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Hit & Miss – 1×01 Episode 01, 1×02 Episode 02 e 1×03 Episode 03

Por: em 9 de junho de 2012

Hit & Miss – 1×01 Episode 01, 1×02 Episode 02 e 1×03 Episode 03

Por: em

Longe das telas desde o fim de Big Love em 2011, Chloë Sevigny estreia Hit & Miss, uma série com uma história nada comum e que, sinceramente, não poderia ser protagonizada por outra atriz. Na verdade, eu comecei a ver Hit & Miss porque, no “ritual de iniciação” dos novos colaboradores do site, 11 de 10 pessoas falaram que Big Love é uma série boa, e 12 de 11 falaram que amam a Chloë. Fui dar minha conferida pra ver qual é a onda dela. Amei, de cara. E isso raramente acontece.

Hit & Miss é uma série que eu classificaria como adulta, mas não restringindo uma faixa etária ou tema. Adulta no sentido de cérebro. Não tem como você entender por inteira e captar o sentido se não tiver a mente, no mínimo, aberta.

Na primeira cena do 1×01, vemos Mia (Chloë) em um carro dentro de um estacionamento. Ela sai do automóvel e mata um homem. Até aí, a série seria facilmente confundida com qualquer início de qualquer seriado policial investigativo, com um começo intrigante e o desenrolar do episódio sobre a cena inicial. Mas, o que marca mesmo (e o que faz lembrar que a série não se trata de assassinatos) é o evento seguinte: ela volta ao carro, baixa o espelho e passa batom vermelho nos lábios. Isso é algo que a série recorre o tempo todo. Mia é uma transexual, antes chamada Ryan, que trabalha como assassina para Eddie, um homem que é possívelmente ligado a algum tipo de tráfico ou prática ilegal. Ela o encontra semanalmente em um bar, onde recebe as instruções e o respectivo salário. A frieza com que Mia comete os crimes relembra nela o peso que  carrega em sua consciência por ainda ser um homem, apesar das circustâncias, e ela se sente visivelmente atordoada quando tem de cometê-los, como se, a cada assassinato, ela lembrasse do que realmente é. Ou, como se a mulher que deseja ser fosse incapaz de matar alguém. Talvez, por isso, seja tão importante para ela passar o batom (sempre vermelho forte) depois da morte.

Ainda no primeiro episódio, Mia recebe uma carta de Wendy, mulher com quem teve relações no passado (ainda homem), dizendo que a mulher está morrendo e que teve, com Mia, um filho, que hoje tem 11 anos de idade. Atordoada, ela se desloca até o interior, onde está localizada a casa, e faz o primeiro contato com ele, chamado Ryan, encontrando também os outros filhos de sua ex-namorada, que ela já conhecera anteriormente. Lá, recebe a notícia de que Wendy, na verdade, já morreu. No fundo, a confusão de sentimentos entre ver o filho e a vergonha interna por agora ser mulher perturba Mia ainda mais. Ela se vê em um cenário desagradável quando Riley, filha de Wendy, não facilita o contato dela com sua “nova” família. Ela não desiste, apesar da situação totalmente difícil. Contudo, um  problema se resolve facilmente: Mia parece encarar de frente a chegada de um possível filho em sua vida, o que, com certeza, não aconteceria jamais em seus planos. Ela é obrigada a conhecer Ryan ao ver as péssimas condições em que vive com seus outros três irmãos (Penny, a caçula, Levi, o do meio e Riley). O desconforto é extremamente notável na primeira explicação de Mia sobre sua vida atual. Ela, logicamente, não cita seu trabalho, mas tem dificuldade em explicar sua transexualidade. A passagem de homem para mulher ainda é algo que nem ela aceita tão bem, pelo fato de ainda não ter feito a cirurgia.

Em um momento, isso fica claro: Riley rouba a caixinha do remédio hormonal de Mia. O desespero, os olhos lacrimejando de leve e o clima demonstram quão difícil é para uma pessoa nessa situação lidar com algo assim. A dificuldade de Mia em entender porque precisa disso para ser uma mulher, apesar de tudo. No segundo episódio, Chloë administra uma cena com uma grandiosa atuação: Mia, em frente ao espelho, nua, com um nariz de Pinóquio, batendo no seu órgão genital. Essa cena expõe vários sentimentos guardados dentro dela que são exalados, a começar pela angústia por ser uma mulher presa em um corpo de homem. O nariz, representando a mentira em que ela vive sem querer, enganando os outros pelo seu físico. E também, a culpa pela raiva:  o dinheiro que ela guardou e guarda para sua operação, agora, serão destinados à uma nova prioridade. Talvez, isso mostre algo como um déjà vu, expondo que, certamente, Mia acaba tendo que sempre adiar o grande momento de sua vida.

Além do drama da família, Riley tem um caso anônimo com John, vilão da trama e dono da fazenda onde a família vive. A atuação de Karla Crome é algo que chama atenção, uma vez que a atriz é jovem e ainda pouco conhecida. Até os irmãos mais novos tem seus grandes momentos, com trocas significativas de olhares e, assim como Chloë e Karla, perfeita demonstração de psicológico atordoado. No fim do episódio, ela faz contato com Ben, um cara que a protegeu de John num bar do primeiro episódio. O clima flui, mostrando sempre uma Mia travada pelo segredo que guarda. A cada momento que a remete de sua transexualidade, os olhos de Mia remetem a um desconforto profundo, uma vontade forte de liberdade. No terceiro episódio, Riley conta a John que está grávida. Após uma discussão, em casa, ela vê em Mia uma imagem de mãe que estava extinta, deixando o braço a torcer.  Na terceira morte do seriado, Mia enfrenta complicações: após o assassinato, ela é atropelada e para em um hospital. Mais uma vez a atuação chama atenção: apavorada por ser descoberta pela polícia, ela foge sob o efeito da anestesia, volta para a fazenda dopada e é salva por Ben. Lá, ela conta a ele que é uma transexual não-operada.

A família aos poucos, cheia de dúvidas e perguntas, vai vendo Mia como uma esperança para a vida dura que eles aguentariam sem a mãe por perto. As crianças, ainda novas, aceitam Mia mais rapidamente, e ela, apesar da dificuldade, não desiste em nenhum momento. O forte psicológico é curado com a busca de um sentimento materno, que nasceu dentro dela no momento em que viu o filho pela primeira vez. A mistura forma algo interessante: Uma transexual assassina, agora mãe, procurando por si mesma e por amor.

Talvez a série seja gratificada apenas pelo excelente trabalho de Chloë Sevigny, apesar do incrível e enxuto roteiro. O negócio é ver. E, na medida do possível, viciar!

Hit & Miss é uma minissérie de 6 episódios. Vai ao ar segundas na Sky Atlantic, do Reino Unido.


Fabio Ghisi

Florianópolis/SC

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: Glee

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