Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Fringe – 5×12 Liberty e 5×13 An Enemy of Fate (Series Finale)

Por: em 20 de janeiro de 2013

Fringe – 5×12 Liberty e 5×13 An Enemy of Fate (Series Finale)

Por: em

“The time we had  together we stole. I cheated fate to be with you. And we shouldn’t have had that time together…

Quando o episódio acabou e algumas poucas lágrimas rolavam, ainda era complicado assimilar tudo. Por tudo, eu me refiro tanto ao fato de Fringe ter acabado quanto aos acontecimentos do series finale em si. Agora, cerca de dez horas depois, as duas partes do fim continuam fortes na minha mente, sejam em imagens, quotes, cenas ou qualquer mero detalhe de Liberty e A Enemy of Fate quepor mais que tenham sido vendidos como um ‘final de duas horas’, na verdade são basicamente dois episódios isolados – e, acreditem, talvez a diferença na visão influencie na análise. De um series finale event de duas horas se espera ação, correrias, viradas, mortes e um misto de emoções. Fringe pegou o caminho oposto: Foi tímida, intimista, calma e, nestas duas últimas partes de sua trama, fechou de maneira belíssima uma história não sobre linhas temporais, viagens no tempo, monstros ou observadores, mas sim uma história sobre amor e família.

Não adianta gritar, fechar os olhos ou tentar argumentar que essa foi uma série de ficção científica porque, sim, os elementos existiriam e sustentaram 5 temporadas, mas em sua essência, foi um plano de fundo para contar a história da família Bishop e suas desmedidas formas de amar. Amor que destrói universos, reseta linhas do tempo, revive quem já foi apagado… Amor. Apenas amor.

Liberty, por exemplo, foi uma carta de amor aos fãs do Lado B. Quando fecharam o portal no fim da 4ª temporada, eu não esperava que o universo vermelho voltasse porque, teoricamente, sua trama já estava totalmente fechada. Com a ponte lacrada, pouco a pouco eles se reconstruiriam e todo o dano que Walter causou ao atravessar os universos teria sido apagado. Trazê-los de volta, mesmo que para uma rápida aparição, foi uma maneira de honrar a grande maioria dos fãs que sempre gostou do lado de lá. Saber que Bolivia e Lincoln se casaram, tiveram um filho e, agora, vivem felizes, é reconfortante. Encerra de uma maneira emocional a jornada dos dois controversos personagens, que passaram de odiados a amados pelo público. A conversa da nossa Olivia com Lee é perfeita por marcar esse momento. Ela faz questão de lembrá-lo que ele merece ser feliz e que de nada adiantaria ele ter permanecido no Lado A, pois o Expurgo aconteceria do mesmo jeito.

É claro que, em momento nenhum, isso tira o mérito dos dois no plano, mas é óbvio que, se necessário, o roteiro saberia muito bem trabalhar a questão do sequestro do Michael sem precisar recorrer ao lado vermelho. Vale mencionar também o excelente trabalho de maquiagem feito em Anna Torv e, especialmente, em Seth Gabel. Quando soube que os dois voltariam, tive medo de que não conseguissem ajustar isso de uma maneira satisfatória, mas bastou um olhar para os dois e isso foi embora. Até mesmo fios sutis de barba branca podiam ser vistos no Lincoln, ao passo que Bolivia, em muito, lembrou o visual de Nina Sharp. A pequena citação ao Walternativo foi uma boa saída, já que mostrar o personagem com 90 anos sem arranhar a harmonia dos elementos do episódio seria complicado.

Harmonia essa que perdurou durante os quase 90 minutos do series finale. A direção merece um destaque por conseguir criar todo o clima de tensão que o roteiro pedia, sempre usando enquadramentos fortes nos rostos dos personagens ou seguindo os mesmos apenas pelos passos, deixando a dúvida de onde estávamos e para onde chegaríamos.

O cuidado com os detalhes também é de aplaudir do pé, por trazer pequenas coisas, como a janela para o outro mundo que Walter tanto usou, a volta do Cortexiphan e Walter batendo no peito para afirmar que ele tinha criado aquilo, portanto era a maior autoridade possível, Gene presa no âmbar e, sobretudo, os vários Fringe events criados por Peter e Olivia no momento da invasão final, uma ode aos primeiros anos da série, passando por casos clássicos como as borboletas assassinas e o verme, o caso que considero mais nojento, até o prédio que estava contaminado por vírus, referendado nas máscaras usadas por Peter e Olivia naquele momento.

Outros pequenos “momentos” interessantes: o número do quarto que encerra a primeira parte ser exatamente 513, a numeração do series finale a seguir:

A mão que é símbolo da série feita com sangue:

O clima de angústia foi bem construído, especialmente no resgate de Michael, onde eu me peguei com medo de que Bolivia ou Lincoln terminassem morrendo de maneira trágica, jogados mais uma vez em uma situação da qual eles não tinham culpa. O mesmo vale para o Broyles. Imaginei que o tenente teria o mesmo destino da Nina, cometendo suicídio para impedir que o plano fosse descoberto. Fiquei feliz em ver que os roteiristas não tiveram os mesmos pensamentos sádicos e não mataram o personagem. Se, talvez, eu tivesse que fazer alguma crítica a essa temporada final (o que, de maneira geral, eu não tenho, já que as coisas boas abafaram completamente qualquer ressalva que eu poderia vir a ter) seria uma participação maior dos personagens secundários, que, durante esses 13 episódios, permaneceram quase sempre de escanteio, dando o suporte necessário a Peter, Olivia, Walter e Astrid.

Esta última que, inclusive, protagonizou, ao lado de Walter, uma das mais emocionantes sequências. Quando os dois se abraçam chorando e ela diz que não é o fim, qualquer birra inicial que a personagem possa ter causado some. Astrid surgiu pouco a pouco, conquistou seu lugar em Fringe com méritos e vai fazer falta. Talvez não tanta quanto o trio principal, mas vai ser no mínimo mais triste não tentar mais adivinhar de que o nome o Walter a chamaria na semana que vem. Asgard, Astro… ou Astrid, um nome lindo, como o próprio faz questão de citar, pra coroar a cena.

Falar de John Noble é chover no molhado? É. Mas me digam… Como escrever qualquer coisa sobre Fringe e, especialmente, sobre esses dois últimos episódios, sem aplaudir de pé o trabalho fantástico que esse homem fez? Noble se virou do avesso ao interpretar Walter. Poucas vezes vi tamanha entrega de um ator para um personagem e se fosse necessário escolher o grande nome de Fringe, seria ele, sem qualquer sombra de dúvida. Ao seu lado, Joshua Jackson, nessa temporada, em nada deveu. Fez valer a decisão dos roteiristas de colocar Peter no olho do furacão e deixar Olivia um pouco de escanteio (diferente das temporadas anteriores) e é um ator que também não precisa provar mais nada. Juntos, eles dividiram a melhor cena de A Enemy of Fate e, talvez, a melhor da série, que é o momento onde Peter vê a fita e descobre que o pai terá que se sacrificar para que o plano funcione e os Observadores sejam derrotados.

O “Você é minha coisa favorita, Peter.” entra pro hall das melhores e mais emocionantes frases, além de, em um jogo quase poético, resumir toda a série. Foi o amor desmedido de Walter por Peter que começou tudo. Rachou universos, criou uma guerra, resetou linhas do tempo e por aí vai…  Se Walter não tivesse atravessado para o outro lado em uma tentativa desenfreada de salvar uma outra versão de seu filho (que no fim das contas terminou sim sendo seu filho por direito) da morte, nada teria acontecido. Fringe não é maniqueísta, portanto não se faz necessário (e nem coerente) rotular mocinhos ou vilões, mas negar a culpa de Walter em tudo que aconteceu é, como dizem em bom português, tapar o sol com a peneira. Sendo assim, não é de todo injusto o sacrifício que ele sentia ser necessário fazer.

Acredito que a amarração de roteiro seja, provavelmente, a coisa que eu mais considere na hora de avaliar um final de temporada e de série e Fringe também deu show nesse aspecto. Talvez seja o calor da emoção, mas não me vem a cabeça, agora, nada que possa ter ficado em aberto ou mal explicado. O que faltava, estes dois episódios deram conta de explicar. Semana passada conhecemos a origem dos Observadores e, aqui, entendemos melhor o plano de Walter e Setembro, inclusive seus paradoxos (questionados por alguns) e variações. É claro que ainda existem algumas questões a serem levantadas, mas se o final não mexesse com nossa cabeça, não seria Fringe. Uma das coisas que mais vi serem questionadas diz respeito a sobrevivência do Peter no lago sem Setembro, também apagado no paradoxo. São várias as saídas, mas a que faz mais sentido é quando consideramos que estamos na linha do tempo resetada e, nesta, Peter não existiu, REALMENTE morreu no lago (como foi mostrado na 4ª temporada) e regressou pelo amor da Olivia e do Walter. Isso é apenas um questionamento que li por aí, mas vi vários outros (inclusive alguns que até eu mesmo me fiz), mas que podem receber várias respostas e, honestamente, não fazem nem arranhão no saldo final da série.

Três coisas que também me chamaram atenção: A construção da batalha final, angustiante, bem conduzida e emocionante (as tomadas de Peter e Olivia lutando foram muitos boas), a participação de Donald/Setembro, finalmente ativo e a volta dos poderes de Olivia. Com certeza ela lavou a alma de muita gente quando apagou as luzes da cidade com o pensamento e esmagou o Windmark com aquele carro. Foi muito bacana ver, mesmo que por poucos momentos, a volta dos poderes dela, tão importantes durante as quatro primeiras temporadas. Imaginei que o Michael fosse ter um destaque maior, mas dentro do contexto dos dois episódios, sua participação também foi extremamente satisfatória e coerente.

“It’s not about fate, yours or mine. It’s about changing fate. It’s about hope and protecting our children.”

A presença do Michael reforça o argumento de Fringe, o tão falado amor, neste caso em questão, o amor de pai e filho, talvez o tema central da história e mais importante que qualquer elemento de ficção científica. Foi esse amor que levou Donald a decidir se sacrificar no lugar de Walter para que, assim, o cientista pudesse viver em paz com o Peter e foi esse mesmo amor que fez com que Walter, ao ver Donald morto, puxasse Michael pela mão e atravessasse o portal rumo a 2167, criando uma nova linha temporal e resetando a história para o momento da invasão. Por mais que o plano traga ‘n’ questionamentos, pra mim a situação é clara: Walter e Michael desaparecem apenas a partir de 2015, no momento da invasão. Não é como se ele nunca tivesse existido como o Peter após o reset, ele estava lá, viveu tudo com o filho, Olivia, Astrid, Etta, mas, em 2015, desapareceu, sem deixar qualquer rastro, já que a natureza ‘precisa encontrar um equilíbrio’, como ouvimos desde o começo da série, quando a mitologia dos universos alternativos ainda estava sendo construída.

É triste, é cruel, mas é poético. Tudo começou e terminou por um gesto do Walter. A cena do Walter caminhando para o portal com Michael e ouvindo um “I love you, dad” mudo dos lábios de Peter é, talvez, a sequência mais dolorosa da série.

Contudo, venhamos e convenhamos, não seria justo que o Peter fosse apagado DE NOVO. Não seria justo pra ele, não seria justo pra Olivia, não seria justo pro próprio Walter, que perderia o filho uma 3ª vez só naquela linha do tempo. Acredito, de verdade, que esta foi a melhor solução que o roteiro poderia ter encontrado.

A tulipa branca que Peter recebe na cena final vem como uma prova do tributo aos fãs que estes episódios finais foram. Mais do que fechar com dignidade a história, os produtores se preocuparam, a todo o momento, em causar no público nostalgia e um sentimento de que, sim, valeu a pena. O final pode ter sido corrido? Talvez. Mas, na verdade, talvez a própria Fringe tenha sido corrida. De sete/oito temporadas planejadas, conseguiram filmar cinco, sendo uma de apenas 13 episódios. Uma tarefa de rei. É como se a frase do Walter, do “tempo que roubamos”, se aplicasse perfeitamente aqui. Com os #SaveFringe, as petições e tudo o mais, roubamos um tempo com Fringe. O presidente da FOX sempre deixou claro, desde a 3ª temporada, que a série se mantinha no ar por causa de seus fãs.

Não cabe, aqui, entrar em qualquer mérito sobre audiência, porque Fringe foi muito – mas MUITO – mais do que isso. Com o ciclo encerrado, digo sem medo que é uma das séries da minha vida, minha segunda ficção científica favorita (atrás apenas de Battlestar Galactica) e vai deixar um vazio gigantesco. Ao mesmo tempo, fico extremamente feliz de vê-la acabar bem, no auge. Foi uma das séries que mais evoluiu, passando de um procedural simples a uma história complexa e inteligente e fico orgulhoso de ter acompanho todo esse crescimento.

Me perguntem hoje porque não abandonei Fringe na primeira temporada, quando a mitologia ainda estava sendo construída e tudo parecia sem sentido, e eu não saberia dizer a resposta. O que eu posso dizer de certeza? Valeu muito a pena.

 …but we did. And I wouldn’t change it for the world.”

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PS. Series finale, quase 4 da madrugada, talvez as ideias ainda estejam confusas, não sei se consegui falar de tudo que queria no texto. De qualquer forma, muito obrigado pra todo mundo que acompanhou essa temporada e a passada de Fringe comigo aqui no blog. E, se esqueci alguma coisa, pode soltar o verbo nos comentários!


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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