o que fica é a decepção de ver uma história que em certos momentos chegou a ser épica terminar mergulhada em um mar de erros agora irreparáveis, incoerências roteirísticas pesadas e desfechos tão secos e amargos quanto a expressão facial de seu protagonista, quando as cortinas se fecham e os últimos créditos sobem.

Adeus, Dexter. É uma pena que sua despedida tenha sido mais agridoce do que se esperava.


Marina Sousa

Mineira radicada em SP. Pão de queijo + séries + música. É fã de listas, maratonas e, claro, trilhas sonoras.

São Paulo/SP

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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